Responsável jesuíta fala de curso sobre discernimento em comum, uma formação prática em sinodalidade
Lisboa, 07 out 2024 (Ecclesia) – O jesuíta Pedro Cameira, diretor espiritual da Casa da Torre – Centro de Espiritualidade e Cultura, disse à Agência ECCLESIA que o desafio da Assembleia Sinodal convocada pelo Papa é “passar do medo à comunidade”.
“Passar do medo à conversa, passar do medo à comunidade é a lógica do Sínodo”, refere o sacerdote.
A Casa da Torre, em Soutelo (Arquidiocese de Braga) está a organizar um curso sobre o tema ‘Discernimento em comum – formação prática em sinodalidade’, com duas sessões que vão decorrer entre os dias 30 out a 3 novembro de 2024 e o dia 30 de abril e a 4 de maio de 2025.
A temática tem estado em destaque no processo sinodal, iniciado em 2021 por iniciativa do Papa, com uma consulta global a milhões de pessoas, por parte das comunidades católicas.
A segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’.
Em entrevista emitida este domingo no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, o padre Pedro Cameira destacou que “a ideia de tomar decisões em conjunto choca com individualismos, autorreferencialidade e o desejo de um poder devorador diante das pessoas”.
O Papa, acrescenta, tem deixado uma “marca de fundo, que é a igualdade fundamental de todas as pessoas”, “num dinamismo de saída, de escuta madura”.
“A oração é a única maneira de perder o medo e perceber que, em conjunto, somos um conjunto de batizados e podemos ouvir-nos. Isto não destrói a Igreja, como várias vezes se ouve, pelo contrário, constrói a verdadeira Igreja em caminho”, sustenta o religioso jesuíta.
A escuta recíproca, indica o entrevistado, “mexe e cria tensões”, podendo levar a um clima de “medo”.
“É uma forma de ser Igreja muito diferente de um certo modelo que cristalizou, até no nosso subconsciente”, acrescenta, falando numa necessidade de “aprender a escutar”.
O padre Pedro Cameira aborda ainda o método da “conversação no Espírito”, que tem sido aplicado nesta Assembleia Sinodal, alternando intervenções pessoais com momentos de silêncio e oração.
“Isso há de mudar os ritmos e o teor da conversa”, precisa.
A proposta de “escutar a sério” tem, segundo o jesuíta, um impacto que ultrapassa os espaços das comunidades católicas, contrariando uma cultura de “individualismo”.
“Em termos espirituais, dar atenção a Deus precisa de tempo. Não é carregar um botão e estou atento. Há uma lógica de dar atenção a Deus que institucionalmente se está a propor e é uma coisa impressionante”, acrescenta.
O padre Pedro Cameira acredita que este esforço de escuta vai “dar frutos”, oferecendo “profundidade de vida”.
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC