D. Manuel Clemente adianta que «questões mais complexas» não são o principal debate
Lisboa, 15 out 2015 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assinalou que a assembleia deste ano do Sínodo dos Bispos mais do que “algumas questões mais complexas”, tem a “incidência de verificar, valorizar e propor um novo protagonismo” às famílias.
“Este ano o sínodo tem outra incidência e procura verificar, valorizar e propor um novo protagonismo, se assim se pode dizer, das famílias na Igreja e na sociedade”, disse D. Manuel Clemente, esta quarta-feira.
No programa ‘Edição da Noite’, da Rádio Renascença, o cardeal-patriarca de Lisboa acrescentou que os pontos “complexos” de 2014, como o “caso dos divorciados recasados e a sua situação em relação aos sacramentos, ou em relação às pessoas com tendências homossexuais, naturalmente”, também estão presentes mas “não são de maneira nenhuma” o principal desta assembleia sinodal.
Neste contexto, o prelado recordou que a Igreja já tinha refletido sobre a família e desse sínodo saiu a exortação apostólica ‘Familiaris Consortio’ (Papa São João Paulo II, 22 novembro 1981) que “ainda hoje mantém muito valor”.
Para D. Manuel Clemente, o Papa Francisco regressou a este tema porque “o problema que mais o motiva, no sentido positivo e de resposta”, é o facto de existir uma sociedade que “já não é companheira”.
O presidente da CEP observou que “hoje” acompanha-se “pouco o grande êxodo das sociedades tradicionais para as cidades”, os movimentos migratórios.
“As famílias desagregam-se. As pessoas ficam mais sós, os idosos, felizmente ficam cá mais tempo, é uma felicidade, mas têm que ser acompanhados, valorizados. O Papa repara que é preciso atalhar esta desagregação social valorizando a base da sociedade, aquela onde nós nascemos, ou seja, as famílias”, desenvolveu.
Segundo o cardeal-patriarca de Lisboa o sínodo e a valorização das famílias para além das “consequências na vida interna da Igreja” também as terá na “legislação dos Estados” para apoiarem concretamente as famílias na sua “intergeracionalidade”.
No contexto da indissociabilidade do casamento, o prelado português comentou que “nas opções fundamentais da vida” não se está a prazo mas “por inteiro”.
“É assim que se é responsável e verdadeiramente livre no sentido em que somos capazes de nos julgar mesmo acima das circunstâncias adversas”, observou.
D. Manuel Clemente defendeu o método de trabalho atual do sínodo e considera que é “muito importante” o Papa publicar um documento no final da assembleia.
“O Papa ouviu os bispos e toda a Igreja e terá na mão elementos para exercer o seu ministério. Mesmo quando temos discrepâncias, como no tema dos recasados, queremos conciliar de maneira mais fiel esta tradição que recebemos com a situação concreta das pessoas e diferença dos casos”, acrescentou.
O presidente da CEP revelou que o Sínodo está a decorrer com “muita participação, muito bom ambiente, com muito vontade de acertar”, entre todos os participantes.
A jornalista Aura Miguel, que também participava no programa da rádio católica, perguntou ao cardeal-patriarca como viveu a situação da alegada carta de protesto de 13 cardeais
“Dentro do sínodo praticamente não falamos disto”, revelou D. Manuel Clemente sobre o que considerou o “fait-divers desta semana”, indicando “contradições como os alegados subscritores”.
“Não temos essa ideia de grupos e lóbis. É natural que pessoas em relação a pontos que tenham opinião comum expressem a outros. Os assuntos conversam-se mas é sempre com uma finalidade boa”, disse o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
RR/CB