Sínodo 2021-2024: Igreja desafiada a promover «plena e igual participação das mulheres»

Novo documento de trabalho sublinha divergência de opiniões nas questões do diaconado feminino e ordenação presbiteral

Foto: Synod.Va

Cidade do Vaticano, 27 out 2022 (Ecclesia) – O novo documento de trabalho para o Sínodo 2021-2024, publicado hoje, desafia a Igreja a “repensar a participação das mulheres” nas suas “práticas, estruturas e hábitos”.

“De todos os continentes chega um apelo a fim de que as mulheres católicas sejam valorizadas, acima de tudo como batizadas e membros do Povo de Deus com igual dignidade”, indica o texto que vai orientar a segunda etapa do processo sinodal lançado pelo Papa e iniciado em outubro de 2021.

Após a primeira fase deste processo sinodal, a nível de cada diocese, chegaram ao Vaticano 112 relatórios das 114 Conferências Episcopais e das Igrejas Católicas Orientais, de Institutos de Vida Consagrada, organismos da Santa Sé, movimentos, associações, pessoas singulares e grupos que inspiram o novo documento orientador para a Etapa Continental, até às Assembleias Sinodais marcadas entre janeiro e março de 2023.

A Secretaria-Geral do Sínodo, responsável pela publicação, destaca o “apelo a uma conversão da cultura da Igreja”, que leve a uma “nova cultura”.

“Isto diz respeito, antes de mais, ao papel das mulheres e à sua vocação, enraizada na sua dignidade batismal comum, para participar plenamente na vida da Igreja. Este é um ponto crítico no qual existe uma consciência crescente em todas as partes do mundo”, pode ler-se no documento divulgado esta quinta-feira, em conferência de imprensa.

A síntese sinodal que chegou da Terra Santa destaca, por exemplo, que “quem se comprometeu mais no processo sinodal foram as mulheres”, tendo “mais a oferecer pelo facto de serem relegadas para uma margem profética, da qual observam o que acontece na vida da Igreja”.

“Não obstante a grande participação das mulheres nas várias atividades eclesiais, são muitas vezes excluídas dos principais processos de decisão”, lamentam, por sua vez, os católicos da Coreia.

A Igreja encontra-se a enfrentar dois desafios relacionados entre si: as mulheres permanecem na maioria dos que frequentam a liturgia e participam nas atividades, sendo os homens uma minoria; contudo, a maior parte dos papéis de decisão e de governo são desempenhados por homens”.

O documento de trabalho para a etapa continental (DEC) foi redigido após um encontro, na cidade italiana de Frascati, de quase 50 pessoas, durante 12 dias de trabalho; o grupo de peritos, que incluiu o sacerdote português Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, foi recebido, em audiência privada, pelo Papa Francisco, a 2 de outubro, no final dos trabalhos.

Foto: Synod.Va

“Quase todas as sínteses levantam a questão da plena e igual participação das mulheres”, sublinham os autores.

O novo texto admite que os contributos recebidos pelo Vaticano “não concordam quanto a uma resposta única e exaustiva à questão da vocação, da inclusão e da valorização das mulheres na Igreja e na sociedade”. “

Muitas sínteses, depois de uma atenta escuta do contexto, pedem que a Igreja prossiga o discernimento sobre algumas questões específicas: papel ativo das mulheres nas estruturas de governo dos organismos eclesiais, possibilidade para as mulheres com adequada formação de pregar no âmbito paroquial, diaconado feminino”, elenca a Secretaria-Geral do Sínodo.

Posições bastante mais diversificadas vêm expressas a propósito da ordenação presbiteral para as mulheres, que algumas sínteses desejam, enquanto outras a consideram uma questão fechada”.

O texto orientador recolhe o contributo dos Institutos de Vida Consagrada, destacando que “nos processos de decisão e na linguagem da Igreja, o sexismo está muito difuso”, alertando que “as religiosas são, muitas vezes, consideradas como mão de obra barata”.

As sínteses recebidas dos cinco continentes assumem o desejo de que “a Igreja e a sociedade sejam para as mulheres um lugar de crescimento, participação ativa e sã pertença”.

“Perante as dinâmicas sociais de empobrecimento, violência e humilhação que enfrentam em todo o mundo, as mulheres pedem uma Igreja que esteja do seu lado, mais compreensiva e solidária no combate destas forças de destruição e exclusão”, acrescenta o DEC.

A fase global de consulta e mobilização das comunidades católicas assumiu o tema do ministério como “central para a vida da Igreja”, destacando “a exigência de conciliar a unidade da missão com a pluralidade dos ministérios”.

“Muitos grupos desejam uma maior participação dos leigos, mas as margens de manobra não são claras: que tarefas concretas podem desempenhar os leigos? Como se articula a responsabilidade dos batizados com a do pároco?”, indica o relatório da Conferência Episcopal da Bélgica.

O DEC recorda a importância de “estruturas e organismos que reflitam autenticamente um espírito de sinodalidade”, como os conselhos pastorais, conselhos económicos, diocesanos e paroquiais, sublinhando a “exigência de que estes organismos não sejam só consultivos, mas lugares em que se tomam decisões”.

O texto tem como tema uma passagem do livro bíblico do profeta Isaías, “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2).

OC

O Papa anunciou a 16 de outubro que o processo sinodal iniciado em 2021 vai ser prolongado em mais um ano, com uma dupla sessão conclusiva, em 2023 e 2024.

A 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, começou, nos últimos meses, com um processo inédito de consulta e mobilização, de forma descentralizada, a nível de cada diocese, preparando os encontros continentais que vão decorrer nos próximos meses.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

 

 

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Agência ECCLESIA

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