Sínodo: Cardeal Grech pede «coragem para permanecer quando o consenso parece distante»

Secretário-geral inaugurou encontro jubilar, com mais de 2 mil participantes

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 24 out 2025 (Ecclesia) – O cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, abriu hoje o Jubileu das Equipas Sinodais, no Vaticano, sublinhando a importância de insistir na escuta e no diálogo, mesmo perante situações de tensão.

“O amor é uma decisão de permanecer presente, a recusa de se afastar quando surgem tensões, a disponibilidade para escutar quando as vozes colidem e a coragem para permanecer quando o consenso parece distante”, referiu, na abertura do evento jubilar, que reúne mais de 2 mil pessoas, no Auditório Paulo VI.

O colaborador do Papa destacou que o processo sinodal em curso tem como referência última o “amor” pela Igreja.

“Só o amor nos faz permanecer à mesa quando o entendimento falha”, insistiu.

Na viagem sinodal, isto significa começar pela escuta radical de todo o povo de Deus, dos clamores dos marginalizados, da sabedoria enraizada na tradição. A fé ancora-nos na verdade, e essa é o único solo onde pode crescer a transformação”.

O secretário-geral do Sínodo dos Bispos evocou o percurso percorrido entre 201 e 2024, por iniciativa de Francisco, na XVI Assembleia Geral Ordinária, centrada no tema da sinodalidade.

“Fizemos apenas o que era nosso dever. O resto pertence a Deus, e o futuro é dele. Esperamos, não porque vemos o resultado, mas porque conhecemos aquele que detém o futuro. Esta é a chave para compreender o processo sinodal”, acrescentou.

O Jubileu das Equipas Sinodais celebra-se até domingo, reunindo participantes dos cinco continentes para preparar a fase de implementação das orientações finais da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.

A sessão de abertura teve intervenções do cardeal Grzegorz Rys, arcebispo de Lodz (Polónia); do padre e teólogo português Miguel de Salis Amaral, da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma; e da brasileira Mariana Aparecida Venâncio, da equipa sinodal da Conferência Nacional de Bispos do Brasil.

Para a responsável brasileira, a sinodalidade é um “modo de ser e agir” da Igreja no mundo e constitui “profecia social” diante dos desafios contemporâneos.

“A sinodalidade não pode ser somente um modelo de organização de estruturas, mas deve ser compreendida como a forma pela qual a Igreja vive e age no mundo”,  declarou Mariana Venâncio.

A conferencista advertiu ainda para as “polarizações” dentro da Igreja e na sociedade, que “fazem reviver ditaduras e guerras”, acrescentando que o diálogo sinodal “permite superar esse fechamento em si e adotar uma postura de escuta, reconciliação e corresponsabilidade”.

O padre Miguel de Salis Amaral destacou, por sua vez, que “a sinodalidade tem na sua essência as relações dentro da Igreja”, que são “o fundamento e a expressão concreta da corresponsabilidade na missão”.

O especialista alertou para o risco de reduzir a conversão das relações a um apelo genérico ao afeto, o que “esvaziaria o real impacto da sinodalidade”.

Expliando que a Igreja é “um mistério de comunhão humana e divina” e que as relações sacramentais do batismo e da ordem geram uma estrutura relacional que “transcende as pessoas e gera formas institucionais”, o docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz sublinhou que o relacionamento entre o “sacerdócio comum” dos fiéis e o “sacerdócio ministerial” dos ordenados deve ser visto como “um serviço mútuo”, refletindo o “sacerdócio único de Cristo”.

O sacerdote português concluiu que a sinodalidade “não é mera reforma organizativa, mas um estilo de presença e ação eclesial”, um caminho profético perante “um mundo polarizado e dividido”.

Já o cardeal Grzegorz Rys assinalou que “existem muitas tensões, não propriamente provocadas, mas sim reveladas pela sinodalidade”, sustentando que “a verdadeira unidade significa harmonia na diversidade” e não “uniformidade imposta pelo espírito de exclusivismo”.

A intervenção criticou a tendência de uma Igreja centrada em si mesma, afirmando que “é mais fácil construir uma Igreja de estruturas sofisticadas do que uma Igreja dos pobres para os pobres”, sublinhando que estas tensões só se superam “no caminho da conversão verdadeira, não apenas de reforma”.

O programa prossegue com a presença do Papa Leão XIV para um encontro-diálogo: “representantes de sete regiões eclesiais apresentarão os desafios da implementação da sinodalidade, seguindo-se um diálogo direto com o Santo Padre”.

A delegação portuguesa inclui 27 representantes, entre membros da equipa sinodal da Conferência Episcopal e delegados de nove dioceses.

O Jubileu integra encontros, workshops, seminários e uma peregrinação pela Porta Santa, culminando com uma vigília mariana e a Missa presidida pelo Papa, este domingo, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), na Basílica de São Pedro.

O itinerário sinodal prevê, até 2028, percursos de implementação e assembleias de avaliação que vão levar a uma inédita Assembleia Eclesial.

OC

Igreja: Vaticano assinala Jubileu das Equipas Sinodais, um ano depois do final da XIV Assembleia Geral Ordinária

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