Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos promoveu iniciativa, nas instalações da Cáritas Diocesana, no Dia Internacional da Pessoa Cigana
Setúbal, 08 abr 2025 (Ecclesia) – O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, encontrou-se hoje com a comunidade cigana do bairro da Bela Vista, em Setúbal, numa iniciativa em que escutou as suas preocupações e afirmou a necessidade de combater desigualdades.
“Todos os momentos são bons para olhar para o que se deve fazer mais, mais igualdade, e combater aquilo que é um flagelo, que são as desigualdades”, afirmou, em declarações à Agência ECCLESIA, no âmbito da iniciativa promovida pela Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, da Conferência Episcopal Portuguesa, no Dia Internacional da Pessoa Cigana.
O chefe de Estado assinalou que atualmente se vive numa época em que são muitos os “preconceitos”, as “desigualdades” e “discriminações” contra migrantes e a comunidade cigana.

“Está a viver-se um tempo em que, fruto daquilo que é a incompreensão e a dificuldade em aceitar a diferença, as guerras, o clima de guerra, a agressividade, tudo isso, até a crise económica e social, a inflação, o desemprego, tudo isso aumenta o medo, aumenta a ideia da não aceitação do diferente”, referiu.
Segundo o presidente da República, “é impossível viver assim, porque ninguém é uma ilha”: “Nós vivemos em conjunto e em conjunto temos de continuar a viver”.
O Centro Social Nossa Senhora da Paz, em Setúbal, acolheu o encontro que começou com um almoço, seguido de uma conversa entre o presidente da República e a comunidade cigana, que expôs as dificuldades que atravessa e o preconceito de que é alvo.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que os discursos de ódio se combatem “construindo a paz, construindo o amor, construindo a inclusão”, criando “condições para mais que estão a ser injustiçados ou discriminados ou tratados de forma desigual, poderem ser tratados de forma mais igual”.
O bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar, foi um dos participantes no encontro, e salientou que hoje se vive um tempo “muito perigoso”, que “é pólvora”, em que “há pessoas de bem e há pessoas más”, ressaltando a necessidade de “maior cuidado e maior atenção”.
“Isto vai pela educação. Ou seja, sermos capazes de criar as melhores condições possíveis para que estas meninas e estes meninos que estão aqui, quando tiverem a nossa idade, falar de problemas da comunidade cigana, seja alguma coisa que já não fez parte da história e da vida delas. Isso é que é o nosso objetivo”, salientou.
Referindo-se ao papel da Igreja, em concreto da Diocese de Setúbal, o cardeal demonstrou disponibilidade para apoiar comunidade cigana: “Nós estamos aqui para ajudar”.
“Somos diferentes, pensamos diferente, temos cultura diferente, temos gastronomia diferente, isso é um enriquecimento. O diferente deve ser entendido como riqueza”, referiu.
Na Diocese de Setúbal, a Cáritas diocesana está junto da comunidade cigana desde a “inserção ao acompanhamento”, explica o presidente do organismo, disponibilizando centro de dia para idosos, apoio escolar, creche e jardim de infância, através do Centro Social Nossa Senhora da Paz.
Sobre as principais dificuldades da comunidade cigana na diocese, Paulo Valente da Cruz destacou a educação, uma vez que famílias não pensam todas da mesma maneira quanto à inserção, dando conta que muitas delas contam com o apoio da Cáritas para iniciar caminho escolar.
“Nós temos um espaço que é propositado para os jovens, para os jovens utilizarem computadores, os jogos, estudarem e temos algumas pessoas de etnia cigana, mas não tantas como gostaríamos, portanto, esse é o grande desafio”, adiantou.
Também presente no encontro esteve o diretor da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, que voltou a demonstrar preocupação com o atraso na renovação e implementação da Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas (ENICC).
“Tudo o que seja, às vezes projetos de cariz social, projetos culturais, não havendo uma estratégia, muitas vezes as associações não são contempladas ou as associações não têm essa possibilidade de fazer candidaturas. E a nós preocupa-nos”, insistiu, acrescentando que, em conversa com Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou ter esperança de, que neste ano jubilar, a ENICC seja uma “realidade”.
Questionado sobre o que mais preocupa neste momento a Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, Hélder Afonso nomeou a “marginalização da comunidade”.
“Nós ouvimos diariamente que os ciganos estão marginalizados, são esquecidos, é certo que há muitos fatores que contribuem para isso, mas a nossa verdadeira preocupação é ajudar nesta integração, é ajudar nesta proximidade com a nossa cultura”, assinalou.
Para o responsável, os mais de cinco séculos de história da etnia “devem ser respeitados, são respeitados pela Igreja Católica e devem ser respeitados também pelas instituições, pelas associações”.
“A nossa preocupação é que os nossos ciganos, a nossa comunidade cigana seja devidamente integrada e tenha os mesmos direitos que qualquer cidadão sem que haja exclusão ou sem que haja esquecimento por parte das entidades”, sublinhou.
D. Joaquim Mendes, vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, organismo da CEP que abrange a Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, marcou presença na iniciativa e frisou que ainda “há ainda um forte preconceito que leva muitas vezes à discriminação, à desconfiança” para com a comunidade cigana.
“Nós procuramos fazer este trabalho de aproximação, de diálogo, de conhecimento da cultura cigana”, explicou, referindo que é importante assinalar Dia Internacional da Pessoa Cigana “para sensibilizar a comunidade para a realidade do povo cigano”.
LJ/OC