Participantes identificam «organismos de participação» como caminho para promover «mudanças percetíveis»
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 26 out 2024 (Ecclesia) – O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, aprovado hoje no Vaticano, devolve às comunidades locais a responsabilidade de implementar mudanças, alargando formas de “participação” de todos os seus membros.
“Pedimos a todas as Igrejas locais que continuem o seu caminho quotidiano com uma metodologia sinodal de consulta e discernimento, identificando caminhos concretos e percursos de formação para realizar uma conversão sinodal palpável nas várias realidades eclesiais”, referem os participantes dos cinco continentes, após duas sessões sinodais, em 2023 e neste ano, sob a presidência do Papa.
O texto, aprovado na totalidade dos seus 155 pontos, defende que seja prevista “uma avaliação dos progressos realizados em termos de sinodalidade e de participação de todos os batizados na vida da Igreja”.
Os participantes sugerem ainda que os vários organismos episcopais “dediquem pessoas e recursos para acompanhar o caminho de crescimento como Igreja sinodal em missão e para manter o contacto com a Secretaria-Geral do Sínodo”.
O documento identifica os “organismos de participação” como “uma das áreas mais promissoras de atuação para uma rápida implementação das orientações sinodais, conduzindo rapidamente a mudanças percetíveis”.
Cabe às Igrejas locais, e sobretudo aos seus agrupamentos, construir, de forma sinodal, formas e procedimentos eficazes de prestação de contas e de avaliação, adequados à variedade dos contextos”.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
“O processo sinodal não termina com o fim da atual Assembleia do Sínodo dos Bispos, mas inclui a fase de implementação”, pode ler-se no documento conclusivo.
Os participantes ligam este processo sinodal ao Concílio Vaticano II (1962-1965), como “um verdadeiro ato de receção”, que volta a apresentar “a sua força profética para o mundo de hoje”.
O texto final refere que é possível ver “os primeiros frutos” do caminho iniciado em 2021, particularmente no “desejo de uma Igreja mais próxima das pessoas e mais relacional, que seja casa e família de Deus”.
“A sinodalidade é um caminho de renovação espiritual e de reforma estrutural para tornar a Igreja mais participativa e missionária, ou seja, para a tornar mais capaz de caminhar com cada homem e mulher irradiando a luz de Cristo”, precisam os participantes.
Francisco promulgou o documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).
O texto é composto por cinco partes: “O coração da sinodalidade”, “Juntos, na barca”, “Lançar a rede”, “Uma pesca abundante” e “Também eu vos envio”.
“Com este documento, a Assembleia reconhece e testemunha que a sinodalidade, uma dimensão constitutiva da Igreja, já faz parte da experiência de muitas das nossas comunidades. Ao mesmo tempo, sugere caminhos a seguir, práticas a implementar, horizontes a explorar”, explicam os participantes.
Uma das mudanças apontadas relaciona-se com o “conceito de lugar”, que remete para “a pertença a uma rede de relações e a uma cultura cujas raízes territoriais são mais dinâmicas e flexíveis do que nunca”.
“Para responder às novas exigências da missão, cada paróquia é chamada a abrir-se a formas inéditas de ação pastoral que tenham em conta a mobilidade das pessoas e o território existencial em que se desenvolve a sua vida”, indica o texto.
Os participantes aludem ainda aos desafios das novas tecnologias e das redes sociais, pedindo “recursos para que o ambiente digital seja um lugar profético para a missão”.
“As comunidades e grupos digitais cristãos, especialmente de jovens, são também chamados a refletir sobre a forma como criam laços de pertença, promovem o encontro e o diálogo, oferecem formação entre pares e desenvolvem uma forma sinodal de ser Igreja”, acrescentam.
Ainda sobre os jovens, o documento reconhece que “por vezes, a sua atitude em relação à Igreja aparece como uma crítica, mas assume frequentemente a forma positiva de um compromisso pessoal com uma comunidade acolhedora, empenhada na luta contra a injustiça social e no cuidado da casa comum”.
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.
O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé). Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores. |