Sínodo 2024: Tirar sinodalidade da gaveta é desafio de todos, diz cardeal de Rabat

Responsáveis de três continentes destacam importância de valorizar questões locais, evocando crise ecológica

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 out 2024 (Ecclesia) – O cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat (Marrocos), disse hoje que é preciso trazer a sinodalidade para a “vida quotidiana”, ao encontro das pessoas de todo o mundo.

“Gostaria de tirar a sinodalidade da sala de aula, onde se fala dela, se reflete sobre ela, se reza sobre ela, para a trazer para a vida quotidiana, para os diferentes lugares, e mostrar que não é um tema de estudo, mas uma realidade que já está, pelo menos como semente, em ação”, disse o religioso espanhol, em conferência de imprensa sobre os trabalhos da Assembleia Sinodal, em curso no Vaticano.

Para o cardeal Cristóbal López Romero, a sinodalidade é “uma caraterística da Igreja que, quando é posta em ação e posta em prática, dá muitos frutos”.

O responsável deu como exemplo a promoção de consultas e assembleias diocesanas, com centenas de encontros para debate e mobilização recíproca.

“Isto pode e deve repetir-se, de uma forma ou de outra, em todas as dioceses”, sustentou o arcebispo de Rabat.

O encontro com os jornalistas contou com a presença de D. Matthieu Rougé, bispo de Nanterre (França), apresentou “práticas sinodais” na sua diocese, que considerou “muito avançadas”.

O responsável deu como exemplo o Conselho Episcopal, “composto por homens e mulheres, leigos, consagrados, diáconos e sacerdotes, que é verdadeiramente o lugar do governo ordinário da diocese”, onde os fiéis de diferentes sectores da vida estão profundamente envolvidos.

O bispo de Nanterre deu como exemplo os cargos de responsabilidade assumidos por mulheres, “como delegadas diocesanas, encarregadas da formação, da pastoral, da saúde e de muitos outros domínios da vida eclesial”.

“O que está em jogo na sinodalidade não são simples adaptações funcionais, mas a grande marcha da Igreja”, acrescentou.

A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

D. Antony Randazzo, presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceânia, falou da experiência de “fragilidade” em que muitas pessoas vivem nas nações do Pacífico, sublinhando que “a fragilidade é em grande parte ecológica”.

O bispo australiano sublinhou que, na Oceânia, o conceito de sinodalidade “não é uma introdução estrangeira introduzida”, mas algo que as populações “têm vindo a fazer há milhares de anos”.

“É muito natural para as comunidades sentar-se juntas, ouvir-se respeitosamente, falar respeitosamente, conversar umas com as outras”, relatou.

O presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceânia questionou a forma como alguns debates sinodais têm sido conduzidos, apontando o dedo a “questões de nicho”, que surgem “a partir de Igrejas e comunidades com grande riqueza e grande acesso à tecnologia”.

Questionado sobre esta afirmação, D. Antony Randazzo começou por abordar os temas da “administração da Igreja, rejeitando a ideia adotar modelos empresariais, preferindo a linguagem eclesial da “comunhão”.

Outra questão identificada pelo responsável católico é a do papel das mulheres, criticando a “obsessão” com o debate sobre a ordenação, antes de pedir mais atenção para os temas da pobreza, da violência e da participação social ou eclesial.

“As mulheres tratadas como cidadãs de segunda classe, em muitas partes da Igreja e do mundo, são totalmente ignoradas. Isto é escandaloso”, declarou.

Estes debates, acrescentou o presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceânia, são vistos como “uma imposição a pessoas que, por vezes, lutam para simplesmente alimentar as suas famílias, para poder sobreviver à subida do nível do mar ou às perigosas viagens através de oceanos”.

Esta sessão da Assembleia Sinodal tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, está presente na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participa na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, participam também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos “assistentes e colaboradores”.

 

 

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