Sínodo 2021-2023: Diocese da Guarda reconhece «crescente défice de padres» e comunidades fechadas «sobre si mesmo»

«Pessoas ainda pensam na Igreja como espaço essencialmente do culto e da liturgia» , indica síntese divulgada pela Comissão Sinodal

Guarda, 31 mai 2022 (Ecclesia) – A Diocese da Guarda divulgou a síntese local para o Sínodo dos Bispos 2021-2023, convocado pelo Papa, apontando como desafios o “envelhecimento das comunidades cristãs, crescente défice de padres” e as comunidades fechadas “sobre si mesmo”.

“São focadas algumas realidades socioculturais como, por exemplo, o individualismo vincado e o excessivo moralismo, em geral, mas dá-se destaque particular ao envelhecimento da população e baixa taxa de natalidade, ao contínuo envelhecimento das comunidades cristãs e do clero, ao inevitável declínio das vocações e ao crescente défice de padres com a atribuição de um número cada vez maior de paróquias”, pode ler-se no documento, divulgado online e enviado à Agência ECCLESIA.

A partir de mais de 1500 respostas aos inquéritos, num envolvimento de cerca de 2000 pessoas das mais diferentes faixas etárias, a Comissão Sinodal da Diocese da Guarda destaca que os participantes “foram maioritariamente pessoas ligadas a realidades ou movimentos eclesiais, pessoas de meia-idade e idosas, empenhadas na vida paroquial”.

A dinâmica sinodal “foi bem recebida”, tendo sido considerado um momento de olhar “para dentro”, numa verdadeira “experiência de encontro” e onde foi dado a entender que “as pessoas ainda pensam na Igreja como espaço essencialmente do culto e da liturgia”.

“Fica-se com a sensação de que o conhecimento sobre a Igreja se reduz bastante a esta ação ad intra”, refere a síntese.

O texto aponta ainda que “a Eucaristia dominical continua a ser o principal acontecimento de congregação das pessoas” e indica que “os sacerdotes têm pouco tempo para as pessoas, para interagir com elas fora do espaço sagrado”.

“Os fiéis gostavam de os ver mais próximos deles e também gostavam que as celebrações fossem mais dinâmicas, com mais vida e maior abertura”, destaca.

No documento é apresentado o rosto da Igreja como “pouco apelativo e de difícil compreensão” e a consequente “dificuldade sentida pela Igreja em cativar e congregar os jovens, tem causas internas como a linguagem algo cifrada, a escassez do testemunho, o receio da criatividade, o pouco acompanhamento, mas também alguns tabus que permanecem”.

“As crianças e os jovens deverão ser uma prioridade na pastoral paroquial e diocesana. E como esta realidade está intimamente relacionada com as famílias, entende-se que também estas são prioritárias na ação pastoral da Igreja”, salienta.

“O afastamento crescente de muitas das pessoas batizadas da Igreja” e “também grupos de pessoas, nomeadamente das pessoas com contextos familiares não conformes com as normas da Igreja” são outra realidade que consta no documento, considerando-se “necessária uma mudança de atitudes para que todos os batizados, não obstante as suas diferenças, se sintam como companheiros de viagem”.

“É urgente passar a um modelo pastoral integrador, de comunhão, configurado sobre a unidade fundamental de exigências, objetivos, dignidade, e sobre a diversidade de dons e carismas, de funções e necessidades. A Igreja é uma comunhão de diferentes”, pode ler-se.

Os participantes desta fase do Sínodo revelaram que se sentem “pouco escutados pela hierarquia” e deixam a sugestão da organização de “fóruns e espaços onde as pessoas possam falar abertamente das questões relacionadas com a Igreja”.

A formação dos leigos é apontada como “uma necessidade cada vez maior” mas surge também referida a indisponibilidade dos leigos para “assumir ministérios e serviços”; a valorização do papel da mulher é “reconhecido”.

“É considerado que tanto a Diocese como as paróquias são inclusivas. Não obstante, deixam-se notas explícitas de muitas exclusões e, entre elas, uma merece particular preocupação numa diocese envelhecida: a falta de atenção ou mesmo exclusão das pessoas idosas”, assinala a síntese.

No texto está integrado o pedido que a “Igreja encare e abrace alguns temas tabus, relacionados sobretudo com a sexualidade e assuntos fraturantes, tais como: recasados, uniões de facto, homossexualidade, celibato, papel da mulher, ordenação de mulheres, ordenação de homens casados”.

A primeira fase do processo sinodal chega ao fim este mês, com as várias dioceses portuguesas a ultimar uma síntese do trabalho realizado a nível local, que vão entregar à Conferência Episcopal.

SN

Sugestões/conclusões

1) Melhorar a comunicação e linguagem. Sendo a comunicação um fator tão importante nos dias de hoje, também a Igreja tem de se qualificar nesse sentido. A sua linguagem tem de ser cada vez mais adequada e ajustada à realidade e aos seus destinatários.

2). Fomentar o acolhimento e o acompanhamento, onde se destaca o Ministério do Acolhimento. É fundamental que sejam mobilizadas condições para acolher todos, incluindo os que se encontram nas periferias ou estão afastados, e com eles fazer caminho, descobrindo o desejo de Deus para cada um.

3). Dar lugar à formação do laicado, que deverá ser vista como um desígnio e um imperativo. Formação que será teológica, bíblica, pastoral e espiritual. Reformular e revitalizar a catequese, para ser mais kerigmática e testemunhal, incrementando a catequese de adultos e a catequese com as famílias.

4). Promover a participação laical e a corresponsabilidade eclesial, com a criação e valorização de espaços de encontro e diálogo, ao nível da Diocese e das paróquias, e o progresso para uma dimensão deliberativa.

5). Valorizar, revitalizar, criar ou implementar ministérios laicais, a começar pelos já existentes (acolitado, leitorado e catequista), mas a acrescentar outros, onde se destaca a proposta de criação do Ministério do Acolhimento.

6). Valorizar os movimentos, procedendo a uma articulação efetiva entre eles de modo a que cada um, com o seu carisma, contribua para o crescimento do Reino.

7). Considerar novas realidades eclesiais, tais como o celibato opcional, a ordenação de homens casados, a ordenação de mulheres, o papel das mulheres na Igreja. Criar espaços de aprofundamento da reflexão acerca destas temáticas.

8). Prestar maior atenção e procurar respostas dignas a novas situações: minorias e situações fraturantes, tais como as decorrentes de situações familiares menos tradicionais, orientação sexual, classes sociais ou periferias existenciais, construindo com elas a sua história pessoal à luz da Boa Nova de Salvação.

9). Concretizar e implementar a desejada reorganização diocesana que já está prevista, melhorando assim a coordenação pastoral e a pastoral de conjunto. Fomentar espaços de diálogo e de partilha para que todo o povo de Deus possa colaborar na construção de uma Igreja mais missionária que materialize o desejo expresso de reorganização diocesana.

10). Incentivar e incrementar a pastoral juvenil e familiar, de modo a chegar a todos os espaços e vivências existentes na Diocese.

11). Reforçar a abertura da Igreja a outras instâncias da sociedade: política, economia, cultura, área social, saúde, entre outras, desbravando e aprofundando novos caminhos de diálogo para que a dimensão da Igreja esteja mais presente no mundo, integrando e iluminando as várias dinâmicas sociais.

12). Criar espaços de comunhão e sinodalidade, institucionalizando espaços e estruturas de diálogo, escuta e reflexão corresponsável, tais como grupos de diálogo, fóruns abertos, assembleias de fiéis, dando continuidade ao processo sinodal agora iniciado e promovendo uma participação mais abrangente de todo o povo de Deus.

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Agência ECCLESIA

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