Sinodalidade: Natureza consultiva dos órgãos de corresponsabilidade na Igreja «é anacrónica»

José Eduardo Borges de Pinho defendeu na conferência inaugural do Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica uma realidade «pluriministerial ao serviço da missão»

Foto SNL, José Eduardo Borges de Pinho

Fátima, 05 set 2023 (Ecclesia) – O teólogo José Eduardo Borges de Pinho afirmou esta segunda-feira no Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica que a participação corresponsável na Igreja enraíza-se nos sacramentos da iniciação cristã, considerando anacrónica a natureza consultiva de órgãos de corresponsabilidade.

“A insistência obsessiva no caráter meramente consultivo dos órgãos de corresponsabilidade na vida da Igreja não favorece caminhos de autoridade partilhada. Tendo estes órgãos uma finalidade eminentemente pastoral e não estando em causa questões que pertençam ao conteúdo irrenunciável da fé da Igreja, a fixação canónica atual neste ponto é anacrónica, contrária à consciência cristã e cívica de muitos crentes e não atende devidamente à importância do sentido da fé dos fiéis”, afirmou Borges de Pinho.

Na conferência inaugural do Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, que começou em Fátima esta segunda-feira, o teólogo abordou o tema “Ministérios e Sinodalidade”, referindo que o exercício da autoridade na tomada de decisões pastorais deve refletir uma “consciência sinodal”.

A autoridade tem o dever moral de saber escutar e de seguir opções maioritárias que se revelem fundamentadas e consistentes em termos pastorais”.

Para o teólogo, professor jubilado da Universidade Católica Portuguesa, é também necessário fomentar o trabalho conjunto entre as dioceses, os seus bispos, numa “colegialidade não apenas afetiva mas efetiva” e que implemente “orientações e decisões básicas num dado espaço sociocultural”, considerando que “o futuro dos ministérios da Igreja está dependente da qualidade sinodal da vida das igrejas locais e da existência ativa de instâncias colegiais sinodais”.

José Eduardo Borges de Pinho começou por se referir à “pluralidade imensa de vocações, inúmeros serviços e alguns ministérios” na Igreja, afirmando que que se enraízam nos “sacramentos da iniciação cristã”, Batismo, Confirmação, Eucaristia.

O serviço de animação pastoral, setorial ou global, de coordenação de uma paróquia ou unidade pastoral, exercido por cristãos leigos, fundamenta-se exclusivamente nos sacramentos de iniciação cristã e eventualmente também no sacramento do matrimónio, não numa qualquer derivação do sacramento da ordem ou participação na realidade sacramental conferida pela ordenação”.

“Os ministérios batismais não podem ser pensados nem exercidos numa perspetiva de suplência, como algo de extraordinário ou excecional, que não teria razão de ser se houvesse um número suficiente de ministros ordenados”, afirmou.

Borges de Pinho defende a “superação do binómio clérigos/leigos em ordem a uma Igreja pluriministerial ao serviço da missão” e a “diversificação da estrutura ministerial da Igreja” para que seja capaz de “responder com qualidade e eficácia pastorais às exigências da missão”.

A diversificação de competência e especializações pastorais é uma exigência ineludível sob pena de se falhar no anúncio credível e humanamente significativo do Evangelho”.

Foto Ricardo Perna, aula sinodal no Vaticano

Na sua comunicação, o teólogo referiu-se a “limites e bloqueios da receção conciliar na conceção dos ministérios”, considerando que se tem vindo a “sacralizar o ministério ordenado, vendo-se o ministério presbiteral como um “poder sagrado individualmente recebido” e não como “uma missão”, como “anúncio do Evangelho”.

Borges de Pinho defendeu uma “ingente tarefa de repensar teológica e pastoralmente os ministérios eclesiais no seu conjunto, seus desafios atuais e suas configurações futuras”, considerando que o acesso das mulheres aos ministérios instituídos e ao ministério de catequista representa sobretudo “um avanço significativo” no “plano  simbólico geral, convidando a ultrapassar bloqueios existentes e mentalidades retrógradas”.

Para o teólogo português, “crescer como Igreja sinodal implica o discernimento conjunto dos ministérios de que a Igreja precisa para o serviço do mundo”, de acordo com cada realidade geográfica e reconsiderando o papel da mulher na vida da Igreja.

O futuro dos ministérios pastorais tem decisivamente a ver com a forma como no espaço católico houver disponibilidade para reconsiderar, com todas as consequências mentais, culturais, teológicas e canónicas, o papel da mulher na vida da Igreja”.

Para José Eduardo Borges de Pinho, “há condicionamentos e atavismo do passado” que continuam a pesar no presente e “dificultam as clarificações inadiáveis que urge fazer”.

Com o tema “Ministérios na Igreja Sinodal, o 47º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica decorre em Fátima, até esta quinta-feira, e é promovido pelo Secretariado Nacional de Liturgia; a gravação audio das conferências proferidas durante este encontro são divulgadas em www.liturgia.pt.

PR

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Agência ECCLESIA

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