Um pouco por toda a Europa a vida religiosa é marcada pelos mesmos problemas. A idade média dos religiosos e religiosas que se cifra num escalão bem alto, a escassez de vocações, a pouca atracção de um estilo de vida diferente, entre outros que muitas vezes se procuram encontrar. Tem sido esta a problemática analisada durante esta semana em Fátima, na Assembleia Geral da União das Conferências Europeias dos Superiores e Superioras Maiores (UCESM). Representantes de cerca de 400 mil religiosos e religiosas europeus reflectem sobre o futuro da vida religiosa e a vida espiritual face aos desafios europeus. Entre estes participantes encontram-se testemunhos muito iguais daquilo que é a vida religiosa em diversos países, ou não fossem os mesmos os problemas a enfrentar. Por exemplo, na vizinha Espanha, os desafios debatidos ao longo desta semana, em Fátima, “têm sido vividos com muita intensidade nos últimos tempos”, disse o Presidente da Conferências dos Religiosos Espanhois (Confer) à Agência ECCLESIA. “A escassez de vocações e a idade média dos religiosos” são os principais desafios a enfrentar, salientou o Pe. Alejandro Fernández Barrajón, manifestando ainda a convicção de que “a vida religiosa não depende dos números, nem da juventude, mas da fidelidade”, sublinhou. Segundo este representante dos religiosos e religiosas espanhóis, e ao contrário do que muitas vezes se diz, “a principal dificuldade não está na vivência dos conselhos evangélicos” (votos de pobreza, obediência e castidade), situando a principal questão na necessidade de “encontrar a nossa identidade, hoje, numa sociedade que está em constante mudança”. “A Igreja tem de encontrar o seu lugar na sociedade actual”, frisou. E por isso é necessário “adaptar-nos à situação actual, sendo nós mesmos, sem renunciar aos nossos valores”, acrescentou. Noutra perspectiva da mesma questão, outro dos desafios que a vida religiosa precisa de enfrentar “é aquele de voltar a não ter medo ou seja, de ter coragem de estar no seu lugar, e de testemunhar de modo alegre que somos filhos de Deus”, observou o Pe. Fidenzio Volpi, Secretário Geral da Conferência Italiana de Superiores Maiores (CISM) à Agência ECCLESIA. “Dizia São Francisco: «anuncia com alegria e determinação mas, convicto daquilo que dizes, do que anuncias»”, frisou este franciscano Capuchinho. “Por isso – acrescenta – tenho receio que falte, em nós, um pouco o testemunho da convicção porque temos medo dos conceitos e dos juízos dos outros”, explicou. Perante as dificuldades que se colocam à vida religiosa, o Pe. Fidenzio Volpi diz não se deter sobre aquilo que é negativo porque, considera, “quando nos detemos sobre estes elementos perde-se a alegria de viver”. Manifesta, porém, um olhar positivo destacando que o futuro está em “olhar para os aspectos positivos, acolhê-los e anunciá-los”. Mas o futuro da vida religiosa na Europa, tal como tem vindo a ser debatido esta semana, passa também pela “abertura dos religiosos a um diálogo ecuménico e por um trabalho pela reconciliação, sobretudo nos Balcãs”, destacou à Agência ECCLESIA o Presidente da Conferência dos Religiosos na Alemanha e actual Presidente da UCESM, Pe. August Hülsmann. Confrontados com uma sociedade que está em constante mudança, também os religiosos e religiosas precisam de se adaptar às novas exigências. Mudanças que, “devem acontecer no nosso modo de rezar” disse. “Devemos harmonizar o nosso sentido da vida, o nosso modo de viver a vida religiosa” porque, explicou, “há uma tensão entre o secular e a fidelidade, e esta tensão devemos exprimi-la através da nossa vida religiosa”, concluiu. Enfrentar adversidades Outras tensões que por vezes são passíveis de encontrar tem a ver com o ambiente onde muitos destes religiosos se encontram e desenvolvem a missão a que foram chamados. A Albânia, por exemplo, é um país europeu que durante cerca 50 anos viveu num regime de ditadura comunista. Neste mesmo país a Igreja está presente há pouco mais de 10 anos, e por isso, contou à Agência ECCLESIA o Pe, Giovanni Peragine, “os religiosos hoje ressentem-se desta história”. Há cerca de oito anos na Albânia, como missionário dos Padres Barnabitas, este sacerdote é testemunha das dificuldades “que a Igreja enfrenta para construir comunidades cristãs, tendo em conta que a maioria dos albaneses são muçulmanos e de tradição muçulmana”, lembrou. “Durante muito tempo celebrámos missa na rua, nas escolas onde era autorizado, ou junto ao rio”, relatou ao enumerar algumas das dificuldades que encontrou naquele país. Nos primeiros anos, a Igreja na Albânia contribuiu para a construção de igrejas porque, salientou, “quando chegámos eram poucas as igrejas em pé. O regime tinha destruído as igrejas, e cada forma de religiosidade. Permaneciam apenas os sacerdotes mais velhos que tinham superado as perseguições do regime”, disse. Mas a maior dificuldade, diz, é a de “trazer para fora este povo dos 50 anos de ditadura”. Hoje a Igreja daquele país da Europa de Leste “está a crescer com todas as dificuldades sociais, económicas e culturais ao acordar de tantos anos de comunismo”, concluiu.