Após fim da Assembleia Sinodal, no Vaticano, e aprovação do documento final promulgado pelo Papa, membro do Movimento Economia de Francisco convida a integrar «diversidade da Igreja» e diz que o caminho consequente é responsabilidade de todos
Lisboa, 04 nov 2024 (Ecclesia) – Rita Sacramento Monteiro diz que o processo sinodal é o “novo modo de ser Igreja”, que este caminho “compromete e responsabiliza” a todos, e mesmo que seja “longo”, é possível construir com “diálogo e escuta”.
“A Igreja é universal e diversa, (há que) aceitar tensões e conflitos mas vê-los como possivelmente uma coisa boa, se forem atravessados em conjunto, a partir do diálogo e da construção comum. Vemos que fora da Igreja este exercício de sermos juntos está tão difícil, está tão polarizado, está tão marcado pela guerra, pelo conflito e pela tensão; que bom e que importante é que a Igreja, nos tempos de hoje, possa ensaiar um modo de ser comunidade em que se ouve, em que se escuta, em que aceita que temos opiniões diferentes; não é todos vermos igual – isso nunca foi a marca da Igreja”, explica o membro do Movimento Internacional Economia de Francisco à Agência ECCLESIA.
A segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo terminou no Vaticano, com a aprovação do documento final, reconhecido pelo Papa Francisco como documento pontifício.
“O Papa assumiu aquele documento como seu e, ao fazer este gesto, responsabiliza-nos a todos, porque é a Igreja que assume aquele documento como um documento importante agora para o caminho, como uma bússola, um referencial. São palavras que agora têm que ser algumas aprofundadas, outras traduzidas nas Igrejas locais. Este gesto reforça um modo de ser Igreja em conjunto, menos hierárquica, mais horizontal, uma Igreja onde o exercício do poder e da autoridade é mais partilhado, é mais transparente e é mais comunicado”, indica.
Rita Sacramento Monteiro reconhece a responsabilidade de cada pessoa “aprofundar e traduzir” esta forma de “ser Igreja”, e diz que mesmo com “muitos ensaios e experiências”, “não deve haver medo de arriscar”.
“Tem de haver margem para se responder localmente e ensaiar e o povo de Deus participar de acordo com aquela que é a realidade dos sítios e, nessa diversidade, manter-se a comunhão. Não pode haver medo de arriscar estes ensaios locais e não se pode querer uma Igreja homogénea mas artificial, senão corremos o risco do Evangelho não ter tradução, não aterrar, não se enraizar, não ser significante na vida real das pessoas concretas em lugares locais concretos”, explica.
Rita Sacramento Monteiro, que integra o Conselho Editorial do Ponto SJ, da Companhia de Jesus, recorda que a “tradução do Evangelho” é feita por cada pessoa que “deve assumir o seu lugar nas comunidades”, desenvolvendo “não um exercício individual de forma fechada ou isolada”, mas de forma partilhada.
“A Igreja é uma realidade incarnada nas realidades locais e, portanto, tem que estar inculturada, tem que dialogar com a cultura e com a realidade, com as pessoas reais, as circunstâncias daquelas comunidades. Há realidades onde as mulheres já hoje exercem uma espécie de diaconado e temos outras realidades onde diferentes ministérios são assumidos, onde se começam a ensaiar o que podem ser estes lugares que estão, agora, em discernimento na Igreja. E quem diz mulheres diz outros leigos, há outras experiências eclesiais”, reconhece.
Rita Sacramento Monteiro pede o reconhecimento de experiências em outras geografias e a reflexão a partir de realidades desconhecidas, indicando que a valorização das mulheres na Igreja “deve estar ligado” à participação dos leigos e que esta deve caminhar para valorizar a mulher tal como a sociedade o tem feito, e convida a olhar comunidades onde não há presença de sacerdotes regularmente, abrindo caminho para noções de “liderança e poder”.
“Jesus foi, a meu ver, o primeiro feminista porque num tempo em que a mulher tinha um lugar completamente diferente e estava completamente isolada destes processos, Jesus fala, dirige-se, entra em relação e a Igreja, na sua doutrina, vê homem e mulher iguais, como pares. Portanto, nós temos é que traduzir isso agora para todos os processos da Igreja, esta paridade e esta igualdade. Cada um exerce, cada um de nós exercerá o poder e a autoridade de maneira diferente, de acordo com os seus carismas e talentos. Mas tem que haver esta comunicação transparente e esta partilha, como uma família”, convida.
O membro do Movimento Economia de Francisco aponta ainda, numa entrevista emitida hoje no programa ECCLESIA, na RTP2, a importância da transparência e responsabilidade, “nomeadamente nas questões económicas”, afirmando que a Igreja “tem que prestar contas”, aos “fiéis e à sociedade”, porque, diz, “o que for mais transparente, pode ser discutido, pensado e mais participado”.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorreu desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
PR/LS