Especial: Três anos depois, Sínodo assume desafio de lançar novo modelo de Igreja

Segunda sessão tem 368 participantes com direito a voto, incluindo mais de 50 mulheres

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 02 out 2024 (Ecclesia) – O Vaticano acolhe hoje o início da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, três anos após uma consulta global lançada pelo Papa, procurando propor um novo modelo para a Igreja.

O documento orientador dos trabalhos, divulgado pelo Vaticano, desafia os participantes a “explorar outras formas ministeriais e pastorais” para valorizar o papel das mulheres nas comunidades católicas.

“Os contributos recolhidos em todas as fases evidenciaram a necessidade de conferir um maior reconhecimento aos carismas, às vocações e ao papel das mulheres em todos os aspetos da vida da Igreja”, indica o texto.

A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

O ‘Instrumentum Laboris’ – documento de trabalho – para esta nova sessão adverte que, “sem alterações concretas, a visão de uma Igreja sinodal não será credível e afastará os membros do Povo de Deus que retiraram alento e esperança do caminho sinodal”.

“Esta constatação é aplicável ainda com maior rigor no que se refere à participação efetiva das mulheres nos processos de elaboração e na tomada de decisões, como exigido em muitos dos contributos recebidos pelas Conferências Episcopais”, acrescenta o documento.

Ao longo dos últimos dias, em que os participantes se reuniram para um retiro e uma vigília penitencial, convocada pelo Papa, vários responsáveis admitiram que houve uma queda nas expectativas para esta sessão.

Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre dez temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, deixando assim esse debate fora do documento de trabalho.

Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”, referidas no Relatório de Síntese da primeira sessão sinodal – desenvolvendo questões ligadas à pobreza, missão no ambiente digital, ministérios (incluindo a participação das mulheres na Igreja e a pesquisa sobre o acesso das mulheres ao diaconato), relações com as Igrejas Orientais, Vida Consagrada e movimentos eclesiais, formação dos sacerdotes, ministério dos bispos, papel dos núncios, ecumenismo e questões doutrinais, pastorais e éticas “controversas”.

Fora da segunda sessão, por exemplo, fica o debate sobre a admissão das mulheres ao ministério diaconal, assumindo a divisão da assembleia sobre o tema e considerando “conveniente que prossiga a reflexão teológica, com tempos e modalidades adequados”.

“Enquanto algumas Igrejas locais requerem que as mulheres sejam admitidas ao ministério diaconal, outras reafirmam o contrário”, refere o documento de trabalho.

O ‘instrumentum laboris’ aponta o processo de “escuta de todos”, promovido pela Igreja Católica, como exemplo para contrariar modelos de “concentração” de poder e dinheiro, numa “época marcada por desigualdades cada vez mais acentuadas”.

O texto, intitulado ‘Como ser Igreja sinodal missionária’, apresenta 112 pontos, divididos em três partes, com uma introdução e uma secção de “fundamentos”.

“Um mundo em crise, cujas feridas e desigualdades escandalosas ressoam dolorosamente no coração de todos os discípulos de Cristo, leva-nos a rezar por todas as vítimas da violência e da injustiça e a renovar o nosso compromisso ao lado das mulheres e dos homens que em toda as partes do mundo se empenham como obreiros de justiça e de paz”, pode ler-se.

Este documento propõe a criação de um “ministério de escuta e acompanhamento” nas comunidades católicas, que representaria “uma ‘porta aberta’ da comunidade, através da qual as pessoas podem entrar sem se sentirem ameaçadas ou julgadas”.

Esta sessão tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

Os participantes incluem um elenco de 68 “testemunhas do processo sinodal”, nos cinco continentes, entre eles 39 mulheres – 25 leigas e 14 religiosas.

O Papa nomeou nove presidentes-delegados da Assembleia, incluindoa consagrada japonesa Momoko Nishimura, membro do Grupo de Trabalho Sinodal da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), e a religiosa mexicana Maria de los Dolores Palencia.

Francisco designou também um grupo de 57 membros de nomeação pontifícia, entre os quais cinco religiosas e uma leiga.

Em 2021, o Papa tinha nomeado a religiosa francesa Nathalie Becquart como subsecretária do Sínodo dos Bispos, que se tornou a primeira mulher com direito de voto na assembleia sinodal.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

Os participantes nesta Assembleia Sinodal incluem os chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, patriarcas e representantes das Igrejas Orientais Católicas,  representantes de Conferências e organismos episcopais, os membros do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos e os seus dois subsecretários, bem como dez representantes da União dos Superiores Gerais dos Institutos de Vida Consagrada, dos quais cinco são religiosas, também com direito a voto.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Os trabalhos alteram entre sessões plenárias (congregações gerais) e trabalhos em grupo linguísticos (círculos menores), decorrendo no Auditório Paulo VI, do Vaticano.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, vai participar na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participa na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, participam também nesta segunda sessão, 0  padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos “assistentes e colaboradores”.

 

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