No Santuário de Nossa Senhora do Cabo «não houve aparições» mas encontraram «uma imagem muito pequena»
Sesimbra, 24 ago 2021 (Ecclesia) – O padre Francisco Mendes destacou que o Santuário de Nossa Senhora do Cabo, na Diocese de Setúbal, é um lugar a visitar em qualquer altura pelo “muito de silêncio espiritual” e pela natureza, numa visita a este património.
“É um lugar sempre muito de silêncio espiritual, agradável, ventoso mas mesmo assim agradável pelo agreste da natureza mas também na beleza que esse mesmo agreste nos traz. É um lugar a visitar”, disse o sacerdote historiador à Agência ECCLESIA, numa visita ao Santuário do Cabo Espichel.
O padre Francisco Mendes, assinala que a história deste local é “secular, quase milenar”, existe uma “história longa de sacralidade partilhada com muçulmanos, possivelmente, ainda mais antiga com romanos”, e os visitantes, peregrinos e fiéis encontram “uma perspetiva das construções do século XVII e XVIII”, a ermida da memória do século XIV, por exemplo.
Neste contexto, explica que “há lendas” associadas a este lugar onde “não houve aparições” mas encontraram “uma imagem muito pequena”, como em tantos lugares da Península Ibérica.
“Diz a tradição perto do lugar onde está a ermida e que teria sido anunciada em sonhos a um velho de Alcabideche e uma velha da Caparica, margem norte, margem sul, aqueles que tradicionalmente vinham aqui com devoção”, acrescentou no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP 2.
Segundo o historiador, o que sabe para lá da lenda, é que foi encontrada uma “imagem muito antiga, tosca, que há de ser da altura da ocupação muçulmana”, e os cristãos que ali viviam, possivelmente, esconderam-na “para que não fosse destruída”.
A pequena ermida, de “arquitetura popular”, com alguma inspiração muçulmana, é o lugar tradicional onde segundo a lenda se encontrou a imagem e “foi construída para marcar essa memória”.
O santuário mariano na Diocese de Setúbal “chegou a ser o principal santuário da corte”, que ia festejar todos os anos Nossa Senhora do Cabo, “às vezes com o próprio rei”, e a família real “é a grande patrocinadora e dinamizadora” deste lugar, “pelo menos a partir de D. Pedro II”.
Na igreja do santuário pode-se observar o “esplendor do barroco”, “arte e esplendor prévio ao terramoto” que teve algumas sequelas, “nomeadamente no teto que teve de ser refeito em boa parte”, a pintura do teto de Lourenço da Cunha, “feita em perspetiva”, a a talha dourada e os materiais da região, como a rocha da Arrábida e o calcário de Sesimbra.
A música sacra era reservada para a igreja e no espaço envolvente existia uma ‘Casa da Ópera’ onde se fazia “o que a corte apreciava” – D. João V, D. José – e “foram executadas peças musicais e de teatro”, algumas estreias, “peças comuns” que todos podiam assistir.
No santuário destacam-se também as construções laterais, “as alas dos romeiros”, casas construídas pelas paróquias que iam em festa ao Cabo Espichel e Cristina Conceição, técnica do Museu Municipal de Sesimbra, indica que 1366 é “a primeira data documental que remete para as primeiras romarias”.
Segundo a especialista, a Ermida da Memória já estaria construída em 1428 e há registo que seriam “várias as pessoas em romagem da zona saloia” ao Cabo Espichel, mas o primeiro foi instituído dois anos depois, 1430.
Cristina Conceição destaca também que a zona do cabo foi “sempre muito árida”, por isso, a construção da Casa da Água, por iniciativa real, foi “um dos grandes benefícios”, ligada por um aqueduto de 2,5 quilómetros à zona da Azoia.
O culto no Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel encontra-se vivo, através das celebrações dos círios de Azoia, Palmela e Sesimbra, cujas festividades se realizam nos meses de março e abril e agosto e setembro, respetivamente.
Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1950, o santuário consiste num complexo arquitetónico civil e religioso, com tradição devocional e de peregrinação desde o século XIV. O Santuário do Cabo Espichel, inserido no Parque Natural da Arrábida, é também conhecido como Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua. No dia 18 de maio, representantes do Governo, do poder local e o bispo de Setúbal participaram no lançamento do concurso para a concessão dos edifícios do Santuário do Cabo Espichel, um dos 49 imóveis inscritos no Revive, programa conjunto dos Ministérios das Economia, das Finanças, da Defesa e da Cultura, com a colaboração das autarquias locais e a coordenação do Turismo de Portugal. |
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