Sínodo 2024: Documento final defende maior atenção às vítimas de abusos na Igreja

Participantes evocam «sofrimento indescritível» provocado por estes crimes

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 26 out 2024 (Ecclesia) – O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, aprovado hoje, evoca o “sofrimento indescritível” das vítimas de abusos na Igreja, pedindo aposta na prevenção destes crimes.

“A crise dos abusos, nas suas diversas e trágicas manifestações, trouxe um sofrimento indescritível e muitas vezes duradouro às vítimas e aos sobreviventes, bem como às suas comunidades. A Igreja precisa de escutar com particular cuidado e sensibilidade as vozes das vítimas e dos sobreviventes de abusos sexuais, espirituais, económicos, institucionais, de poder e de consciência por parte de membros do clero ou de pessoas com nomeações eclesiais”, refere o texto, divulgado após a última reunião geral deste encontro, com representantes dos cinco continentes, sob a presidência do Papa.

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

O texto conclusivo, aprovado na totalidade dos seus 155 pontos, destaca que, “em todas as fases do processo sinodal, ressoou a necessidade de cura, reconciliação e reconstrução da confiança no seio da Igreja, particularmente na sequência de demasiados escândalos de abusos, e no seio da sociedade”.

Numa época que vive uma crise global de confiança e encoraja as pessoas a viver na desconfiança e na suspeita, a Igreja deve reconhecer as suas próprias falhas, pedir humildemente perdão, cuidar das vítimas, dotar-se de instrumentos de prevenção e esforçar-se por reconstruir a confiança mútua no Senhor”.

Os participantes no Sínodo lembram as crianças que sofrem “por causa da guerra, da pobreza e da negligência, dos abusos e do tráfico”.

“O acolhimento e o apoio às vítimas são uma tarefa delicada e indispensável que exige grande humanidade e deve ser efetuada com a ajuda de pessoas qualificadas”, assinala o documento conclusivo.

O texto defende “práticas de transparência, responsabilidade e avaliação”, particularmente onde “a credibilidade da Igreja tem de ser reconstruída”.

É imperativo que em todo o mundo a Igreja active e promova uma cultura de prevenção e salvaguarda, tornando as comunidades lugares cada vez mais seguros para as crianças e pessoas vulneráveis. Embora tenham sido dados passos para prevenir os abusos, é necessário reforçar este compromisso, oferecendo formação específica e contínua a quem trabalha com crianças e adultos vulneráveis”.

Francisco promulgou o documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

 

Sínodo 2024: Papa encerra trabalhos, reforçando apelo a Igreja «sem muros» e aberta a «todos, todos, todos» (c/fotos)

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