Sínodo 2024: Responsáveis do Vaticano valorizam consenso, afastando ideia de «batalha entre fações»

Relator-geral diz que participantes são «embaixadores» da experiência sinodal

Foto: Synod.va

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 27 out 2024 (Ecclesia) – O cardeal Jean-Claude Hollerich, relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo, valorizou este sábado o caminho de consenso que se construiu nos últimos três anos, afastando a ideia de “batalha entre fações”.

“Algumas opiniões continuam a ser diferentes, é inevitável, mas este ano experimentamos realmente a sinodalidade. Ninguém ficou triste. Agora temos de nos tornar embaixadores deste fruto: não nos reunimos apenas para olhar para as estruturas da Igreja ou para travar uma batalha entre fações”, disse o arcebispo do Luxemburgo, na conferência de apresentação do documento final desta sessão sinodal.

O padre Giacomo Costa, um dos secretários-especiais da Assembleia Sinodal, convidou à mudança de quem vive a fé “com muros, entrincheirado nas próprias posições”.

“Devemos tornar-nos uma espécie de centro, onde pessoas tão diferentes possam reconhecer-se como irmãos e irmãs, filhos de um só Pai”, observou.

Francisco promulgou documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal – algo que acontece pela primeira vez, mas que corresponde à possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018), do atual Papa, sobre o Sínodo dos Bispos.

O padre Riccardo Battocchio, teólogo e secretário-especial da Assembleia Sinodal, precisou que este documento “participa” do magistério pontifício, “não com valor normativo, mas dando orientações”.

“Não se trata de leis vindas de uma instância central para serem adaptadas nas periferias, mas trata-se de responder a um apelo à conversão – não apenas moral -, ou seja, um apelo a viver as relações eclesiais de uma maneira diferente”, precisou.

“Há um documento que não está escrito e que é a experiência”, acrescentou o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, para quem “o primeiro fruto é o método sinodal que é, ao mesmo tempo, a chave para poder orientar outros temas”.

Os responsáveis destacaram uma mudança de linguagem no documento final, convidando a deixar de ver a Igreja como “uma multinacional com várias filiais”.

Um dos temas abordados foi o número 76 do documento final, no qual se lê que, “com base nas necessidades dos contextos locais, deve ser considerada a possibilidade de alargar e estabilizar estas oportunidades de exercício ministerial por parte dos fiéis leigos”.

Segundo o cardeal Hollerich, também na Europa “se pode pensar em dar espaço a várias figuras”, para entender a Igreja numa visão não piramidal, mas comunitária.

O padre Battocchio respondeu a uma questão sobre o contributo das mulheres nos seminários e a sua eventual evolução, destacando que “já a lógica atual prevê uma variedade de figuras que participam na formação dos ministros ordenados”.

“Terá de ser visto nos vários contextos. Há muitos seminários onde a participação das famílias, dos homens e das mulheres que não são membros do clero é ativa”, prosseguiu.

A questão do diaconado feminino, abordada no número 60 – onde se diz que o tema “permanece em aberto” – foi abordada pelo relator-geral do Sínodo, para quem o tema é “muito delicado”.

O cardeal Hollerich realçou que, ao fazer seu o documento final, o Papa aprova a posição assumida por esta Assembleia Sinodal: “Disse que continua a ser uma questão em aberto”.

“Não há nenhuma razão para que as mulheres não assumam papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto. É necessário um maior discernimento a este respeito”, refere o ponto 60 do texto conclusivo, que recebeu 258 votos a favor e 97 contra – a aprovação por menor margem de todos os 155 números do documento final.

OC

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Agência ECCLESIA

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