Fiéis que participarem na Eucaristia, na tarde de 18 de maio e no dia 19, vão ser convidados a responder a boletim com nove perguntas
Setúbal, 14 mai 2024 (Ecclesia) – A Diocese de Setúbal vai promover nas Missas vespertinas do próximo dia 18 de maio e nas celebrações de dia 19 um recenseamento à prática dominical das comunidades, com o objetivo de reconfigurar o mapa territorial e de adequar a resposta pastoral às suas transformações.
“O que o cardeal D. Américo [Aguiar] nos pede é que façamos um esforço por criar uma síntese. Mesmo que seja uma síntese simples, que não seja uma síntese que tenha a pretensão de ser enciclopédica, mas que ajude a ter aqui uma linha cronológica que nós percebamos o que é este território, o que foi este território”, disse à Agência ECCLESIA o presidente da comissão para o novo mapa paroquial da Diocese de Setúbal.
Segundo o padre Francisco Mendes, “a ideia não é fazer ciência nova”, mas “ajudar a fazer uma síntese acessível e compreensível para toda a gente, numa linguagem fácil, que todas as pessoas possam compreender e ter uma noção do que é, afinal, este lugar onde vivem”.
Este é um trabalho que se espera que seja divulgado por ocasião do Jubileu Diocesano, em 2025, e, nesse sentido, a Diocese sadina promove nos próximos sábado e domingo um recenseamento que vai para além da prática dominical.
“Nós quisemos conhecer melhor a nossa população e daí termos acrescentado também questões sobre a origem de onde é que as pessoas vêm, onde é que as pessoas vivem aqui dentro da Diocese e onde é que elas, de facto, vão, qual é o seu local preferencial onde elas vão à missa”, indicou Nélia Vicente, socióloga, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Os fiéis, a partir dos seis anos, que participarem na Eucaristia dominical vão ser convidados a responder ao recenseamento que se apresenta em duas plataformas distintas.
“Vamos socorrer-nos da antiga, o papel, o boletim em papel. Aqui temos um desafio porque antes eram menos perguntas, inicialmente três, depois cinco e agora são nove, portanto estamos a ser criativos em procurar que as pessoas consigam responder através de um papel, tem de ser algo também rápido, porque isto irá ocorrer no final da Eucaristia”, explica Nélia Vicente, que acrescenta que vão também “introduzir as novas tecnologias”.
“Todas as pessoas hoje em dia usam o telemóvel, portanto vamos usar o QR Code por paróquia”, anunciou.
Os dados recolhidos irão revelar, com mais detalhe, as necessidades pastorais onde a Igreja está mais presente e onde a sua resposta não acompanhou o crescimento da população, sendo esta uma leitura que deixa em aberto possíveis reajustes na delimitação territorial das paróquias.
“O objetivo aqui é conseguir definir e delimitar aquilo que atualmente está considerado como paróquia. É um trabalho árduo porque muitos dos decretos são bastante antigos, os topónimos que existem nos decretos já não são os atuais, temos que fazer uma pesquisa histórica, analisar aquela data, o nome daquelas ruas, e não só, mesmo por vezes, os limites de freguesia”, salienta Elsa Mendes, engenheira geógrafa.
A elaboração de um novo mapa territorial das paróquias pretende ser uma forma de dar resposta a uma realidade social e urbana que se tem alterado, já que nos últimos 30 anos, sublinha Elsa Mendes, a margem sul do Tejo “cresceu de forma exponencial”.
“A forma como foram desenhadas as paróquias há 40, 50 anos, não versa hoje com aquilo que é a realidade do território e a deslocação das pessoas. Para além disso, existem inúmeras barreiras físicas de novas vias que foram erigidas, novos bairros que foram construídos e acabam por ser fechados em si próprios e temos que perceber onde é que aquelas pessoas podem deslocar para celebrar a Eucaristia”, destaca.
Nuno Batista da Silva, arquiteto e urbanista, acredita que os limites das paróquias estão “desatualizados” e “desfasados” com a essências das freguesias e concelhos, “há párocos que seguramente não sabem quais são bem os limites da sua paróquia” e, por isso, considera que “faz todo o sentido” a criação de uma “equipa multidisciplinar”.
Para Mário Ávila, geógrafo e diretor municipal de Desenvolvimento Social na Câmara Municipal de Almada, é também importante a igreja saber acolher as diferenças culturais e linguísticas que caracterizam cada vez mais o território.
“Somos uma península de acolhimento de uma quantidade enorme de comunidades migrantes que aqui se fixam, que aqui constroem a sua vida. E a igreja tem também de se adaptar a esta realidade, que muda de forma muito rápida. E por isso nós hoje, este trabalho também vai permitir que a igreja dê essa resposta de acolhimento e de integração, porque só assim é que faz sentido o próprio trabalho da igreja neste território”, realça.
Segundo o padre Francisco Mendes, este “não deixa de ser também um trabalho de apoio à evangelização, à presença e, sobretudo, ao acolhimento, ao acolhimento numa terra que está ainda a crescer e que vai crescer mais”.
“É fundamental que esta dimensão do acolhimento esteja bem presente e que estejamos preparados para isso”, frisou.
A iniciativa está em destaque na emissão do Programa ECCLESIA desta terça-feira, na RTP2.
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