Missa inaugural da assembleia de Bispos apresentou «verdade» e «caridade» como chaves para o debate sobre as famílias, sem «apontar o dedo» a quem errou
Cidade do Vaticano, 04 out 2015 (Ecclesia) – O Papa inaugurou hoje a nova assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a família com uma homilia em que apresentou “verdade” e “caridade” como chaves do debate de três semanas.
“Neste contexto social e matrimonial bastante difícil, a Igreja é chamada a viver a sua missão na fidelidade, na verdade e na caridade”, declarou, na Missa a que presidiu na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Francisco desafiou por isso a Igreja a propor “o significado autêntico do casal e da sexualidade humana no projeto de Deus”, num “amor conjugal único e usque ad mortem” (até à morte).
“Paradoxalmente, também o homem de hoje – que muitas vezes ridiculariza este desígnio – continua atraído e fascinado por todo o amor autêntico, por todo o amor sólido, por todo o amor fecundo, por todo o amor fiel e perpétuo”, prosseguiu.
Esta verdade, acrescentou o pontífice argentino, “não se altera segundo as modas passageiras ou as opiniões dominantes”.
“Parece que as sociedades mais avançadas são precisamente aquelas que têm a taxa mais baixa de natalidade e a altas percentagens de abortos, de divórcios, de suicídios e de poluição ambiental e social”, advertiu.
A intervenção multiplicou apelos à defesa do “amor fiel”, da “sacralidade da vida” e da “unidade e indissolubilidade do vínculo conjugal”, citando a este respeito os seus diretos predecessores, São João Paulo II e Bento XVI.
O Papa acrescentou que este compromisso de uma Igreja que “ensina e defende os valores fundamentais” é assumido sem “apontar o dedo para julgar os outros”, mas no esforço de “procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia”.
“Uma Igreja que educa para o amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de bom samaritano da humanidade ferida”, precisou.
Francisco falou do Sínodo como um “acontecimento de graça” para a Igreja, começando a sua intervenção a partir de três questões: “o drama da solidão, o amor entre homem-mulher e a família”.
A este respeito, recordou os efeitos da solidão, entre outros, sobre os que foram abandonados pelo seu marido ou a sua mulher, bem como sobre os migrantes e refugiados ou os jovens vítimas da “cultura do consumismo”.
Segundo o Papa, há cada vez “menos seriedade em levar por diante uma relação sólida e fecunda de amor: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na boa e na má sorte”.
“O objetivo da vida conjugal não é apenas viver juntos para sempre, mas amar-se para sempre. Jesus restabelece assim a ordem originária e originadora”, precisou.
A celebração reuniu cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos e padres membros da 14ª assembleia geral ordinária do Sínodo, sobre o tema ‘A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, que decorre até 25 de outubro.
A Conferência Episcopal Portuguesa tem como delegados D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, e D. Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco.
Mais tarde, na oração do ângelus, Francisco retomou a reflexão sobre o Sínodo.
“Vamos manter o nosso olhar fixo em Jesus para encontrar, com base no seu ensinamento de verdade e misericórdia, as vias mais adequadas para um empenho adequado da Igreja com as famílias e para as famílias, para que o plano original do Criador sobre o homem e a mulher se possa realizar e operar em toda a sua beleza e força no mundo de hoje”, revelou.
O Papa recordou depois em particular as situações que atingem "muitas crianças esfomeadas, abandonadas, exploradas, forçadas à guerra, recusadas".
"É doloroso ver as imagens de crianças infelizes, com o olhar perdido, fugindo da pobreza e dos conflitos, e que batem às nossas portas e aos nossos corações implorando ajuda", confessou Francisco.
OC