Paulo Valente da Cruz assinala aumento do número de pessoas ajudadas, ultrapassando «fronteiras» da diocese, nos últimos anos

Lisboa, 19 out 2025 (ECCLESIA) – O presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal sublinhou a importância da integração plena da comunidade cigana na sociedade portuguesa e alertou para o agravamento das situações de vulnerabilidade social, que afetam já famílias da classe média.
“Não temos noção de que o pobre pode ser um de nós, um dia. E isso pode acontecer muito mais rápido do que as pessoas pensam”, afirmou Paulo Valente da Cruz, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, defendendo uma visão de solidariedade que ultrapasse preconceitos e divisões étnicas.
O responsável considera que o Jubileu dos Ciganos e Itinerantes, promovido este sábado pelo Vaticano, é “um sinal muito importante “para a Igreja e para o país.
“A Cáritas Diocesana de Setúbal não defende a criação de respostas sociais pura e simplesmente dirigidas à comunidade cigana, mas sim a todas as pessoas de todas as nacionalidades e etnias, de forma a integrar de forma transversal e exatamente igual a qualquer outro utente “, indicou.
Paulo Valente da Cruz manifestou “tristeza” com o aumento de discursos políticos contra as comunidades ciganas.
“Quem está mais perto do terreno percebe que este tipo de pessoas têm coisas muito boas e outra realidade na forma de estar na sociedade “, apontou.
O presidente da Cáritas de Setúbal assinalou que a organização católica tem vindo a apoiar famílias de classe média, que enfrentam dificuldades habitacionais.
“Os aumentos de rendas, levam a que haja determinadas famílias da classe média que não conseguem, num determinado momento, pagar uma renda. E nós, Cáritas, tentamos fazer essa prevenção, porque senão a família vai para a rua e as crianças são retiradas à família”, explicou.
No Bairro da Bela Vista, em Setúbal, a Cáritas desenvolve há vários anos um programa de combate à pobreza e de apoio à inclusão, que abrange também a comunidade cigana, rejeitando qualquer política de “guetização”.
“Está tudo inserido dentro da tipologia geral de utentes. Esse é o caminho que devemos defender para a integração ser eficaz”, defende Paulo Valente da Cruz, sublinhando a importância de divulgar “casos de sucesso na etnia cigana”.
Reconhecendo que “a comunidade cigana ainda se autoexclui”, o entrevistado considera essencial “mostrar que há já muita gente inserida e que não se deve desistir”.
A educação é, para a Cáritas, um ponto-chave: “É fundamental que as crianças sejam inseridas mais cedo na escola, porque é aqui que começam as bases”.
Questionados sobre a celebração dos 50 anos da Diocese de Setúbal, que se vão assinalar a 26 de outubro, com uma cerimónia evocativa, o responsável recordou a crise dos anos 80 e 90 do século XX, com o papel de figuras como D. Manuel Martins, primeiro bispo sadino.
Hoje, “fruto dos equipamentos criados, a Igreja responde a todas as camadas sociais” e, em 2024, serviu 165 mil refeições e apoiou 3715 pessoas diariamente.
Este é um número em aumento, face a anos anteriores, situação que preocupa Paulo Valente da Cruz.
O dirigente destacou ainda que a ação da instituição “já não é apenas para a sociedade em Setúbal e que a Cáritas sadina “responde para além das fronteiras da diocese”.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)