Sínodo 2024: Papa alerta para «diálogo de surdos» e pede que assembleia valorize trabalho dos últimos anos (c/fotos)

Francisco preside a Missa de abertura da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 02 out 2024 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje à Missa de abertura da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, no Vaticano, pedindo que o encontro evite transformar-se num “diálogo de surdos”.

“Tenhamos o cuidado de não transformar os nossos contributos em teimosias a defender ou agendas a impor, mas ofereçamo-los como dons a partilhar, dispostos também a sacrificar o que é particular, se isso servir para juntos fazermos nascer algo novo, segundo o projeto de Deus. Caso contrário, acabaremos por nos fechar num diálogo de surdos”, alertou, na homilia da celebração, que reuniu milhares de pessoas na Praça de São Pedro.

Os participantes no Sínodo entraram numa procissão solene, ao longo de vários minutos.

A segunda sessão da Assembleia Sinodal acontece três anos após uma consulta global lançada pelo Papa.

“Com respeito e atenção, na oração e à luz da Palavra de Deus, a todos os contributos recolhidos ao longo destes três anos de intenso trabalho, partilha, confronto de ideias e paciente esforço de purificação da mente e do coração”, referiu Francisco.

O Papa admitiu que o encontro tem muitos temas a abordar, acrescentando que “os cenários em que se inserem são amplos, universais”.

“Abraçar, proteger e cuidar faz parte da própria natureza da Igreja, que é, por vocação, um lugar hospitaleiro de encontro”, acrescentou.

A nova sessão decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’; a primeira sessão decorreu em outubro de 2023.

“A única maneira de estar à altura da tarefa que nos está confiada é fazermo-nos pequenos e acolhermo-nos uns aos outros como tal, com humildade”, disse Francisco.

O Papa quis sublinhar a importância do diálogo e reforçou a ideia de que “esta não é uma assembleia parlamentar, mas um lugar de escuta em comunhão”.

O Sínodo é também um caminho, durante o qual o Senhor coloca nas nossas mãos a história, os sonhos e as esperanças de um grande Povo: de irmãs e irmãos nossos espalhados pelo mundo, animados pela mesma fé, movidos pelo mesmo desejo de santidade, no sentido de procurarmos compreender, com eles e para eles, qual a estrada a seguir para chegar onde Ele nos quer levar”.

A sessão sinodal tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

“Cada um sentir-se-á tanto mais livre de se exprimir espontânea e abertamente, quanto mais sentir à sua volta a presença de amigos que o amam, respeitam, apreciam e desejam ouvir o que tem para dizer”, apelou Francisco.

A Igreja tem necessidade de lugares de paz e abertura, a serem criados principalmente nos corações, onde cada um se sinta acolhido como uma criança nos braços da mãe”.

O Papa anunciou um dia de oração e jejum pela paz, a 7 de outubro, um dia depois de se deslocar à Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para rezar pelo fim da guerra.

“Irmãos e irmãs, retomemos este caminho eclesial com o olhar voltado para o mundo, porque a comunidade cristã está sempre ao serviço da humanidade para anunciar a todos a alegria do Evangelho.”, referiu Francisco.

“Caminhemos juntos, escutemos o Senhor e deixemo-nos guiar pelo Espírito”, concluiu.

Após a Missa, o Papa percorreu a Praça de São Pedro, em carro aberto, para saudar a multidão, durante vários minutos.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

Os participantes nesta Assembleia Sinodal incluem os chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, patriarcas e representantes das Igrejas Orientais Católicas,  representantes de Conferências e organismos episcopais, os membros do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos e os seus dois subsecretários, bem como dez representantes da União dos Superiores Gerais dos Institutos de Vida Consagrada, dos quais cinco são religiosas, também com direito a voto.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Os trabalhos alteram entre sessões plenárias (congregações gerais) e trabalhos em grupo linguísticos (círculos menores), decorrendo no Auditório Paulo VI, do Vaticano.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, vai participar na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participa na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, participam também nesta segunda sessão, 0  padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores), e o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos “assistentes e colaboradores”.

 

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