Cardeal Mario Grech sublinha que é impossível impor «desde cima» mudanças concretas nas comunidades, apelando à mobilização de todos os católicos
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Roma, 28 out 2024 (Ecclesia) – O cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, disse hoje em Roma que após o final da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, este domingo, o processo lançado pelo Papa em 2021 “não acaba”, abrindo-se uma nova etapa em cada comunidade católica.
“É um processo de apropriação viva, criativa, que tem como sujeito todo o povo de Deus”, referiu o responsável, na abertura do congresso internacional que reúne teólogos e canonistas, na Universidade Pontifícia Gregoriana, sobre o tema ‘Do Concílio ao Sínodo. Releitura de um percurso eclesial, 60 anos depois da Lumen Gentium (1964-2024).
“O Sínodo não quis inventar coisas novas, mas seguir nos caminhos iniciados pelo Vaticano II”, observou o colaborador do Papa.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorreu entre 2 e 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
Francisco promulgou documento final, enviando-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal – algo que acontece pela primeira vez, mas que corresponde à possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018), do atual Papa, sobre o Sínodo dos Bispos.
O cardeal Grech assinalou que o processo de receção do documento vai ser “longo e complexo”, dado que coloca em causa “não apenas algumas estruturas e organismos”, mas “toda a Igreja”.
Segundo o colaborador do Papa, seria impossível “impor” esta receção “desde cima”, com normas iguais para comunidades muito diferentes, em todo o mundo, recordando a marca de “circularidade” entre Igreja universal e Igrejas locais que tem marcado o processo sinodal.
“Fecha-se a fase do discernimento e abre-se outra”, acrescentou, a respeito dos últimos três anos, assumindo que a Secretaria-Geral do Sínodo vai acompanhar a implementação das propostas do Sínodo.
O responsável valorizou o contributo dos teólogos para “formar para uma cultura da sinodalidade a mente dos pastores e dos outros fiéis”
Os trabalhos foram abertos pelo padre Dario Vitali, coordenador dos peritos teólogos na recente Assembleia Sinodal, para quem se abre agora a “terceira fase” deste processo, com a “perspetiva de acolhimento do documento” nas várias comunidades.
O especialista ligou as fontes de “resistência” à sinodalidade, em vários setores da Igreja, à oposição a várias das propostas do Concílio Vaticano II, esperando que a dimensão sinodal na vida das comunidades católicas se torne “permanente”:
Christoph Theobald, teólogo francês e perito da Assembleia Sinodal, proferiu a primeira conferência do evento, sublinhando que o processo lançado pelo Papa Francisco teve como inspiração uma conceção de unidade como “harmonia entre todas as Igrejas”, fundada sobre “a igualdade de todos os batizados”.
“Estamos apenas no início de uma nova etapa do caminho que nos leva além da Igreja pós-gregoriana e entra numa cultura católica com contornos ainda imprevisíveis”, sustentou.
A conferência de três dias é organizada em colaboração pela Secretaria-Geral do Sínodo e pelo ‘Collegium Maximum’ da Universidade Gregoriana, apresentando-se como “o primeiro ato de reflexão teológica após o encerramento da segunda sessão da Assembleia Sinodal”.
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC