Vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa admite «bolsas de resistência», mas mostra confiança na resposta das comunidades
Cidade do Vaticano, 27 out 2024 (Ecclesia) – D. Vigílio Antunes, vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), afirmou que a Assembleia Sinodal que se conclui hoje no Vaticano vai deixar uma “marca muito forte”, no futuro da Igreja.
“Vai ser uma marca muito forte no futuro, vai ficar uma referência. Não digo que seja como o Concílio Vaticano II, evidentemente, porque são realidades de âmbito diferente, mas, de algum modo, pode aproximar-se no seu significado para a Igreja daquilo que foi o Concílio Vaticano II nos anos 60”, refere o bispo de Coimbra, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença.
O responsável, um dos dois delegados da CEP na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, fala numa “uma experiência inesquecível”, que nasceu por iniciativa do Papa, em 2021, com uma consulta global para “sentir o povo de Deus, de uma forma muito alargada, como nunca, provavelmente, teria acontecido na história da Igreja”.
Para D. Virgílio Antunes, este processo “vai deixar marcas”, assumindo a “complexidade” e a “grandeza” da vida da Igreja.
“Há muitas pessoas, em todas as comunidades, que estão à margem e não se sentem integradas e, às vezes, não sentiram aquela palavra de carinho, de amor, de acolhimento, que faz a mudança”, adverte.
O bispo de Coimbra sustenta que “a via de Deus é sempre de abertura a toda a humanidade”.
“Há um desejo muito grande, por grande parte do povo de Deus, de dar continuidade a este processo e a este caminho sinodal”, acrescenta.
Questionado sobre a receção ao documento final, o vice-presidente da CEP admite “reações muito diferentes”, considerando que o atual Sínodo “vai unir e congregar pessoas, vai fazer sentir a Igreja mais comunhão”.
“Não vai ser, como a certa altura se pensou, o Sínodo da discórdia e da divisão e da rutura ou dos cismas. E isso acho que é exatamente a força do Espírito Santo”, acrescenta.
O bispo de Coimbra considera que é “preciso ir mais lento para ir mais seguro”.
“Andar, nalguns casos, de uma forma mais lenta, significa que se pode andar mais seguros, mas não significa perder o horizonte”, indica.
Às vezes há pessoas que pensam que a Igreja está a zero, no que diz respeito à participação dos fiéis, no que diz respeito aos órgãos de comunhão, de corresponsabilidade e agora, de um momento para outro altera as coisas. Não é a realidade”.
O entrevistado sustenta que, em muitos lugares da Igreja, “já há uma participação ativa e muito responsável, interventiva, de pessoas, leigos de todas as condições, homens, mulheres, consagrados”.
“Há um caminho muito longo, mas não é um começar tudo do princípio”, afirma.
D. Virgílio Antunes considera “natural” que exista cansaço, quando o processo se “alonga” e fala em “bolsas de resistência” à dinâmica sinodal.
“Vai haver também algumas dificuldades e resistências, como sempre tem acontecido” prossegue.
Quanto aos temas que vão continuar a ser tratados pelos grupos de trabalho criados pelo Papa, até ao verão de 2025, entre eles o papel das mulheres, o delegado da CEP entende que “todos precisam de ser estudados, todos precisam de um aprofundamento teológico e, nalguns casos, também canónico”.
“Acolher a todas as sensibilidades, a todas as perspetivas, sem pôr em causa o Evangelho, sem pôr em causa a doutrina e a tradição, é quase uma quadratura do círculo”, realça.
A 13 de outubro, a Diocese de Coimbra promoveu o primeiro Sínodo dos Jovens, que o bispo local vê como um “grande momento”.
“Não há outra forma de fazer este trabalho senão envolvendo os jovens, em todas as fases do processo”, sustenta.
O responsável destaca a opção por promover “um Sínodo dos jovens, não simplesmente um Sínodo da Igreja sobre os jovens ou para os jovens”.
“Gostaríamos que o nosso Sínodo dos Jovens fosse uma palavra, um gesto e um sinal de muita esperança para a Igreja”, conclui.
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)