Rafael Luciani, teólogo venezuelano, admite que processo enfrentou resistências e que cada continente tem um «ritmo diferente»
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 01 out 2024 (Ecclesia) – Rafael Luciani, teólogo venezuelano que participa como perito na XVI Assembleia Geral do Sínodo, no Vaticano, disse hoje à Agência ECCLESIA que as mudanças nos processos de decisão são um desafio fundamental neste processo.
“Essa é a grande novidade de uma instituição sinodal. No fundo, não é quem toma a decisão, mas como se toma e com quem se toma as decisões. E esse é o cerne da sinodalidade”, refere o docente universitário.
Para o especialista, numa Igreja sinodal “não é só o bispo que toma decisões, mas toma-as juntamente com o resto do povo, leigos, religiosos, sacerdotes, diáconos”.
Após a primeira sessão, em 2023, a Assembleia Sinodal prossegue de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’; o processo começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021, numa iniciativa global lançada pelo Papa.
Rafael Luciani entende que este percurso “está a dar frutos, na medida em que está a semear uma consciência, apenas a nascer, de uma Igreja Sinodal”.
“O desafio que, pessoalmente, considero muito importante a partir desta segunda sessão é que a Igreja se torne realmente sinodal e que não seja apenas um tema a ser tratado no Sínodo”, sustenta.
Para o teólogo venezuelano, o resultado mais importante que pode sair destas três semanas de trabalho é que a Igreja se torne “gradualmente sinodal em todas as suas estruturas e em todas as suas relações”.
O especialista admite que o tema é “novo para muitas pessoas e é isso que, por vezes, trouxe dúvidas ou críticas, mas não é novo para a Igreja enquanto tal, porque vem da tradição cristã”.
“Não estamos perante uma coisa que nasce hoje, mas que queremos renovar hoje à luz de uma Igreja que precisa de uma mudança profunda, de uma conversão profunda”, insiste.
O perito, que integrou a comissão teológica do Sínodo, é professor no Boston College (EUA) e na Universidade Católica Andrés Bello de Caracas
“Cada continente ou cada cultura específica tem um ritmo diferente na receção da sinodalidade”, reconhece.
Questionado sobre a vivência da sinodalidade na América Latina, Rafael Luciani admite que “há facilidades para a vida eclesial latino-americana”, recordando que a recente Conferência Eclesial para a Amazónia é “a primeira instituição sinodal da Igreja em todo o mundo”.
“Mas não quer dizer que estejamos mais avançados ou desenvolvidos na matéria, mas que houve uma receção muito particular e diferente do Concílio”, acrescenta.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC