Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Fotos: Ricardo Perna/Família Cristã
Cidade do Vaticano, 27 out 2018 (Ecclesia) – O documento final do Sínodo 2018, apresentado hoje no Vaticano, foi aprovado na sua totalidade, apresentando como pontos de maior debate a sexualidade, os abusos e o papel das mulheres e jovens na Igreja.
“O Sínodo reforça que Deus ama cada pessoa e assim faz a Igreja, renovando o seu compromisso contra qualquer discriminação e violência com base sexual”, assinala o número 150, ponto com maior número de votos contra.
O texto é relativo aos “caminhos de acompanhamento na fé das pessoas homossexuais”, que o Sínodo quer “favorecer”.
“Desta forma, ajuda-se cada jovem, sem excluir ninguém, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na sua própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o dom de si”, pode ler-se, no documento, distribuído em italiano.
O texto fala em “inclinações sexuais”, sem qualquer referência à discutida sigla LGBT, que se encontrava no documento de trabalho, e considera redutor “definir a identidade das pessoas a partir, unicamente, da sua ‘orientação sexual’”.
Os participantes admitem, antes, a dificuldade em transmitir a “beleza da visão cristã” sobre o corpo e a sexualidade, propondo uma “antropologia da afetividade e da sexualidade” aos jovens, que apresente o “justo valor da castidade”.
Neste sentido, pede-se que se apliquem mais “energias eclesiais” neste campo, para transmitir o ensinamento católica e a Teologia do Corpo, desenvolvida por São João Paulo II, entre outras.
Esta tarde, 249 padres sinodais (participantes com direito a voto) discutiram e votaram o documento final, com um um total de 167 pontos, todos eles aprovados com a requerida maioria de dois terços dos votantes.
Abusos Sexuais
O texto realça a necessidade de “reagir a todos os tipos de abuso” e “pedir perdão” pelo sofrimento causado por “alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos” nas vítimas, entre elas muitos jovens.
A questão é apresentada como um “sério obstáculo” à missão da Igreja, pelo que o Sínodo afirma um “sério compromisso” de adotar “medidas rigorosas” de prevenção, a partir da “seleção e formação” dos que têm responsabilidades educativas.
O documento elenca “abusos de poder, económicos, de consciência e sexuais”, agradecendo aos que tiveram a “coragem de denunciar o mal sofrido”.
O Sínodo reconhece que, para enfrentar a questão dos abusos em todos os seus aspetos, também com a preciosa ajuda dos jovens, pode ser verdadeiramente uma oportunidade para uma reforma de dimensão epocal
As mulheres na Igreja
A partir das posições manifestadas pelos jovens, o documento final sublinha a vontade de que exista “um maior reconhecimento e valorização das mulheres na sociedade e na Igreja”.
“Em muitos locais, demora-se a dar-lhes espaço nos processos de decisão, mesmo quando não exigem responsabilidades ministeriais específicas. A ausência da voz e do olhar feminino empobrece o debate e o caminho da Igreja”, refere o texto, entregue ao Papa.
O Sínodo defende que há “urgência de uma mudança que não se consegue evitar”, a partir de uma reflexão antropológica e teológica sobre a “reciprocidade entre homens e mulheres”.
Este processo quer levar a um debate sobre “a condição e o papel das mulheres” na Igreja e na sociedade, algo que é pedido pelos jovens “com grande força”, pode ler-se.
Um âmbito de particular importância, a este respeito, é o da presença feminina nos organismos eclesiais a todos os níveis, também em funções de responsabilidade, e da participação feminina nos processos eclesiais de decisão, no respeito pelo papel do ministério ordenado
Sinodalidade
Particularmente discutida no processo que levou à 15.ª assembleia geral ordinária, o conceito de sinodalidade suscitou vários números dedicados ao tema, sublinhando que “o percurso sinodal não acabou, ainda”, pelo que o documento final se apresenta como um “mapa para orientar os próximos passos que a Igreja é chamada a dar”.
Os pontos relativos a este tema tiveram um maior número de votos contra do que a maioria do documento.
“A Igreja é chamada a assumir um rosto relacional, que coloca no centro a escuta, o acolhimento, o diálogo, o discernimento comum, num processo que transforma a vida de quem participa”, referem os participantes no Sínodo 2018.
Uma das propostas refere-se ao reforço da atividade do secretariado para os jovens do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Santa Sé), com a “constituição de um organismo de representação dos jovens a nível internacional”.
“O Sínodo pede que se torne efetiva e ordinária a participação ativa dos jovens nos lugares de corresponsabilidade das Igrejas particulares, bem como nos organismos das Conferências Episcopais e da Igreja universal”.
Este domingo, o Papa preside à Missa que assinala o encerramento solene da assembleia sinodal, a partir das 10h00 (menos uma em Lisboa), no Vaticano; antes da bênção final, na Eucaristia, vai ser lida a carta aos jovens, escrita pelos participantes na 15.ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos.
O encontro iniciado a 3 de outubro contou com a participação inédita de mais de três dezenas de jovens convidados e foi o primeiro a utilizar o português como língua oficial, nos trabalhos.
OC
A reportagem no Sínodo dos Bispos é realizada em parceria para a Agência Ecclesia, Família Cristã, Flor de Lis, Rádio Renascença e Voz da Verdade, com o apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre