Sínodo 2024: Papa desafia Igreja a ouvir «grito da humanidade» e a superar fatalismo (c/fotos e vídeo)

Missa encerra XVI Assembleia Geral do Sínodo, depois de três anos de trabalhos, a nível global

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 27 out 2024 (Ecclesia) – O Papa disse hoje, no Vaticano, que o mundo precisa de uma Igreja que “acolhe o grito da humanidade”, superando atitudes de fatalismo e pessimismo.

“Não precisamos duma Igreja sentada e desistente, mas duma Igreja que acolhe o grito do mundo e – quero dizê-lo, talvez alguém se escandalize – uma Igreja que suja as mãos para servir o Senhor”, referiu na homilia da Missa de conclusão da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, iniciada a 2 de outubro, sobre o tema ‘Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’.

“Deus escuta sempre o grito dos pobres e nenhum grito de dor passa despercebido diante dele”, acrescentou.

Perante milhares de pessoas reunidas na Basílica de São Pedro, Francisco sustentou que esta nova etapa se constrói “acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra”.

“O grito dos que querem descobrir a alegria do Evangelho e dos que, pelo contrário, se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; das crianças, escravizadas pelo trabalho, em tantas partes do mundo; a voz partida dos que já nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”, precisou.

A intervenção apontou ao futuro, pedindo “não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé”, uma “Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo”.

“Lembremo-nos sempre disto: não caminhar por conta própria ou segundo os critérios do mundo, mas caminhar juntos atrás dele e com Ele”, recomendou.

O Papa evocou a cura de um cego, Bartimeu, num comentário à passagem do Evangelho segundo São Marcos, que é lida este domingo nas igrejas de todo o mundo.

“Se permanecemos sentados na nossa cegueira, continuaremos a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que vivemos”, indicou, perante os participantes na Assembleia Sinodal.

Francisco questionou uma “Igreja sentada”, que se “confina a si mesma à margem da realidade”.

Perante as interrogações dos homens e mulheres de hoje, os desafios do nosso tempo, as urgências da evangelização e as muitas feridas que afligem a humanidade, não podemos ficar sentados”.

Foto: Lusa/EPA

A celebração contou com a exposição da antiga Cátedra de São Pedro, após uma intervenção de restauro.

Segundo nota enviada aos jornalistas, pelo Vaticano, “é muito provável que a Cátedra tenha sido doada por Carlos, o Calvo, ao Papa João VIII (872-885)

“Contemplando-a com a admiração da fé, recordemos que esta é a Cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo o preceito que Jesus deu ao Apóstolo Pedro de não exercer domínio sobre os outros, mas de os servir na caridade”, declarou Francisco.

O Papa promulgou este sábado o documento final da Assembleia, enviando-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal – algo que acontece pela primeira vez, mas que corresponde à possibilidade prevista na  constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018), assinada por Francisco, sobre o Sínodo dos Bispos.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

A segunda sessão desta Assembleia Sinodal teve 368 membros com direito a voto, dos quais 272 bispos; à imagem do que aconteceu 2023, houve mais de 50 votantes mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

 

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Agência ECCLESIA

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