Sinodalidade, concertação e renovação

Alfredo Teixeira, teólogo e antropólogo, analisa o alcance e as novidades da auscultação sobre a família no contexto do Sínodo dos Bispos

Lisboa, 22 fev 2014 (Ecclesia) – O antropólogo Alfredo Teixeira, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), afirmou que o interesse gerado pelo questionário para Sínodo dos Bispos sobre a família mostrou que as pessoas sentiram que o Papa estava “genuinamente interessado em ouvi-las”.

“O que é verdadeiramente novo é a atenção que sociedade em geral e em particular os católicos mostraram face a esta inquirição”, refere, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O texto preparatório para o próximo Sínodo foi acompanhado por um questionário com 38 perguntas para promover uma consulta alargada às comunidades católicas sobre as principais questões ligadas à família e ao casamento.

“As pessoas não se mobilizam para responder se não perceberem que aquilo que vão dizer pode ser ouvido. O que gerou um problema: todo este processo foi um pouco caótico”, assinala Alfredo Teixeira.

Para o investigador há um “problema relativo à gramática da participação” que não está ainda “pensado e operacionalizado”, o que não deve esconder “a extraordinária adesão” ao inquérito.

Entre segunda e terça-feira vai decorrer uma reunião da Secretaria do Sínodo dos Bispos para preparar a assembleia extraordinária do episcopado católico, que de 5 a 19 de outubro vai analisar o tema ‘Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização’.

Alfredo Teixeira considera que existe um “impulso reformista” no pontificado que pode valorizar o próprio Sínodo dos Bispos e promover uma “cultura sinodal mais alargada”.

“O termo sinodalidade transcreve o que, num ponto de vista mais neutro, chamaríamos a concertação”, precisa, “a tentativa chegar a lugares de encontro dos diferentes interesses e sensibilidades em relação a um determinado problema”.

“Seria muito interessante que do próprio sínodo saísse um dinamismo que pudesse contagiar as estruturas locais da Igreja sob este impulso da sinodalidade”, prossegue.

Na entrevista às revistas do Jesuítas, divulgadas em Portugal pela ‘Brotéria’ no último mês de setembro, o Papa manifestou a vontade de promover “consultas reais, não formais”.

O pontificado tem sido marcado por sinais de valorização do diálogo e da colaboração entre os bispos e entre eles e o bispo de Roma: na missa que assinalou a solenidade de São Pedro e São Paulo, a 29 de junho, o Papa destacou a necessidade de “seguir o caminho da sinodalidade”, dentro da Igreja Católica.

Segundo Alfredo Teixeira, existe um “efeito Papa Francisco, quer na cena pública quer no terreno eclesial”.

“Há uma imagem diferente, que privilegia a dimensão comunicativa, já não na grande praça de multidão, mas afirmando-se numa relação quase pessoal, que pode subsistir de uma forma um pouco paralela ao que são as estruturas eclesiais”, observa.

Em relação ao tema do próximo Sínodo dos Bispos, o teólogo e antropólogo afirma que é necessário promover reais investimentos pastorais na família.

“A Igreja pode claramente refontalizar-se mais, pensar aquilo que na sua própria história foi o lugar da família nos processos de evangelização, sem se vincular a um determinado modelo, que chamaria ideológico de família”, frisou, sustentando a necessidade de valorizar o “contexto familiar como uma oportunidade de identificação cristã”.

“É necessário passar da ênfase excessiva acerca de uma norma moral para as condutas familiares para uma lógica pastoral”, acrescentou.

PR/OC

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