Jubileu das Equipas Sinodais ouviu testemunhos dos cinco continentes sobre implementação das indicações da Assembleia 2021-2024

Cidade do Vaticano, 24 out 2025 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que o processo sinodal que decorreu entre 2021 e 2024, a nível global, gerou “resistências e falta de compreensão” que exigem respostas, para evitar uma “rutura” na Igreja.
“Em vez de algumas pessoas correrem à frente e deixarem muitas outras para trás, o que poderia causar mesmo uma rutura na experiência eclesial, precisamos de procurar maneiras, por vezes muito concretas, de compreender o que está a acontecer em cada lugar, quais são as resistências ou de onde vêm, o que podemos fazer para incentivar cada vez mais a experiência de comunhão nesta Igreja, que é sinodal”, disse Leão XIV, na abertura do Jubileu das Equipas Sinodais, no Vaticano, que reúne mais de 2 mil pessoas, no Auditório Paulo VI.
A intervenção, em resposta a uma questão dos participantes que o acompanharam na mesa da presidência, alertou para a necessidade de uma formação sólida a “todos os níveis”, desde escolas e seminários até programas de formação de adultos, como condição para o caminho sinodal.
“Sem a formação adequada haverá resistências e falta de compreensão”, afirmou o pontífice, sublinhando que “nem todos correm à mesma velocidade” e que é preciso “ser pacientes uns com os outros”.
Leão XIV defendeu uma atenção às “realidades concretas” e indicou o exemplo dos Estados Unidos da América, onde “muitas estruturas já existentes têm grande potencial para serem sinodais”, convidando à construção de espaços mais “inclusivos”, com participação de leigos e clérigos, homens e mulheres, religiosos e religiosas.
“Acredito que a Igreja tem uma voz e precisamos ser corajosos em levantar a nossa voz para mudar o mundo, para torná-lo um lugar melhor”, acrescentou.
| A questão apresentada pela representante da Europa abordou o papel das mulheres nas comunidades católicas, tendo o Papa evocado as suas experiências pessoais para evidenciar o contributo feminino, que ainda enfrenta “obstáculos culturais”.
“Deixando de lado os temas mais complexos que fazem parte de um grupo de estudo que está a ser apresentado, considero que o problema não é a falta de oportunidades, mas sim a existência de obstáculos culturais, e isso deve ser reconhecido, porque nem todos os bispos ou padres desejam permitir que as mulheres exerçam o que poderia muito bem ser o seu papel”, lamentou. Leão XIV alertou que, em várias culturas, persiste a desigualdade de direitos e mulheres continuam a ser vistas como “cidadãs de segunda classe”. O caminho sinodal, acrescentou, exige enfrentar esses desafios, promovendo uma cultura de verdadeira respeito e responsabilidade: “A Igreja deve ser uma força de conversão e transformação das culturas segundo os valores do Evangelho”. “Há muito a ser feito, certamente. Creio que a Igreja já oferece espaços para começar, continuar este caminho e também aqui devemos ser corajosos para acompanhar situações e realidades, porque aos poucos talvez se possam introduzir mudanças”, apontou. |
Depois da sessão de abertura, o Papa chegou ao Auditório Paulo VI para um encontro-diálogo, com representantes de sete regiões eclesiais de todo o mundo, que apresentaram desafios sobre a implementação da sinodalidade,
Nas suas respostas, em inglês, espanhol e italiano, Leão XIV assumiu a necessidade de “crescimento” dos vários agrupamentos de Igrejas – das conferências episcopais nacionais às estruturas continentais – como expressão da comunhão e instrumento concreto de resposta aos desafios contemporâneos, incluindo as alterações climáticas
O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, publicado em 2024, apelava ao desenvolvimento da estrutura e competências das Conferências Episcopais, a nível nacional e continental.
“Espero e desejo que os diferentes agrupamentos de Igrejas possam continuar a crescer como expressões de comunhão na Igreja, utilizando os dons que todos nós recebemos através deste exercício, se assim se pode dizer, desta expressão, desta vida de sinodalidade”, indicou hoje o Papa.
Quando ouvimos o grito urgente de pessoas em diferentes partes do mundo, seja por causa da pobreza, da injustiça, das alterações climáticas ou por uma série de outras causas, percebemos que não estamos apenas a refletir sobre questões teóricas e que é necessária uma resposta urgente.”

Diante de representantes de vários continentes, Leão XIV apontou a “missão” como palavra central do caminho sinodal e destacou o contributo das comunidades africanas, que “têm muito a oferecer”.
O Papa considerou “muito importante que a Igreja se aproxime das pessoas, dos jovens e das famílias, para ser um instrumento de construção da paz”.
“Temos de ser muito claros: não estamos à procura de um modelo uniforme, e a sinodalidade não virá com um modelo”, observou, precisando que se trata “de uma conversão a um espírito de ser Igreja, de ser missionário e de construir, nesse sentido, a família de Deus”.
Noutro ponto da conversa, Leão XIV afirmou que “se há um lugar no mundo que realmente precisa de sinais de esperança, é o Médio Oriente”, destacando o “dom do entusiasmo” e a fé dos cristãos da região e da diáspora como sinais “da presença do Espírito Santo”.
A intervenção elogiou a “força, a resistência e a coragem” daqueles que mantêm viva a fé “apesar de terem perdido tudo”, e apelou à unidade da Igreja “como autêntico sinal de esperança e expressão real da caridade cristã”.
Antigo missionário e bispo no Peru, o Papa agradeceu o testemunho da América Latina no caminho sinodal, reconhecendo “o dom da fé, o entusiasmo e o espírito de comunhão” que caracterizam as suas comunidades e “ensinam a seguir um caminho autenticamente sinodal”.

Respondendo à pergunta sobre como o processo sinodal pode inspirar sociedades mais justas, Leão XIV deixou um desafio: “Poucas vezes na vida me senti inspirado por um processo, sinto-me inspirado pelas pessoas que vivem com entusiasmo a fé”.
O Papa agradeceu às comunidades católicas na Ásia pelo esforço na sinodalidade, apesar dos desafios que enfrentam, elogiando o “sentido de mistério e de compreensão do divino” nas várias religiões que coexistem no continente.
A resposta sublinhou a importância do diálogo e da partilha de recursos para promover justiça e igualdade, dentro da Igreja Católica.
“As pessoas da Ásia podem oferecer muita esperança, e espero que todos juntos sejamos um sinal de esperança para a Igreja na Ásia”, concluiu, encerrando uma sessão de várias horas.
O Jubileu das Equipas Sinodais celebra-se até domingo, reunindo participantes dos cinco continentes para preparar a fase de implementação das orientações finais da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (2021-2024).
A delegação portuguesa inclui 27 representantes, entre membros da equipa sinodal da Conferência Episcopal e delegados de nove dioceses.
O Jubileu integra encontros, workshops, seminários e uma peregrinação pela Porta Santa, culminando com uma vigília mariana e a Missa presidida pelo Papa, este domingo, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), na Basílica de São Pedro.
OC
