Sínodo: Assembleia propõe «discernimento partilhado» sobre questões mais controversas

Relatório de síntese aponta a «maior criatividade» na definição de ministérios

Foto: Ricardo Perna

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 28 out 2023 (Ecclesia) – O relatório de síntese da primeira sessão da assembleia sinodal que decorreu no Vaticano, apresentado hoje, propõe um “discernimento partilhado”, na Igreja, sobre questões mais controversas, com a participação de peritos de várias áreas.

“Propomos que se promovam iniciativas que permitam um discernimento partilhado sobre questões doutrinas, pastorais e éticas que são controversas, à luz da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja, da reflexão teológica, valorizando a experiência sinodal”, refere o texto, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé após mais de três semanas de trabalho.

Todos os pontos do documento, com cerca de 40 páginas, foram aprovados com mais de dois terços de votos favoráveis dos 344 participantes na congregação geral conclusiva, vindos dos cinco continentes.

Os trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, iniciados a 4 de outubro, encerraram-se esta tarde com a aprovação do documento de síntese; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Em causa estão questões como as “relativas à identidade de género e à orientação sexual, ao fim da vida, às situações conjugais difíceis, aos problemas éticos ligados à inteligência artificial.

“É importante dedicar o tempo necessário a esta reflexão e investir nela as melhores energias, sem ceder a julgamentos simplificadores que prejudicam as pessoas e o Corpo da Igreja. Muitas indicações já são oferecidas pelo magistério e esperam ser traduzidas em iniciativas pastorais adequadas”, observam os participantes.

No relatório de síntese é pedido que antes desta segunda sessão se promova a auscultação de “pessoas diretamente afetadas” pelas referidas questões controversas, num “contexto institucional que tutele a reserva do debate”.

A este respeito, o texto aponta ao ‘sensus fidei’ (sentido da fé), realçando que “todos os crentes possuem um instinto para a verdade do Evangelho”.

Os processos sinodais valorizam este dom e permitem verificar a existência do consenso dos fiéis (consensus fidelium), que constitui um critério seguro para determinar se uma determinada doutrina ou prática pertencem à fé apostólica”.

O documento apela a “maior criatividade” na instituição de ministérios, envolvendo os jovens.

“É possível pensar num alargamento das funções do ministério instituído de leitor, que já hoje não se limitam ao papel desenvolvido durante as liturgias”, sugerem os participantes, apontando à criação de um “verdadeiro ministério da Palavra de Deus”, que incluiria a pregação.

“Entre todos os batizados há uma autêntica igualdade de dignidade e uma responsabilidade comum para a missão, segundo a vocação de cada um”, pode ler-se.

Os participantes pedem que se aprofunde a reflexão sobre a “colegialidade episcopal”, em questões de fé e moral nas quais falte acordo total entre bispos, e a “diversidade de pontos de vista teológicos e pastorais”.

“Consideramos necessário aprofundar o estudo da natureza doutrinal e jurídica das Conferências Episcopais, reconhecendo a possibilidade de atuação colegial também no que diz respeito às questões doutrinais que emergem no contexto local”, indicam.

O relatório defende uma “cultura de transparência” e o respeito pelos procedimentos estabelecidos para a proteção dos menores, pedindo que se proceda a uma “verificação regular” do trabalho dos bispos quanto ao exercício de autoridade, “administração económica dos bens da diocese, funcionamento dos órgãos de participação e proteção contra qualquer tipo de abuso”.

Da assembleia saiu a proposta de convocar um “Sínodo ecuménico sobre a missão comum no mundo contemporâneo”, num contexto de valorização da presença de representantes de outras Igrejas e confissões cristãs.

A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 participantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes.

OC

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Agência ECCLESIA

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