Padre Casimiro Henriques abordou presença da espiritualidade na arte, a propósito do jubileu dos artistas na diocese

Setúbal, 26 mar 2025 (Ecclesia) – O padre Casimiro Henriques, diretor da Comissão Diocesana de Arte Sacra de Setúbal, defendeu a importância do diálogo entre o artista e a Igreja para que obras transmitam mensagem de envangelização.
“Para que a arte seja catequética e seja evangelizadora, é muito importante que, desde a encomenda, ela tenha essa preocupação”, afirmou o sacerdote, em entrevista à Diocese de Setúbal, a propósito do jubileu do mundo da arte e da cultura na diocese.
O responsável reforça que para que “uma obra possa ser lida”, precisa antes “de ser bem feita” e, nesse sentido, tem de “ser bem encomendada”, alertando que em muitos casos tal não acontece.
“Muitas das vezes há um divórcio. O encomendante, o dono da obra, não sabe pedir e depois o artista não sabe desenhar, porque também falta depois aqui o acompanhamento. Portanto, o desafio é sempre esse, é o diálogo e depois sabermos perder para a obra ganhar”, referiu.
Sobre a evolução da arte e o diálogo com a fé ao longo dos séculos, o padre Casimiro Henriques considera que na sociedade de produção rápida, se perdeu na Igreja o sentido de beleza.
“O Papa João Paulo II tem uma frase muito bonita que diz que ‘o mundo necessita de beleza para não cair em desespero’. E eu acho que nós na Igreja, na produção artística, nos últimos anos caímos nesse desespero, caímos nesta tentação de querermos as coisas rápido”, apontou.
O diretor da Comissão Diocesana de Arte Sacra de Setúbal observa que atualmente cai-se na tentação de comprar algo sem valor artístico e histórico, no imediato, ao invés de se encomendar algo feito por um artista, que tenha sido concebido para determinada paróquia, tenha em si uma história e guarde uma memória.
“As comunidades perderam o sentido de que a peça artística, aquela alfaia, pode falar de si. Portanto, perdemos este sentido de que a peça traz em si alguma coisa nossa, da nossa história. E isto tem a ver não só com a produção histórica, como, muitas das vezes, como nós tratamos do nosso património”, ressaltou.
Além disso, segundo o padre Casimiro Henriques, falta muito trabalho a nível de consciencialização da comunidade cristã para o “valor histórico do testemunho que as peças que guardam nas suas igrejas trazem em si”.
“Não são só apenas esculturas muito bonitas, é o que aquela escultura me traz, me dá, me oferece, me transmite do passado da minha comunidade, da história da minha comunidade”, destacou na entrevista guiada por Ricardo Perna, diretor de comunicação da Diocese de Setúbal.
A Diocese de Setúbal celebrou na terça-feira o jubileu do mundo da arte, inserido no calendário jubilar diocesano, com uma Missa presidida pelo bispo D. Américo Aguiar, que pediu “condições” para que os artistas possam cumprir a sua vocação, e uma visita ao Tesouro de São Julião, guiada pelo padre Rui Rosmaninho.
O padre Casimiro Henriques fala que a iniciativa foi promovida com o intuito de dizer aos artistas que “a Igreja se preocupa com eles e que a mensagem que a Igreja traz continua a ser válida como proposta para essa dinâmica artística”.
A Diocese de Setúbal comemora este ano, a 16 de julho de 1975, 50 anos de criação, encontrando-se a viver o ano jubilar diocesano, para o qual estão marcadas diversas atividades.
LJ/OC