Sínodo 2021-2024: Novo documento de trabalho apela à inclusão dos «exilados da Igreja»

Proposta para etapa continental recolheu contributos de 112 conferências episcopais, movimentos, associações, pessoas singulares e grupos

Cidade do Vaticano, 27 out 2022 (Ecclesia) – O Vaticano publicou hoje o documento de trabalho para a etapa continental do Sínodo 2021-2024, a partir de sínteses oferecidas por conferências episcopais e organismos católicos, apontando à necessidade de incluir todos, com referência aos “exilados” da Igreja.

“As sínteses mostram com clareza que muitas comunidades já compreenderam a sinodalidade como um convite a pôr-se à escuta daqueles que se sentem exilados da Igreja. Os grupos que experimentam um sentido de exílio são diversos, começando por muitas mulheres e jovens que não sentem reconhecidos os próprios dons e as suas capacidades”, refere o texto divulgado esta quinta-feira, em conferência de imprensa.

Este documento de trabalho foi redigido após um encontro, na cidade italiana de Frascati, de quase 50 pessoas, durante 12 dias de trabalho; o grupo de peritos, que incluiu o sacerdote português Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, foi recebido, em audiência privada, pelo Papa Francisco, a 2 de outubro, no final dos trabalhos.

“A visão de uma Igreja capaz de uma inclusão radical, de pertença mútua e de profunda hospitalidade segundo os ensinamentos de Jesus está no centro do processo sinodal”, indicam.

O texto orientador da segunda etapa do Sínodo, convocado pelo Papa Francisco e que se iniciou há um ano, aponta “notáveis semelhanças entre os vários continentes no respeitante àqueles que são considerados como excluídos, na sociedade e também na comunidade cristã”.

Os contributos recolhidos nas comunidades católicas dos cinco continentes, enviados ao Vaticano nos últimos meses, destaca, em particular, que muitas pessoas “notam uma tensão entre a pertença à Igreja e as próprias relações afetivas”, dando como exemplo “os divorciados recasados, as famílias monoparentais, as pessoas que vivem num casamento polígamo, as pessoas LGBTQ”.

Entre os grupos excluídos mencionados mais frequentemente: os mais pobres, os idosos sozinhos, os povos indígenas, os migrantes sem alguma pertença e que levam uma existência precária, as crianças da rua, os alcoolizados e os drogados, aqueles que caíram nas redes da criminalidade e aqueles para quem a prostituição representa a única possibilidade de sobrevivência, as vítimas do tráfico humano, os sobreviventes aos abusos (na Igreja e não só), os presos, os grupos que sofrem discriminação e violência por causa da raça, da etnia, do género, da cultura e da sexualidade”.

O documento de trabalho para a etapa continental sublinha que “as feridas da Igreja estão intimamente ligadas às do mundo”, citando preocupações de conferências episcopais de diversos países: “os desafios do tribalismo, do sectarismo, do racismo, da pobreza e desigualdade de género”.

“As sínteses convidam-nos a reconhecer especialmente a interconexão entre os desafios sociais e ambientais e a dar-lhes resposta, colaborando e dando vida a alianças com outras confissões cristãs, crentes de outras religiões e pessoas de boa vontade”, pode ler-se.

Numa reflexão sobre os desafios internos, as reflexões propostas por católicos de todo o mundo assumem “o desejo de ser menos uma Igreja de manutenção e conservação, e mais uma Igreja que sai em missão”.

O novo documento cita o relatório enviado desde Portugal, para falar do “sonho de uma Igreja capaz de se deixar interpelar pelos desafios do mundo de hoje e de lhes responder com transformações concretas”.

Foto: Synod.Va

Após a primeira fase deste processo sinodal, chegaram ao Vaticano relatórios 112 das 114 Conferências Episcopais e das Igrejas Católicas Orientais, de Institutos de Vida Consagrada, organismos da Santa Sé, movimentos, associações, pessoas singulares e grupos que inspiram o novo documento orientador para a Etapa Continental, até às Assembleias Sinodais marcadas entre janeiro e março de 2023.

O documento de trabalho tem como tema uma passagem do livro bíblico do profeta Isaías, “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2).

“Alargar a tenda exige acolher outros no seu interior, dando espaço à sua diversidade”, indica a Secretaria-Geral do Sínodo, responsável pela publicação.

A nova fase do processo sinodal assume como objetivo levar as comunidades católicas “além dos territórios mais familiares”.

“A mensagem do Sínodo é simples: estamos a aprender a caminhar juntos e a sentar-nos juntos para partir o único pão, de modo que cada um possa encontrar o seu lugar. Todos são chamados a tomar parte desta viagem, ninguém é excluído”, sublinha o documento orientador.

O Papa anunciou a 16 de outubro que o processo sinodal iniciado em 2021 vai ser prolongado em mais um ano, com uma dupla sessão conclusiva, em 2023 e 2024.

A 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, começou com um processo inédito de consulta e mobilização, de forma descentralizada, a nível de cada diocese, preparando os encontros continentais que vão decorrer nos próximos meses.

Segundo o Vaticano, “milhões de pessoas em todo o mundo foram implicadas nas atividades do Sínodo”, desde outubro de 2021, e “muitos sublinharam que foi a primeira vez em que a Igreja pediu o seu parecer”.

O documento de trabalho assume que, até ao presente, “faltam práticas consolidadas de sinodalidade a nível continental”.

“A introdução de uma etapa específica no processo do Sínodo não constitui um mero expediente organizativo, mas corresponde à dinâmica da encarnação do Evangelho”, sustenta a Secretaria-Geral do Sínodo, a qual pede que pede que todas as assembleias dos próximos meses “sejam eclesiais e não apenas episcopais”.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorrerá de 4 a 29 de outubro de 2023.

O documento de trabalho para a etapa continental (DEC) será enviado a todos os bispos diocesanos.

“Cada um, juntamente com a equipa sinodal diocesana que coordenou a primeira fase, proverá a organizar um processo eclesial de discernimento sobre o DEC”, indica o Vaticano.

Com o envolvimento da própria equipa sinodal, cada Conferência Episcopal tem a tarefa de “recolher e sintetizar, na forma mais apropriada ao seu contexto”, as reflexões vindas das diversas dioceses.

Entre as questões sugeridas para a reflexão, a Secretaria-Geral do Sínodo pede que se identifiquem “quais são as prioridades, os temas recorrentes e os apelos à ação que podem ser partilhados com outras Igrejas locais no mundo e discutidos durante a primeira sessão da Assembleia sinodal em outubro de 2023”.

Sobre a base dos Documentos Finais das Assembleias Continentais, até junho de 2023 será redigido o ‘Instrumentum laboris’ (Instrumento de trabalho) para o primeiro encontro mundial no Vaticano.

As assembleias continentais vão ser desenvolvidas de acordo com a seguinte divisão: Europa (CCEE), América Latina e Caraíbas (CELAM), África e Madagascar (SECAM), Ásia (FABC), Oceânia (FCBCO),
América do Norte (EUA + Canadá) e  Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais).

 

 

Igreja: Sínodo 2021-2023 é «maior acontecimento eclesial» desde o Concílio Vaticano II – Padre Paulo Terroso

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