Presidente da CEP projeta trabalhos de assembleia que visa dar corpo ao processo iniciado em 2021, com a consulta de milhões de pessoas
Fátima, 29 set 2024 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que a nova sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, convocada pelo Papa, tem a missão de encontrar “soluções novas”, após o processo iniciado em 2021, com a consulta de milhões de pessoas.
“Em diversas perspetivas, em diversos contextos culturais e sociais, hão de surgir formas novas de realizar a mesma missão”, considerou D. José Ornelas, o convidado desta semana da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença.
Os trabalhos da assembleia dedicada ao tema “Por uma Igreja Sinodal. Comunhão. Participação. Missão”, tem vindo a mobilizar comunidades católicas de todo o mundo nos últimos três anos e contou com a sua primeira sessão geral em outubro de 2023.
Assembleia Sinodal, mas que agora precisa de dar passos mais concretos.
A CEP está representada pelo seu presidente e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.
O cardeal Américo Aguiar vai participar na segunda sessão da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, entre os dias 2 e 27 de outubro, por nomeação do Papa Francisco; já cardeal Tolentino Mendonça participa na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).
Além dos quatro responsáveis portugueses, participam também nesta segunda sessão, como “assistentes e colaboradores”, o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa.
Para D. José Ornelas, o trabalho que vem sendo desenvolvido desde 2021 é “histórico”, porque “este Sínodo tem muito de novo”.
O bispo de Leiria-Fátima destaca o esforço desenvolvido para “refletir sobre a identidade própria da Igreja, o seu modo fundamental de estar à escuta de Deus, à escuta uns dos outros, programar, pensar e discernir em comum”.
O responsável diz entender a decisão de criar grupos de trabalho, que colaboram com a Cúria Romana, para abordar temas “fraturantes” – por decisão do Papa, estes grupos vão manter-se ativos até junho de 2025 -, precisando que o debate vista “uma metodologia de trabalho que permita enfrentar também esses problemas de um modo novo”.
“Não se pode encontrar simplesmente uma solução para uma parte daqueles que constituem a Igreja, mas é preciso encontrar caminhos o mais possível comuns”, sustentou.
O presidente da CEP centra a sua preocupação no esforço de criar “uma Igreja que seja sinodal na sua maneira de pensar, de discernir, mas também de agir”.
Estes temas, muito provavelmente, podem não ter uma solução imediata, em termos de uma proposta concreta, mas não ficam esquecidos, e isso é que é importante”.
Antes da segunda sessão, os participantes na XVI Assembleia Geral do Sínodo vão participar numa vigília penitencial, a 1 de outubro, evocando os sofrimentos da humanidade e também pedindo perdão pelos abusos da Igreja, abusos de poder, abusos sexuais.
Questionado sobre o percurso feito pela Igreja Católica em Portugal, particularmente no que respeita às reparações financeiras às vítimas, nos últimos meses, D. José Ornelas admite que “há certamente pontos a melhorar”. “Aquilo que pretendemos são, no essencial, duas coisas: nestas reparações, mais do que simplesmente uma questão de dinheiro, é uma questão sobretudo de reconhecer o mal que foi feito às pessoas – o tal ato penitencial de reconhecer. Houve coisas muito más, por parte de pessoas, mas também tantas vezes instituições que não tiveram a atitude que deviam ter”, declarou. “Em segundo lugar, criar também possibilidade de fornecer a estas pessoas elementos, para já, de reconhecimento, mas depois também de ajuda”, acrescentou. Relativamente à duplicação de testemunhos, o presidente da CEP considera “lamentável” quando uma vítima tem de repetir o seu depoimento, pedindo que “não se vá além daquilo que é minimamente necessário”. “O que queria dizer a todas as pessoas é que isto vai ser feito o mais possível dentro da proximidade que é necessária para todos estes casos”, refere o bispo de Leiria-Fátima. |
O entrevistado admite que houve um “abrandamento” do entusiasmo nas comunidades católicas, entre a primeira e a segunda sessão, admitindo que essa é uma situação “natural”.
D. José Ornelas afirma que a questão da autoridade e do poder é “fundamental”, no debate sinodal.
“A concentração do poder é constante e na Igreja nós fomos concentrando demasiado sobre a figura do presbítero e do bispo questões que não têm a ver com o seu ministério”, adverte.
Para o presidente da CEP, “se a Igreja se preocupar com a missão, e a sua missão é, antes de mais, ir ao encontro dos que mais sofrem, dos mais pequenos, dos mais frágeis, isso muda a sua feição”.
O bispo de Leiria-Fátima sustenta que “alguma coisa já está a acontecer”, com mudanças concretas: “Nem sequer entrava na equação dedicar horas e horas e horas de reunião com as comunidades paroquiais, vicariais, etc., antes de tomar decisões”.
Para o futuro, D. José Ornelas espera que este processo sinodal deixe como legado “uma outra maneira de dialogar e de tomar decisões”.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)