Sínodo: Cabo Verde leva voz de «Igreja jovem», numa região «constantemente em crise», indica D. Ildo Fortes

«Os cabo-verdianos estão a passar um momento difícil», alerta bispo de Mindelo

Foto: Ricardo Perna

Roma, 06 out 2023 (Ecclesia) – O bispo de Mindelo afirmou que a Igreja Católica em Cabo Verde está com “saúde”, e destaca o trabalho que em favor de uma região “constantemente em crise”.

“Tivemos o tempo de pandemia, tivemos quatro anos de seca severa, agora a guerra pelo mundo, mas sobretudo esta na Europa, na Ucrânia, que nos afeta diretamente. Podemos dizer que a nós não nos afetou tanto este momento de crise porque estamos constantemente em crise, mas se estava mal, estamos pior”, disse D. Ildo Fortes, à Agência ECCLESIA.

Em Roma, na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, o bispo da Diocese de Mindelo explica que Cabo Verde é um país que “vive sobretudo de ajudas exteriores”, não há água doce, e também “não chove”, por isso, os campos produzem pouco.

“Temos de importar grande parte daquilo que consumismo, a nível alimentar, e toda esta situação fez com haja uma inflação tremenda, nos transportes, os transportes aéreos, os cabo-verdianos estão a passar um momento difícil”, assinalou.

No contexto da dependência externa de Cabo Verde e da falta de água, que tem tendência a agravar-se, e da nova exortação do Papa Francisco, a ‘Laudate Deum»’ (Louvai a Deus), o bispo de Mindelo afirma que, “felizmente o cabo-verdiano está educado para poupar água”, e “não se coloca o problema do desperdício”.

“Os Governos anteriores fizeram um esforço para criar barragens, estes anos excecionalmente choveu, é uma graça enorme, vê-se a alegria e a esperança a renascer nas pessoas do campo, mas grande parte da água, quando chove, vai para o mar”, desenvolveu.

D. Ildo Fortes alerta que sofrem “com a situação que se vive a nível climático pelo mundo”, as secas severas em Cabo Verde “têm sido maiores”, “desequilíbrios da natureza” que os afetam muito, e verificam também “muita poluição nos mares”, onde encontram “plástico, muito lixo nas praias que também chega de fora para dentro”.

“O mundo é um só, somos uma aldeia global, e tudo o que se passa tem repercussão em Cabo Verde”, acrescenta, lamentando também os efeitos da “pesca desenfreada e descontrolada” no seu território, que afetam espécies e os pescadores locais, que “não encontra peixe” na proximidade das ilhas.

O Vaticano publicou esta quarta-feira, dia 4 de outubro, um novo documento do Papa Francisco sobre o tema da ecologia integral, a exortação ‘Laudate Deum»’ (Louvai a Deus), que visa dar continuidade à reflexão da encíclica ‘Laudato Si’ (2015).

D. Ildo Fortes, que é também o presidente da Cáritas de Cabo Verde, assinala que a organização católica desenvolve “um trabalho muito focado nas famílias que vivem grande instabilidade, grande insegurança alimentar”, uma “preocupação” da instituição desde o âmbito nacional, diocesano e paroquial, “no terreno”.

Foto: Ricardo Perna

Neste sentido, adianta que a Cáritas está sempre a “inventar maneiras” para ajudar as famílias “a não sucumbirem”, como encontrar projetos e pedir apoios à Europa, a diferentes organismos, à Fundação João Paulo II para o Sahel, que nasceu, a 22 de fevereiro de 1984, para ajudar as populações do Burkina Faso, Níger, Mali, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Mauritânia, Senegal, Gâmbia e Chade.

O bispo de Mindelo explica que o apoio internacional é “fundamental”, mas Cabo Verde está classificado “como país de desenvolvimento médio”, por isso, já “não é contemplado” pelas “grandes organizações que apoiam os países do terceiro mundo e os países pobres”.

Segundo D. Ildo Fortes, as ajudas também são canalizadas para o Estado e “é muito difícil” a Igreja conseguir esses apoios, e fez “um apelo, a quem está vocacionado, para trabalhar com os pobres”: “Precisamos de apoio. Os pobres continuam pobres e nós temos vocação de trabalhar com os mais pobres”.

Segundo o presidente da Cáritas de Cabo Verde, a organização solidária, com mais de 40 anos, “faz um trabalho louvável”, o país africano tem “uma diáspora grande”, pelo mundo inteiro, e “o seu esforço” também tem sido ajudar na América do Norte, na Europa, onde são “cerca de 340 mil”, e ver se esta diáspora “consegue estar sensível aos irmãos que ficaram”.

D. Ildo Fortes destacou também que estão a preparar um “acontecimento grande para as duas dioceses” do país lusófono, o “grande jubileu” dos 500 anos da Diocese de Santiago de Cabo Verde.

Parceria Consistório e Sínodo/CB

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Agência ECCLESIA

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