Documento, enviado para o Vaticano, insiste na necessidade de ouvir os que se «sentem excluídos»
Lisboa, 02 mai 2024 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) sustentou que “ninguém pode ser excluído” do processo de escuta promovido pelo Papa Francisco, posição assumida no relatório sobre a segunda fase da consulta sinodal, divulgado hoje.
“O compromisso de acolhimento e de escuta deve traduzir-se em ações concretas que se dirijam a ‘todos, todos, todos’ sem exceção, procurando, em primeiro lugar, habitar as periferias onde, infelizmente, se encontram cada vez mais irmãos a necessitar de ajuda, material e, sobretudo, espiritual”, refere o documento, elaborado pela equipa sinodal da CEP a partir dos contributos das Dioceses portuguesas e de outros organismos eclesiais.
O texto, enviado à Agência ECCLESIA, sublinha que uma Igreja sinodal se constrói “na diversidade, através de uma escuta ativa e empática, sem posturas de superioridade intelectual, moral ou eclesial, em atitude de discernimento, diálogo e comunhão fraterna”.
Os contributos recolhidos apelam a maior “proatividade na consciência e prática da caridade, em ordem a acolher, integrar e, na medida do possível, ajudar face às dificuldades materiais, culturais, religiosas e sociais”.
O texto da CEP aponta a uma mudança pastoral que permita “criar comunidades em que todos se relacionam e tratam de forma saudável e fraterna, com autêntica amizade e comunhão”.
Importa saber auscultar as vozes dos que, de alguma forma, se sentem excluídos – tais como as famílias reconstruídas, as pessoas separadas, as pessoas com atração pelo mesmo sexo – com o objetivo de integrar na vida da Igreja o seu contributo”.
O texto lamenta uma “certa desconfiança” por parte de algum clero e de leigos, relativamente ao processo sinodal, convidando todos a ver a Igreja como “uma família e não como uma estrutura”.
Após apelar a um “exercício sinodal da autoridade”, nas comunidades católicas, o relatório deixa a sugestão de se criar a figura de um “coordenador pastoral” como “elo entre o pároco e a comunidade”.
Outra proposta é a de “integrar pessoas com deficiência nos Conselhos Pastorais, como forma de reconhecer e valorizar as suas capacidades apostólicas”.
É ainda sugerida uma “maior celeridade e participação laical nos processos de nomeação dos bispos” e uma “cultura de prestação de contas”, por parte dos vários organismos eclesiais, em particular na área económica.
O relatório destaca a importância da formação e da vida litúrgica, pedindo que a Eucaristia seja celebrada “de forma mais cuidada, organizada e participada”, admitindo leigos a assumir mais funções, “nomeadamente na preparação da homilia”.
A síntese reúne os vários contributos num texto destinado à Secretaria-Geral do Sínodo, responsável pela elaboração do documento de trabalho (Instrumentum Laboris) da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (2 a 27 de outubro de 2024).
A CEP está representada na assembleia sinodal por D. José Ornelas, presidente da CEP, e D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC
O relatório foi elaborado pela Equipa Sinodal da CEP, constituída por José Eduardo Borges de Pinho, professor jubilado da Universidade Católica Portuguesa; Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz; padre Eduardo Duque, Professor da Universidade Católica Portuguesa; Carmo Rodeia, diretora do Serviço Diocesano para as Comunicações Sociais da Diocese de Angra; Anabela Sousa, diretora do Gabinete de Comunicação da Conferência Episcopal Portuguesa; padre Manuel Barbosa, secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa. |