Sínodo 2024: Perito português fala em mensagem «profética», perante sociedade marcada pela divisão e individualismo (c/vídeo)

Padre Miguel Salis de Amaral aponta desafios de «explicar bem o que é a sinodalidade» e apostar na formação

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Roma, 26 out 2024 (EcclesiaIa) – O Miguel de Salis Amaral, perito da segunda sessão da Assembleia Sinodal que decorre no Vaticano, disse à Agência ECCLESIA que este processo deixa uma mensagem “profética” a uma sociedade marcada por divisões e individualismo.

“É um caminho, diria, profético: com esta ideia de sinodalidade, estamos a querer mostrar à sociedade uma forma de convivência, uma forma de encontro, uma forma de escuta. Talvez eu não esteja totalmente de acordo com o outro, mas escuto e respeito, e estamos juntos em tantas coisas”, refere o sacerdote português, professor de teologia na Universidade Pontifícia da Santa Cruz (Roma), diretor do centro de formação sacerdotal da mesma instituição e consultor teológico do Dicastério para as Causas dos Santos (Santa Sé).

O responsável assume que, após a conclusão desta assembleia, permanece um “grande desafio” para a Igreja, que é “explicar bem o que é a sinodalidade”.

“Na sociedade, a sinodalidade é vista em forma democrática, como a organização democrática ocidental, não a de há 50 anos, mas a atual, que é muito líquida, muito vaporosa, uma sociedade de consumidores individuais. Isso não é a sinodalidade, como a Igreja está a propor”, indica o teólogo.

O padre Miguel de Salis Amaral entende que a proposta feita por esta Assembleia Sinodal se apresenta de forma “profética” e “muito interessante, numa sociedade como a atual, em que há muita polarização e em que há muito individualismo”.

Convocado para participar nesta segunda sessão como perito, na área da Teologia, o sacerdote português destaca a “riqueza muito grande de opiniões, de vivências” que encontrou no Auditório Paulo VI, onde decorreram os trabalhos.

Da experiência das últimas semanas, o entrevistado sublinha a importância do “tempo também para escutar e perceber as razões da posição do outro”.

Quanto à missão que lhe foi confiada, o padre Miguel de Salis Amaral assume que se está a “tentar descobrir uma nova posição para os teólogos”.

“É um modo de dialogar, talvez mais discreto, talvez mais sereno, talvez não tenha aquele protagonismo e aquele brilho que tinha no Concílio Vaticano II, mas é o caminho que a Igreja e Deus nos está a pedir hoje”, afirma.

O docente universitário foi um dos conferencias nos fóruns teológico-pastorais, novidade do programa da Assembleia Sinodal, este ano, falando no encontro dedicado ao tema ‘A relação mútua Igreja local-Igreja universal’.

“Vi abertura, vi escuta, não só no Sínodo, mas também nos fóruns de Teologia, e isto é uma coisa que talvez tenhamos de habituar-nos, cada vez mais, a viver em todos os lugares na Igreja”, observa, elogiando o debate “muito sereno, muito enriquecedor”, entre perspetivas diferentes.

Quanto ao tema específico da sua intervenção, o teólogo realça que “a Igreja, na sua presença no território, é sempre uma presença localizada, mas ao mesmo tempo está sempre unida a tudo o resto”.

“Essa dimensão local e ao mesmo tempo universal, porque estamos unidos a todos, é um tema muito interessante, que ainda precisa de ser aprofundado”, prossegue.

O padre Miguel de Salis Amaral diz que um dos “grandes desafios” passa pela formação, do clero e dos leigos, nestas questões, para passar de “um discurso sobre a sinodalidade a uma vivência da sinodalidade, nos vários âmbitos e nos vários organismos”.

O entrevistado recorreu à imagem da “salada de frutas”, para sublinhar que a mudança passa, mais do que por novos “recipientes”, pela “qualidade” do que se coloca dentro.

“Podemos inventar um conselho, podemos até pensar que esse conselho é obrigatório, que o bispo o deve convocar, que deve ter um processo com uma série de regulamentos. Nós montamos os regulamentos todos. Estamos sempre a nível da taça que vai conter a salada de frutas”, precisa.

A assembleia sinodal, que decorre até domingo, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

O sacerdote português realça a importância de conjugar “participação e missão”, sem oposição entre ambas, e valoriza a “aprendizagem da paciência por parte de todos”, nos últimos anos.

“É um processo no qual vimos uma experiência intensa, mas que depois vai dar o seu fruto mais adiante”, conclui.

O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo vai ser lido e votado hoje, nas duas últimas reuniões gerais dos participantes.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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Agência ECCLESIA

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