Grupo centrou-se em três temáticas, a humanidade, a universalidade, e a ideia de «Igreja Cidadã»
Lisboa, 24 jun 2022 (Ecclesia) – Um grupo de crentes e não crentes reuniu regularmente durante três meses para que o processo sinodal 2021-2023 “não deixasse de ouvir quem está fora da Igreja” e ter uma reflexão que desse resposta aos sucessivos apelos do Papa Francisco.
“Move-nos o empenho de contribuir para uma humanidade melhor; Move-nos, finalmente, a visão de uma Igreja aberta à diversidade e inclusiva. Nesse sentido, ocupámo-nos com os problemas e desafios relacionados com obstáculos e condições de humanização das sociedades atuais”, lê-se na reflexão enviada à Agência ECCLESIA e para a Secretaria do Sínodo dos Bispos.
“Problemas sociais, velhos e novos, que vão da persistência da condição de subalternidade das mulheres nos processos de tomada de decisão e de todas as formas estruturais de iniquidade, pobreza e exclusão, aos processos de transição justa nos domínios digital, energético e ecológico e aos desafios da relação entre a ética e o progresso científico e tecnológico”, explicam.
O grupo de crentes e não crentes centrou-se em três temáticas – humanidade, universalidade, e a ideia de “Igreja Cidadã”, como “condição indispensável para o cumprimento das duas primeiras – e cada uma foi analisada observando os desafios que levanta e as “vias de transformação” que se podem desenvolver.
Na temática ‘Igreja Cidadã’, o grupo de reflexão destacou três aspetos, a situação das mulheres na Igreja, as problemáticas relacionadas com a orientação sexual e a violação dos direitos humanos no interior da própria Igreja.
Estes crentes e não crentes, salientam que as mulheres “têm sido remetidas a um papel de servir em silêncio e em subalternidade uma ordem masculina omnipresente”, é necessário uma reversão estrutural e a Igreja Católica “deveria promover” um Sínodo específico sobre o papel da mulher numa Igreja Inclusiva.
Um sínodo que faça o diagnóstico da situação e se desenvolva uma “reflexão antropológica e sociológica” que deixe de se preocupar com a especificidade das mulheres e se centre, claramente, na “afirmação da igualdade humana de homens e de mulheres, superando as visões de complementaridade”.
No segundo aspeto alertam que os seres humanos que “não partilham da orientação sexual hegemónica (a heterossexualidade)” têm sido tradicionalmente excluídos da Igreja; a “superação da homofobia, do heterossexismo e do binarismo de género” requerem uma mudança profunda dos valores culturais, “reconstruindo mapas mentais e estruturas sociais que permitam viver uma igualdade de estatutos”, com paridade de reconhecimento na esfera pública.
“Importa que a Igreja aceite, num plano de igualdade, a multiplicidade de orientações sexuais e de géneros que fazem parte da humanidade, tanto ao nível discursivo, como nos diferentes corpos que a constituem”, acrescentam
Sobre a violação dos direitos humanos no interior da própria Igreja, nomeadamente os abusos sexuais, consideram que deve reconhecer “a sua culpa negligente e conivente” na construção de crianças e adultos.
“Uma ‘Igreja Cidadã’ previne esses abusos, nomeadamente através da alteração de modos e conteúdos da formação eclesiástica, repensando o internato em Seminários, abrindo a formação a homens e mulheres. E repensa, também, a obrigatoriedade do celibato, concluem.
O Sínodo 2021-2023, subordinado ao tema ‘Para Uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão, ’promove um processo global de escuta e mobilização das comunidades católicas, com etapas diocesanas, nacionais e continentais antes da assembleia que o Vaticano vai receber, em outubro de 2023.
CB/PR