Sínodo 2014: Igreja assume urgência de debater situação das famílias

Distância entre propostas católicas e práticas sociais vai centrar atenções durante duas semanas de trabalhos

Lisboa, 04 out 2014 (Ecclesia) – Francisco convocou pela primeira vez em quase 30 anos uma assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos, com início marcado para domingo, para dar início ao debate sobre a situação das famílias, com atenção à crise “cultural, social e espiritual” que as atinge.

Mais de 250 participantes, incluindo D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, vão reunir-se nesta assembleia consultiva, até 19 de outubro, partindo de um documento de trabalho (instrumentum laboris) em que se realça o “crescente contraste” entre os valores propostos pela Igreja sobre matrimónio e família e a “situação social e cultural” em todo o planeta.

A relativização do conceito de ‘natureza’, pode ler-se, reflete-se também no “conceito de «duração» estável” em relação à união matrimonial, levando à “prática maciça do divórcio” e a dissolver “o vínculo entre amor, sexualidade e fertilidade”.

O debate lançado em finais de 2013, com a ajuda de um inquérito global, centrou-se em vários meios eclesiais e sociais no ‘divórcio católico’ e na possibilidade de os divorciados recasados acederem à Comunhão.

O documento de trabalho rejeita uma “mentalidade reivindicativa” em relação aos sacramentos, apelando à compreensão da “relação intrínseca entre matrimónio, Eucaristia e penitência”.

"Parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível, norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer uma ajuda concreta para a educação dos filhos", pode ler-se.

Nas respostas que chegaram ao Vaticano recorda-se a prática de determinadas Igrejas ortodoxas que “abre o caminho para um segundo ou terceiro matrimónio, com caráter penitencial”, mas o documento de trabalho insiste, sobretudo, na importância de verificar a “eventual nulidade matrimonial”.

“Muitos apresentam pedidos relativos à simplificação” dos processos canónicos, precisa-se.

Os bispos assumem ainda os desafios que decorrem da “contraceção” e da falta de “abertura à vida” em várias famílias, recordando as “objeções radicais” ao ensinamento da Igreja.

Além da “mentalidade contracetiva”, o documento de trabalho critica também a “presença maciça da ideologia do género” e recorda a responsabilidade civil dos cristãos na defesa da “vida nascente”.

O documento refere-se às pessoas que vivem em uniões do mesmo sexo e assinala que as “reações extremas”, tanto de condescendência como de intransigência, “não facilitaram o desenvolvimento de uma pastoral eficaz”.

A violência doméstica, as situações de crise, precariedade ou desemprego e o “impacto negativo” dos media sobre a família estão entre os temas propostos.

O texto alude a uma “distância preocupante” entre a família nas formas em que hoje é conhecida e o ensinamento da Igreja a este propósito, reforçando a importância da preparação para o matrimónio e a promoção de uma espiritualidade familiar.

O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia geral ordinária de 4 a 25 de outubro de 2015, cujo tema é ‘Jesus Cristo revela o mistério e a vocação da família’.

Até hoje houve 13 assembleias gerais ordinárias e duas extraordinárias: a primeira em outubro de 1969, para debater a cooperação entre a Santa Sé e as Conferências Episcopais; a segunda em 1985, pelo 20.º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II.

OC

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Agência ECCLESIA

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