Objetivo é mostrar imagens de «impacto» para o público, de resistência e de esperança, diz curador da mostra
Roma, 12 out 2019 (Ecclesia) – A igreja de Santa Maria em Traspontina, junto ao Vaticano, acolhe durante o Sínodo especial para a Amazónia uma exposição dedicada às consequências da mineração na região, com imagens de destruição, com mensagens de resistência.
“Esta exposição representa cenas de impacto mas também de resistência e de esperança de vários países, a maior parte no Brasil. Tem imagens muito fortes de outros países latino-americanos, cenas em que a mineração afeta diretamente o meio ambiente, e a vida das comunidades”, disse à Agência ECCLESIA o padre Dario Bossi, missionário comboniano e curador da mostra.
A exposição ‘Mineração: Mal Comum na Amazónia’ procura alertar para as consequências do “extrativismo e da mineração, que cada vez mais invade” a região, e fazer ligação com o tema do Sínodo especial dos Bispos, a decorrer de 6 a 27 de outubro, por iniciativa do Papa Francisco.
O padre Dario Bossi, provincial dos Combonianos no Brasil, considera que este espaço funciona como “um sínodo fora dos muros do Vaticano, em perfeita continuidade”.
Todos os dias, durante a assembleia sinodal, a igreja de Santa Maria em Traspontina acolhe “uma oração sobre os mártires da Amazónia” e promove debates, com bispos e pessoas das comunidades da Amazónia “diretamente atingidas pela mineração”.
“É um espaço para abrir a visão e fizemos questão de trazer esse tema para dialogar com o mundo ocidental, europeu, que, de certa maneira, é aquele que está mudando e dando o ritmo para essa dinâmica extrativa”, acrescentou o religioso, assinalando que a maior parte das empresas extrativistas “têm sede fiscal ou são cotadas nas bolsas de países europeus”.
O sacerdote trabalhou mais de 10 anos no corredor de Carajás, da exportação do minério de ferro, onde tentou “ajudar as comunidades a defender os seus direitos ao território”
Nesta região do nordeste do Brasil, acrescenta, existe a “maior mina de ferro a céu aberto no mundo, no coração da floresta amazónica”, que extrair e exporta para a China, o Japão, os EUA e Europa, “passado por 900 quilómetros dos territórios”.
“Há uma ligação direta e total entre o mundo amazónico e o mundo em geral. Não pode falar da Amazónia sem não trabalhar as políticas económicas, a urgência de resposta à emergência climática, os estilos de vida de consumo nos países”, salienta o entrevistado.
O Papa Francisco tem denunciado o “neoextrativismo” na região e o padre Dario Bossi explica que se entende como “uma forma maciça de retirar os bens comuns” da Amazónia, particularmente o minério e o petróleo, como também se pode entender para o monocultivo – como a soja -, “cada vez mais, uma ameaça”.
Segundo o missionário comboniano, as “grandes companhias multinacionais” que tiram o minério da Amazónia “respondem aos interesses financeiros” e, esse neoextrativismo está a ter “muitos impactos”, com “a maior parte dos governos latino-americanos” a optar pelo “rendimento rápido”, uma visão “muito curta de política”.
A exposição é organizada pela Rede ecuménica ‘Igrejas em mineração’ – com a Comissão Pastoral da Terra e a entidade de cooperação espanhola ‘Manos Unidas’ – que trabalha na América Latina e tenta “resgatar as espiritualidades e a força da fé” das comunidades que procuram “resistir aos impactos da mineração”.
O padre Dario Bossi contextualiza que a rede “oferece formação, articulação e organização” às comunidades, além de “motivar” os responsáveis católicos a estar cada vez mais próximos das vítimas da mineração.
A mostra pode ser visitada na igreja Santa Maria em Trapontina (Via della Conciliazione – Roma), durante o sínodo para a Amazónia, a partir das 08h00 locais.
OC/CB