Sexta-feira Santa em Jerusalém

Santo Sepulcro atrai as atenções dos fiéis das diversas comunidades cristãs

Milhares de sacerdotes, fiéis e peregrinos participam todos os anos nas celebrações de Sexta-feira Santa, na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, localizada no local em que a tradição afirma que Jesus foi crucificado e sepultado.

Os peregrinos se ajoelharam para beijar a pedra que marca o local em que o corpo de Jesus foi colocado após a crucificação.

A procissão da Via-Sacra, seguindo os passos que Cristo fez nas ruas da Jerusalém antiga, marca o fim do dia.

Santo sepulcro

Na liturgia judaica, a Páscoa era essencialmente um memorial. O recordar da libertação da escravidão do Egipto (Ex. 12, 14). Tem como data o novilúnio da Primavera, ou seja o 14 de Nisan, e prolonga-se por toda a semana. Talvez originada de duas festas antiquíssimas: uma de origem rural, com a oferta dos primeiros frutos da terra (o pão ázimo); outra de origem nómada, em que se sacrificava o cordeiro, como primícias dos rebanhos. Na Páscoa, o povo Judeu celebrava, de modo exultante, a libertação do Egipto, fazendo do Êxodo uma nova criação de Deus, e por isso conferindo à festa um carácter messiânico. Recordando o Êxodo numa perspectiva messiânica, a Páscoa como que interpela o povo para a libertação escatológica, a qual acontecerá no reino de Deus.

Podemos dizer que toda a simbologia da liturgia pascal que se celebrava no Templo encontrará a sua plena realização na nova Páscoa, a Páscoa de Jesus Cristo, tal como no-la apresenta a carta aos Hebreus e muitos dos padres da Igreja. A própria vida de Jesus, especialmente a sua paixão e morte, pode ser interpretada à luz duma grelha de leitura que tem, como núcleo constituinte, a liturgia pascal judaica.

O Santo Sepulcro é, para os cristãos, o lugar mais sagrado de Jerusalém, aquele que concentra as emoções mais secretas do peregrino. Na época de Jesus, este local deveria estar além muralhas da cidade, e num sítio mais alto, porque todos deveriam ver os condenados a penas capitais. Chamava-se Gólgota, deriva do aramaico gulgoleth, que significa lugar do crânio, um pouco pela forma arredondada que é semelhante a um crânio e um pouco pela lenda que afirma: “Adão foi ali sepultado”.

A 15 de Julho de 1099, os cruzados conquistaram a cidade de Jerusalém e acharam a igreja, que tinha sido reconstruída pelo imperador Constantino Monomaco, bela, mas não suficientemente grandiosa para este acontecimento central do cristianismo. Os cruzados empenharam-se e realizaram obras de melhoramento e embelezamento e a nova igreja foi sagrada em 1149.

Durante séculos a igreja sofreu poucas modificações até ao célebre incêndio de 1808. Nesta triste ocasião, o mundo ocidental estava mais preocupado com as batalhas napoleónicas e não prestou atenção aos pedidos de ajuda para a sua reconstrução.

Os monges gregos, rivais antigos dos latinos, aproveitaram-se da ocasião e obtiveram autorização para restaurar a igreja, ficando como árbitros da situação. Infelizmente não se tratou de um restauro, mas um apagar de tudo o que fizesse lembrar o mundo latino. Actualmente o Santo Sepulcro é subdividido entre seis comunidades religiosas: católica, greco-ortodoxa, arménia, copta, síria e abissina.

No topo do Gólgota, ao qual se pode subir por meio duma escada, existem hoje duas capelas: uma católica e outra greco-ortodoxa. Na católica situam-se duas estações da Via-Sacra: “Jesus desnudado e Jesus crucificado”. Na capela greco-ortodoxa está a estação: “Jesus morto na cruz”.

Na parte inferior do altar emerge o cume duma rocha: um sinal de prata indica o lugar onde, provavelmente, foi pregada a cruz. Entre as duas capelas encontramos o Stabat Mater em lembrança da agonia de Maria pela morte do seu filho.

Uma pedra de calcário, com tons rosados, representa para os latinos, o lugar onde, sobre o corpo de Jesus, depois de retirado da cruz, foi espalhada “uma composição de mirra e aloés”.

Uma construção no centro do Anástasis. Através do coro latino, chega-se à edícula, formada por dois ambientes: a capela do anjo e a câmara mortuária, uma pequeníssima câmara “ad arcololium”, que é também a última estação da via dolorosa. Uma laje de mármore branco com quase dois metros de comprimento fecha a rocha originária daquele túmulo. Sobre este estão penduradas 43 lâmpadas de prata: os gregos, latinos e arménios possuem treze cada e os coptas têm quatro.

A Capela de Santa Helena, pertença da comunidade arménia, foi dedicada à mãe de Constantino a qual, através da força da fé, descobriu aqui o túmulo e a cruz de Cristo.

O Túmulo de José de Arimateia é o único lugar do santo Sepulcro que pertence à comunidade abissínia.

A igreja de S. Marcos, que faz parte do convento dos jacobitas, é da comunidade sírio-ortodoxa.

Já a igreja de S. Tiago, o Maior, é pertença da Igreja arménia-ortodoxa. O interior, ricamente adornado, conserva pedras relacionadas com os lugares bíblicos: Sinai, Tabor e Jordão.

A última ceia

A sudoeste da cidade velha, o Monte Sião concentra um dos monumentos mais importantes da fé cristã: desde os tempos mais antigos, dizem que aqui se realizou a Última Ceia, durante a qual foi instituída a Eucaristia.

No século XV, os maometanos conquistaram o Monte Sião e alteraram a Igreja, tornando-a uma mesquita. Durante muitos anos foi proibida a entrada neste lugar aos cristãos e aos hebreus.

Segundo diz a tradição bíblica, nesta sala, situada perto da Igreja da Dormição, durante a Ceia Pascal, Jesus Cristo, instituiu a Eucaristia na presença dos apóstolos quando tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos Seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei: Isto é o meu corpo. Tomou, em seguida, um cálice, deu graças e entregou-lho dizendo: Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue da nova aliança, que vai ser derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt. 26, 28; Mc. 14, 22-24). No entanto, simultaneamente, Jesus Cristo instituiu também o Sacerdócio, pelo que o Evangelista S. Lucas, no passo paralelo referente à Eucaristia, ainda acrescentou: “Fazei isto em minha memória” (Lc. 22, 19).

Pouco tempo depois, “quando chegou o dia de Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram, então, aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios de Espírito Santo” (Act. 2, 1-4).

Devido a todos estes acontecimentos o local passou a ser venerado e julga-se que no segundo século da era cristã, existia ali uma capela que foi depois substituída por um novo templo, desaparecido mais tarde com a invasão dos persas em 614.

Actualmente, na parte inferior do edifício venera-se o túmulo do Rei David e na parte superior, primeiro andar, está a Sala do Cenáculo.

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Agência ECCLESIA

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