Rosa Helena Mendes de Moura, FHIC
É certamente um momento único, particularmente, para esta cidade de Lisboa, onde ela viveu e morreu, onde trabalhou afanosa e dedicadamente por contribuir para um restabelecimento do tecido social, em circunstâncias e numa época tremendamente adversas.
É, portanto, um momento para o qual nos preparamos com aquele enlevo e ansiedade que caracterizam tais acontecimentos.
Antes, porém, de considerar a importância desse evento para a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, por ela fundada, há que interrogar-se sobre a sua importância para a Igreja em Portugal e no mundo.
Os Santos, seja qual for a sua condição ou etnia, são sempre universais e desempenham papel primordial para a construção do Reino de Deus entre nós, os que cremos.
Entre eles não há competição nem concorrência de grau ou de hierarquia, porque é o Amor que norteia as suas vidas e as suas ações.
Sendo assim, a Venerável Maria Clara tem uma palavra a dizer-nos, nos dias de hoje, nas circunstâncias sociais, políticas, económicas e religiosas que estamos vivendo.
Primeiro, neste emaranhado de situações diversas, diz-nos que importa, antes de mais, dar a Deus o primado absoluto em todas as esferas da atividade humana, pois, sem Ele, nada podemos fazer de estável e eficaz, como, aliás, já o afirmava o próprio Senhor.
Segundo, lembra-nos a necessidade urgente de dar prioridade ao amor dos mais necessitados, dos mais frágeis, pondo a seu serviço o que cada um é capaz de dar de si mesmo e dos próprios bens.
Terceiro, convoca-nos a viver em união, a congregar esforços.
Dizia a futura Beata: “Sem união não há paz”. Para a obter, lembra, com o próprio testemunho, que é necessário dispor-se ao perdão, construir fraternidade entre todos, fazer de cada ser humano “a minha gente”.
Com isto, aponta-nos um caminho muito simples, ao alcance de todos, mas, infelizmente, bastante esquecido entre nós. E, exatamente, porque é simples, ela nos estimula a que enveredemos por ele, com urgência, com empenho, a fim de que haja mais vida e mais paz e o mundo se torne mais humano, a casa de todos.
Para a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, a beatificação da Fundadora significa um marco necessário e imprescindível para a continuidade do Instituto e da sua missão.
Aponta a um renascimento interior, a uma tomada mais incisiva de consciência da própria vocação e destino, a uma renovada consagração ao Deus da Misericórdia e da Ternura, a uma entrega mais confiante ao Pai providente e amoroso que sobre todos vela e a todos quer ver felizes no Seu Reino, a um acrescido entusiasmo por “trabalhar na vinha do Senhor”, semeando às mãos cheias o carinho e a consolação que recebemos do mesmo Deus.
Este acontecimento convoca cada Irmã a ser pura e simplesmente irmã de todos, a trabalhar pela transformação da sociedade em que está inserida, a ser nela a presença da misericórdia divina, a iluminar os caminhos da existência sofrida de tantos irmãos e a aconchegar em seus braços e coração as dores e sofrimentos humanos, transformando-os em vida plena pela força do mesmo amor misericordioso.
Lembra-nos que é essa qualidade de amor que nos faz eternos.
Rosa Helena Mendes de Moura, FHIC