Docente da Faculdade de Teologia da UCP sublinha importância de «servir a ação do Espírito, em vez de procurar respostas intelectuais»
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Roma, 24 out 2023 (Ecclesia) – Teresa Messias, docente da Faculdade de Teologia da UCP, disse hoje à Agência ECCLESIA que a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, a decorrer entre 4 e 29 de outubro, tem ajudado a sublinhar a dimensão da participação e da escuta das comunidades, na Igreja.
“Estamos aqui a redescobrir uma forma de ser Igreja, neste momento atual de complexidade, que é muito fecunda, mas que também é exigente”, indicou a professora, doutorada em Teologia Espiritual na Universidade Pontifícia de Comillas, Madrid.
“Isto vai requerer de nós ampla formação e também profunda oração. As duas coisas são indissociáveis”, acrescentou.
A teóloga portuguesa admite que se está perante um processo “lento e difícil”, mas entende que o mesmo é necessário.
“É o único processo para aceitarmos uma Igreja conduzida pelo Espírito e não sermos nós a impor certas visões e impor certas opiniões”, sustentou.
Este Sínodo tem sido, tanto quanto tenho podido acompanhar, uma graça que nos ajudou a compreender o papel do ‘sensus fidei’, da escuta recíproca, de servir a ação do Espírito, em vez de procurarmos respostas intelectuais e dadas pela nossa razão à partida.
Questionada sobre a insistência do Papa em distanciar a assembleia sinodal de um “parlamento”, Teresa Messias realça que a Igreja se entende como “presença de Deus no mundo”, pelo que qualquer “poder” viria do mesmo e não de si própria.
“Isso não significa, muito pelo contrário, que não haja processos alargados e comunitários de escuta e que cada um não possa vir a ser ouvido, naquilo que lhe parecem os sinais que o Espírito Santo está a sugerir para a mudança da Igreja”, acrescentou.
No processo sinodal, indica a docente da UCP, a dimensão central é “escutar Deus”.
“Não sou eu que decido por mim mesmo, sou eu pondo-me à escuta do Espírito. Então, isto desloca a questão da minha visão egocêntrica dum poder reduzido à minha identidade e à minha personalidade para eu, como instrumento da linguagem, do espírito e da ação do Espírito”, apontou.
Dizer que a Igreja não é uma democracia não significa a anulação dos processos de escuta alargada e da participação de todos. Pelo contrário, isso significa que, se não escutarmos a comunidade, corremos o risco de ser infiéis ao Espírito Santo, porque no ‘sensus fidei’ da Igreja passa justamente a ação que o Espírito está a comunicar”.
A teóloga portuguesa falou, em Roma, aos missionários da diáspora da língua portuguesa reunidos de segunda a sexta-feira para refletir sobre o tema ‘A diversidade de rostos da Igreja’.
“Uma Igreja, uma diversidade de rostos: os fundamentos da diversidade eclesial”; “Diversidade cultural, desafios e oportunidades para a Igreja no contexto atual” e “Que novos rostos para uma Igreja inculturada no século XXI?” foram os temas das conferências orientadas por Teresa Messias.
A professora universitária indicou à Agência ECCLESIA que “a Igreja pode ter rostos diferentes em cada local, em cada contexto cultural onde ela se insere”.
“É um trabalho muito complexo, que exige não só conhecimentos teóricos sobre a natureza da Igreja e sobre as comunidades com que nós lidamos, mas também uma parte prática que é bastante exigente, a parte da escuta, do discernimento, do aspeto tentativo, de ir percebendo por tentativas se nós a conseguir compreender a linguagem da cultura onde estamos”, realçou.
OC