Setúbal: «Sinto-me envergonhado e impotente», escreve D. Américo Aguiar, em mensagem sobre situação dos mariscadores na diocese

Cardeal critica «indiferença pelo sofrimento fraterno», mencionando caso de morte e desaparecimento nos últimos dias

Foto: Diocese de Setúbal

Setúbal, 09 abr 2024 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal escreveu hoje uma nota a lamentar a situação dos mariscadores na diocese, na sequência de um desaparecimento e uma morte, neste contexto, no Montijo, criticando a “indiferença pelo sofrimento fraterno”.

“Quero penitenciar-me, meus irmãos. Num destes últimos dias, mais dois irmãos nossos, reduzidos ao nome de ‘mariscadores’, morreram no Tejo. Indostânicos – Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão, Sri Lanka – ou portugueses, não é o que aqui importa. São irmãos nossos, irmãos meus”, refere o cardeal D. Américo Aguiar, em texto enviado à Agência ECCLESIA

A mensagem, refere a Diocese de Setúbal, alarga-se “a todos os que vivem situações de exploração e pobreza, numa altura que coincide com a publicação da declaração ‘Dignitas infinita’, sobre a dignidade humana”.

O cardeal diz sentir-se “incapaz” de se “fazer ouvido” e afirma querer “gritar por eles e com eles”.

“É atividade ilegal, que ciclicamente os media e as autoridades a todos nos lembram e mostram… Estes irmãos sonham construir sonhos, alimentar famílias de longe, muito longe e de perto”, salienta D. Américo Aguiar.

Na nota, o bispo de Setúbal comenta a indiferença de que são alvo os mariscadores e a situação em que se encontram.

“É ilegal, mas todos baixamos a guarda e os olhos… É exploração, mas porventura usufruímos e baixamos os olhos…É o modo de subsistência de muitas famílias, de mulheres, homens e crianças, irmãs e irmãos nossos…”, lamenta.

Na mensagem com o título “A indiferença pelo sofrimento humano”, o bispo de Setúbal segue a questionar: “Que podemos e devemos fazer? Como corresponder às expectativas de todos os envolvidos, quem marisca, quem vende, quem compra? Como fazer bem feito, sem explorar, sem desrespeitar, sem matar?”

Infelizmente não sei responder. Sinto-me envergonhado e impotente todas as vezes que passo a Ponte Vasco da Gama e os vejo ao longe, ali estão a mariscar… Perdoem-me meus irmãos, não sei como vos ajudar…”

D. Américo Aguiar termina a mensagem lembrando que há dias, numa viagem entre Alcochete e o Samouco, passou por muito mariscadores e que os seus rostos ficaram gravados “na memória do coração, aquela que nunca de esquece. Um a um”.

“Agora e aqui, em Fátima, aos pés da Mãe do Céu, recomendo-vos, um por um. Todos, todos, todos”, conclui.

Dois homens mariscadores desapareceram, na noite de sábado, quando estavam a apanhar amêijoa no rio Tejo, junto ao Cais do Seixalinho, em Setúbal.

O corpo de um dos homens foi encontrado no domingo de manhã, mas o segundo mariscador ainda não foi encontrado.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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