Sínodo africano apresenta 57 propostas

Documento conclusivo destaca luta contra a pobreza e os conflitos armados

Os participantes na II assembleia especial para a África do Sínodo dos Bispos aprovaram no Sábado o documento conclusivo dos seus trabalhos, no qual apresentam 57 propostas (proposições) a Bento XVI.

Os Bispos pedem o fim dos conflitos armados e da pena de morte no continente africano. De facto, a paz e a reconciliação, que deram o mote a esta assembleia sinodal, percorrem as diversas propostas, a partir das quais o Papa deverá elaborar uma exortação apostólica.

Uma das novidades apresentadas é a proposta de criação de um “fundo de solidariedade continental” para o combate à pobreza, que seria gerido pela Cáritas.

Das propostas sai também o apelo em favor de um tratado internacional sobre o comércio de armas e pela abolição das armas nucleares, biológicas ou de destruição em massa.

“Os Padres sinodais exortam os governos nacionais a apoiar o estudo que está a ser feito e a preparação do Tratado de Comércio de Armas (ATT) no âmbito da ONU, com padrões universais obrigatórios para o comércio global de armas convencionais que devem respeitar os direitos humanos e o direito humanitário internacional”, pode ler-se

No centro do documento estão temas como o diálogo inter-religioso, em especial com o Islão e as religiões tradicionais, a defesa do ambiente, a necessidade de democracia em toda a África – em especial face à “expansão” de sistemas despóticos e militares -, a defesa da família ou a atenção aos fenómenos migratórios.

“O Sínodo também notou o triste facto de que em muitos países de África há flagrantes violações dos direitos humanos, injustiças, corrupção e impunidade, as quais acabam por atear golpes de estado, conflitos violentos e guerras”, alertam.

Os participantes no Sínodo pedem o perdão da dívida externa e deixam votos de que os recursos naturais do continente sejam geridos a nível local, sem a exploração das multinacionais, em especial no que diz respeito a bens essenciais como a terra ou a água. Uma palavra de encorajamento é deixada à aposta nas energias renováveis e na defesa dos agricultores.

Tal como aconteceu na Mensagem Final, os Bispos dizem “não” à corrupção dos políticos e pede maior atenção para as mulheres, crianças e pessoas com deficiência.

Aos governos é pedido que acabem com o drama dos homicídios e dos sequestros, promovendo também uma justa redistribuição dos bens, para criar melhores condições de vida e evitar a chamada “fuga de cérebros”.

Os Bispos pedem que as eleições sejam “livres, transparentes e seguras”, exigindo aos líderes religiosos uma posição de imparcialidade.

Encorajando o trabalho da Igreja, os Bispos exortam os sacerdotes para que vivam o “dom do celibato”. Neste contexto eclesial, destaque para a necessidade de uma maior difusão da Doutrina Social da Igreja e de uma aposta séria na educação.

Teólogos, catequistas e as pequenas comunidades cristãs são chamadas a “vencer” o desafio colocado pelos movimentos religiosos esotéricos.

As propostas lembram a importância da comunicação, desejando que a Igreja esteja mais presente nos media e que o jornalismo seja marcado pela ética, afastando-se do sensacionalismo.

Pandemias

SIDA, malária, droga e álcool são outras realidades que preocupam os padres sinodais, para quem a África deve recusar “estilos de vida promíscuos” que alimentam a sua difusão. À comunidade internacional é pedido que facilite o acesso aos medicamentos e a produção de vacinas, a baixo custo.

“A SIDA é uma pandemia que, juntamente com a malária e a tuberculose, está a dizimar as populações africanas, atingindo duramente a sua vida económica e social. Não pode ser encarada como um mero problema médico ou farmacêutico, nem apenas como uma matéria de mudança do comportamento humano. Ela tem realmente a ver com o desenvolvimento integral e a justiça, requerendo uma abordagem e uma resposta integral (holística) por parte da Igreja”, referem os Bispos.

Segundo o documento, “os que sofrem de SIDA em África são vítimas de injustiças, porque frequentemente não recebem a mesma qualidade de tratamento do que noutras partes do planeta. A Igreja pede que os fundos destinados aos doentes de SIDA sejam realmente usados para esta finalidade e recomenda que os pacientes africanos recebam a mesma qualidade de tratamentos que se recebe na Europa”.

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