Setúbal: Confissões religiosas assinalaram os 35 anos da APAV e apelaram ao fim da violência e à defesa das vítimas

Santuário do Cristo Rei recebeu encontro inter-religioso no aniversário da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima

Foto: Ricardo Perna/Diocese de Setúbal

Setúbal, 27 jun 2025 (Ecclesia) – O Santuário de Cristo Rei, na Diocese de Setúbal, foi o lugar de encontro de seis confissões religiosas que pediram o fim da violência, no âmbito de um encontro inter-religioso e ecuménico pelas vítimas de crime.

Na sessão no âmbito das celebrações do 35.º aniversário da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), juntaram-se representantes do judaísmo, catolicismo, islamismo, anglicanismo, hinduísmo e budismo.

O presidente da APAV João Lázaro sublinhou a importância da união inter-religiosa num “momento particularmente relevante e simbólico” para a organização, informa a Diocese de Setúbal.

A APAV reconhece e presta o devido respeito ao papel das comunidades religiosas na promoção da paz, na mediação dos conflitos e no acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade”, disse o responsável, realçando que “são muitas vezes a estes espaços das comunidades religiosas que as vítimas de crime vão primeiramente recorrer e pedir ajuda”.

O bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar, alertou para os desafios contemporâneos, estabelecendo uma comparação entre a atual “revolução digital” com a revolução industrial de há um século.

“Nunca seja a justificação para fazer sofrer o outro, nunca seja a justificação para pôr em causa a dignidade da pessoa humana”, salientou, prestando homenagem às vítimas que “não tiveram a graça de encontrarem um interlocutor que as acolhesse, que as entendesse e que lhes devolvesse a dignidade”.

O cardeal agradeceu pelo trabalho de tantos profissionais e técnicos, bem como a criação de “relações de confiança” para que a vítima ultrapasse aquele momento conturbado.

Por sua vez, Isaac Assor, representante da comunidade judaica, trouxe a perspetiva bíblica ao encontro, citando a Torah: “Não oprimirás o estrangeiro, pois conheces o coração do estrangeiro, porque fostes estrangeiro na terra do Egito”.

O responsável destacou o conceito de “tikkun olam” (reparar o mundo) como “uma responsabilidade ativa na luta contra a injustiça e o sofrimento humano”.

A representar a comunidade muçulmana esteve Muhammad Ibrahim, que partilhou ensinamentos do profeta Maomé, lembrando que “entre as melhores ações está aliviar o sofrimento do outro”.

Citando o Alcorão, o porta-voz da comunidade sublinhou que “quem salva uma vida é como se tivesse salvo toda a humanidade”, alertando para as estatísticas preocupantes da APAV que mostram que “mais de 80% das vítimas apoiadas foram mulheres”.

Também a pastora Ilma Oliveira Rios, da Igreja Lusitana, esteve presente no encontro, elogiando o trabalho da APAV ao longo destas “três décadas e meia”, destacando a importância de “criar um espaço” de acolhimento para quem sofre violência doméstica.

Já Eurica Reis da Luz, da comunidade hindu, trouxe os princípios do “Ainsa” (não violência) e “Seva” (serviço desinteressado), referindo que “a dor de uma vítima não é apenas uma questão individual, é uma ferida aberta na própria consciência da sociedade”.

Da União Budista Portuguesa, Fernando Santos partilhou uma experiência pessoal acerca de uma criança de 12 anos que foi ajudada pela APAV após anos de abuso sexual, demonstrando o impacto prático do trabalho da associação.

A presidente da Câmara Municipal de Almada, Maria Inês de Medeiros, foia responsável por encerrar as intervenções, destacando o papel do Estado laico que “acolhe, recebe e respeita todas as religiões”.

O encontro concluiu com cada uma das religiões presentes a realizar a plantação de palmeiras, materializando o compromisso conjunto de todas as confissões na luta pela dignidade humana e no apoio às vítimas de violência.

LJ/PR

Partilhar:
Scroll to Top