Setúbal: Bispo diz que «falso respeito» pela esfera privada e desresponsabilização são desculpas para o «egoísmo»

D. Gilberto Reis determina que a maior parte da renúncia quaresmal vai para a Associação Vale de Acór

Setúbal, 01 mar 2012 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal considera que o pretexto da salvaguarda da privacidade alheia e a recusa de colaborar na resolução das dificuldades dos mais carenciados, remetendo essa responsabilidade para outros, são reveladoras de “egoísmo”.

“O egoísmo faz-nos ignorar o outro insinuando falso respeito pela ‘sua esfera privada’”, prevalecendo “a ideia errada de que a sociedade cuidará dele”, frisa D. Gilberto Reis na mensagem para a Quaresma, onde também critica o argumento da “falta de tempo” usado para declinar o cuidado pelo próximo.

O membro do Conselho Permanente do episcopado pede especial atenção às pessoas que vivem abandonadas sem que os vizinhos saibam se estão de saúde ou precisam de ajuda, bem como a quem está desalentado e por isso equaciona pôr termo à vida.

Em 2011 “foram encontradas mortas na sua casa muitas centenas de pessoas”, assinala o prelado, que menciona o “desânimo mortal” causador de suicídio entre a população ativa, incluindo jovens.

A mensagem lembra também as pessoas “que vivem em carência material grave com pensões insuficientes ou desempregadas e que, entre outros perigos, estão expostas a perder a justa e necessária autoestima”.

“É fácil esquecer que o outro é nosso irmão e que está tão ligado a nós que, esquecendo-o, nos estamos a destruir a nós mesmos”, refere o responsável, que sublinha a necessidade de “vencer o perigo dum coração endurecido e surdo”.

O texto do bispo setubalense incide sobre a mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma, intitulada “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”.

D. Gilberto Reis acentua que “prestar atenção uns ao outros é um caminho – longo e difícil mas belo” e salienta que “um exercício para emagrecer o egoísmo e engordar o amor é a Renúncia Quaresmal”.

O prelado espera que o resultado desta prática, em que os fiéis abdicam da compra de bens adquiridos habitualmente noutras épocas do ano, reservando o dinheiro para finalidades especificadas pelo bispo, ultrapasse a de 2011 em “amor e numerário”.

O dinheiro da Renúncia vai maioritariamente para a associação católica Vale de Acór, dedicada à recuperação de toxicodependentes, “que tem, nesta altura, os subsídios do Governo muitíssimo diminuídos”.

O dinheiro restante, 10 por cento do total, é dirigido para o fundo diocesano de ação social e caritativa, que na Quaresma de 2011 foi o destinatário principal da renúncia dos fiéis, tendo obtido 32 400 euros.

Dos 41 400 euros recolhidos pelas ofertas dos fiéis da diocese, nove mil foram canalizados para uma obra social em Moçambique, informa a mensagem, que acentua igualmente a necessidade de sustentar o “bem espiritual” do próximo.

A Quaresma, que este ano começou a 22 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, é um período de 40 dias, excetuando os domingos, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que servem de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão, que este ano ocorre a 8 de abril.

RJM

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