Sínodo: Cardeais deixam impressões sobre debate aberto em temas delicados

Responsáveis admitem divergências mas sublinham importância de deixar mensagem de esperança às famílias

Cidade do Vaticano, 10 out 2014 (Ecclesia) – Os trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a família, que decorrem no Vaticano, foram vividos nestes primeiros dias num clima de debate aberto, mesmo em questões que dividem opiniões, referem vários cardeais que participam na assembleia.

O cardeal Raymond Leo Burke, prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e uma das vozes mais críticas em relação a propostas de mudança relativas aos divorciados recasados ou aos casos de nulidade matrimonial, refere à Rádio Vaticano que estes dias foram de “trabalho muito intenso para enfrentar um grande número de temas, talvez demasiados”.

“Esperamos chegar a esclarecimentos, obviamente baseados sobre o ensinamento perene da Igreja, fundamento para uma pastoral sã”, acrescentou.

O cardeal norte-americano entende que um Sínodo sobre o matrimónio e a família “deve, acima de tudo, dar uma mensagem positiva” à Igreja e à sociedade.

Para o prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica não seria necessário nem positivo agilizar os processos de nulidade matrimonial, por se tratar de um assunto “muito importante”.

“O processo tem todos os elementos necessários para chegar à verdade com certeza moral e quando há um pessoal bem preparado, este processo não dura demasiado e não é contrário à pastoral”, precisou.

Alguns dos participantes no Sínodo dos Bispos pediram que o recurso de uma decisão em primeira instância, sobre estes casos de nulidade, deixe de ser obrigatório e que haja mais leigos, em particular mulheres, nos tribunais eclesiásticos.

O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, afirmou à Rádio Vaticano que o Sínodo tem sido vivido num “clima de grande fraternidade e de grande liberdade”.

O responsável deixa uma mensagem às famílias em dificuldade, afirmando que “este não é o momento de perder a esperança, este é o momento de entender que a Igreja e o Papa estão próximos”.

O cardeal Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila, nas Filipinas, declarou que é preciso “ir ao encontro das pessoas, especialmente das famílias, nas suas condições históricas concretas”.

Em relação à discussão sobre ‘situações pastorais difíceis’, o cardeal filipino, um dos três presidentes-delegados da assembleia extraordinária, sustenta que nenhuma solução proposta pela Igreja pode esquecer que “não há verdade sem caridade e não há caridade sem verdade”.

Já o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, aborda um dos temas mais mediatizados do debate sinodal para sublinhar que “os divorciados recasados continuam a ser membros da Igreja” e não se devem afastar dela “pelo facto de não poderem receber a Comunhão”.

O padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, explicou aos jornalistas que durante as sessões de trabalho houve duas posições sobre o acesso dos divorciados em segunda união aos sacramentos.

"Há uma linha que fala com muita decisão do anúncio do Evangelho do matrimónio, o qual exige a afirmação de que não é possível a admissão aos Sacramentos de divorciados recasados, se tiver havido um enlace matrimonial válido”, explicou.

“Há outra linha que, não negando de modo algum a indissolubilidade do matrimónio na proposta do Senhor Jesus, quer ver as situações vividas na chave da misericórdia”, acrescentou o diretor da sala de imprensa da Santa Sé.

Os trabalhos do sínodo prosseguem agora em grupos linguísticos denominados ‘círculos menores’ e na segunda-feira vai ser publicado o relatório que sintetiza a primeira semana de debates com toda a assembleia.

OC

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Agência ECCLESIA

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