Sínodo para o Médio Oriente: Igreja lembra drama dos cristãos iraquianos

Comunidade caldeia, referência histórica na região, reza na mesma língua de Jesus, o aramaico

O Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente, que vai decorrer de 10 a 24 de Outubro, no Vaticano, quer lembrar à comunidade internacional o drama dos cristãos no Iraque, “a parte mais pequena e mais fraca da sociedade”.

A comunidade caldeia reza na mesma língua em que Jesus falava, o aramaico, e sobrevive há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território. Vivem no país antes de Maomé e falam a língua local, mas a recente hostilidade de grupos muçulmanos armados desencadeada com a invasão norte-americana já reduziu o número de cristãos para cerca de metade.

Os cristãos são alvo dos sunitas e dos xiitas, vítimas de atentados, de sequestros, de pressão para que abandonem os seus lares e da cobrança ilegal do tradicional imposto que os governantes muçulmanos arrecadavam aos seus súbditos não-muçulmanos.

Estes cristãos representam umas das mais antigas comunidades do Oriente, remontando ao século II. Acredita-se que o Apóstolo Tomé, antes de seguir o seu caminho até à Índia, terá deixado na região dois discípulos, Mar Addai e Mar Mari.

Da sua pregação nasceu uma Igreja que, nos primeiros séculos do cristianismo, demonstrou uma enorme vitalidade e se espalhou nas regiões que hoje são a Síria, o Irão e o Iraque. As raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros e conventos nos séculos V e VI.

Esta Igreja, chamada Igreja Assíria do Oriente, obteve a autonomia no concílio de Markbata, em 492, com a possibilidade de eleger um Patriarca com o título de “Católico”.

O fulgor inicial foi-se desvanecendo e já no século XV confronta-se com uma grave crise, originada por uma sucessão hereditária de Patriarcas, como se de uma monarquia se tratasse.

A reacção a este estado de coisas levou a que um grupo de Bispos Sírios se empenhasse na recuperação da tradição monástica oriental, elegendo o monge Yuhannan Sulaka como seu Patriarca e enviando-o a Roma para pedir o reconhecimento do Papa.

Foi assim que, em 1553, o Papa Júlio III nomeou o “Patriarca dos Caldeus” e deu origem, oficialmente, à Igreja caldeia. Durante mais de 200 anos existiram tensões nesta zona entre as comunidades a favor ou contra o reconhecimento da universalidade da Igreja de Roma e a situação só estabilizou quando em 1830 o Papa Pio VIII nomeou o “Patriarca da Babilónia dos Caldeus” como chefe de todos os católicos caldeus.

A sede deste Patriarcado era Mossul, no norte do Iraque, e seria transferida para Bagdad em 1950, após a II Guerra Mundial.

O rito Caldeu é um dos principais ritos do cristianismo oriental e desenvolveu-se entre os séculos IV e VII, antes da conquista árabe. A denominação de “caldeu” prevalece no Ocidente desde o séc. XVII, embora os habitantes da região prefiram a designação “siro-oriental”.

As celebrações conservam o uso do aramaico e possuem gestos, espaços e ritmos muito especiais, que remontam ao tempo dos primeiros apóstolos.

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