Debate sobre diaconado feminino fica de fora da próxima Assembleia Sinodal
Cidade do Vaticano, 09 jul 2024 (Ecclesia) – O documento do trabalho para a próxima Assembleia Sinodal, que vai decorrer em outubro, no Vaticano, desafia os participantes a “explorar outras formas ministeriais e pastorais” para valorizar o papel das mulheres nas comunidades católicas.
“Os contributos recolhidos em todas as fases evidenciaram a necessidade de conferir um maior reconhecimento aos carismas, às vocações e ao papel das mulheres em todos os aspetos da vida da Igreja”, indica o texto, divulgado hoje em conferência de imprensa, pela Santa Sé.
O ‘Instrumentum Laboris’ (IL), documento de trabalho para a segunda sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, nasceu de uma consulta a dioceses e organismos episcopais de todo o mundo.
O documento adverte que, “sem alterações concretas, a visão de uma Igreja sinodal não será credível e afastará os membros do Povo de Deus que retiraram alento e esperança do caminho sinodal”.
“Esta constatação é aplicável ainda com maior rigor no que se refere à participação efetiva das mulheres nos processos de elaboração e na tomada de decisões, como exigido em muitos dos contributos recebidos pelas Conferências Episcopais”, acrescenta.
Fora da segunda sessão fica o debate sobre a admissão das mulheres ao ministério diaconal, assumindo a divisão da assembleia sobre o tema e considerando “conveniente que prossiga a reflexão teológica, com tempos e modalidades adequados”.
“Enquanto algumas Igrejas locais requerem que as mulheres sejam admitidas ao ministério diaconal, outras reafirmam o contrário”, refere o documento de trabalho. Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre os temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo. Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de temas prioritários, entre eles a “pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconado”. “O aprofundamento de algumas questões teológicas e canônicas referentes a formas específicas de ministerialidade eclesial – em particular a questão da necessária participação das mulheres na vida e orientação da Igreja – foi confiado ao Dicastério para a Doutrina da Fé, em diálogo com a Secretaria Geral do Sínodo (Grupo de estudo n.º 5)”, indica o IL. O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica. O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio. Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas. |
Apontando ao processo iniciado em 2021, com uma consulta global às comunidades católicas, a Secretaria-Geral do Sínodo sublinha o “desejo de ampliar as possibilidades de participação e de exercício da corresponsabilidade de todos os batizados, homens e mulheres”.
O novo IL sublinha a necessidade de “participação mais alargada das mulheres nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos decisórios (proposta e tomada de decisões)”.
Outra proposta passa por um “acesso mais alargado a posições de responsabilidade”, das dioceses aos seminários e faculdades de teologia.
O documento de trabalho sugere que leigos de ambos os sexos “possam contribuir para a pregação da Palavra de Deus, inclusivamente durante a celebração da Eucaristia”.
A reflexão destaca a necessidade de reconhecer “ministérios batismais”, ou seja, “serviços não ocasionais, reconhecidos pela comunidade e por quem tem a missão de a guiar”.
Existem, por exemplo, homens e mulheres que exercem o ministério de coordenação de uma pequena comunidade eclesial, o ministério de orientação de momentos de oração (em funerais ou outras ocasiões), o ministério extraordinário da comunhão ou outros serviços não necessariamente de carácter litúrgico”.
O texto, intitulado ‘Como ser Igreja sinodal missionária’, apresenta 112 pontos, divididos em três partes, com uma introdução e uma secção de “fundamentos”.
Uma das questões abordadas relaciona-se com a constituição dos conselhos pastorais organismos similares, em paróquias e dioceses, propondo que a maioria dos membros não seja indicada pela autoridade (bispo ou pároco), mas designada de uma outra forma, que “traduza efetivamente a realidade da comunidade ou da Igreja local”.
“A composição destes organismos requer também uma atenção similar, de modo a favorecer uma maior participação das mulheres, dos jovens e dos que vivem em condições de pobreza ou marginalização”, pode ler-se.
OC
A segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; a primeira sessão decorreu em outubro de 2023.
A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, e D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra. O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja. |