EDP desligou «baixadas ilegais» e deixa 60 famílias às escuras
Setúbal, 15 set 2011 (Ecclesia) – O pároco de Nossa Senhora da Conceição, em Setúbal, pediu hoje uma “ação concertada” entre as forças políticas e sociais para resolver o problema das famílias que vivem em bairros clandestinos na região.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre Constantino Alves frisa que “as pessoas vivem naquelas condições porque não tem havido o enquadramento necessário para solucionar o problema de fundo, neste caso, o realojamento”.
“Algumas viviam em apartamentos mas devido ao desemprego, os orçamentos familiares não podiam comportar o pagamento de uma renda, outras transferiram-se para esses bairros por opção, para pouparem o suficiente para os filhos poderem estudar”, realça.
Esta situação, que envolve sobretudo imigrantes vindos de Angola e Cabo Verde, arrasta-se há vários anos e a autarquia de Setúbal não tem conseguido dar uma resposta adequada.
De acordo com o sacerdote, “como a autarquia não tem construído mais habitação social e já tem cerca de 1500 pedidos de famílias em espera para alojamento, as pessoas tiveram de se instalar onde podiam”.
O problema ganhou contornos ainda maiores esta quarta-feira, depois de elementos da EDP se terem deslocado aos bairros clandestinos da “Quinta da Parvoíce” e da antiga “Mecânica Setubalense”, na companhia das forças de segurança, para cortarem a energia elétrica a cerca de 60 famílias.
Segundo uma fonte policial, em declarações à agência Lusa, a intervenção teve lugar depois das pessoas terem feito “baixadas ilegais” de energia, situação que “coloca em risco os próprios moradores”.
Por sua vez, a EDP adiantou que recorreu às entidades policiais “por motivos de segurança dos funcionários”.
O padre Constantino Alves admite que a ação dos habitantes dos bairros foi “ilegítima”, apesar de “não terem outro meio de acesso ao fornecimento de electricidade”.
“Agora nada justifica a humilhação da EDP ter entrado lá como se de criminosos se tratassem, com um forte contingente policial de armas em punho, quando não havia dado nenhum que apontasse para a possibilidade de violência”, acrescenta.
Aquele responsável lamenta ainda que “se tenha criado mais um problema social sem nenhuma preocupação em ver o que é que vai acontecer às pessoas”, que apesar de tudo integram “famílias estruturadas” e comunidades com “grande organização interna”.
Depois de ter dado conhecimento desta questão aos elementos da Caritas paroquial, ao Conselho Pastoral e à Comissão Episcopal da Pastoral Social, o sacerdote já fez uma proposta à autarquia e à Segurança Social de Setúbal, proprietárias dos terrenos onde se situam os dois bairros clandestinos.
Espera “que a câmara, enquanto entidade gestora, faça um contrato com a EDP para que depois os moradores que queiram ter acesso à eletricidade instalem um contador nas suas casas e paguem a fatura correspondente”.
Para que as famílias em dificuldades (mais de 200 pessoas) “saibam que não estão sozinhas”, o padre Constantino Alves vai também “colocar o problema à comunidade cristã de Nossa Senhora da Conceição”.
JCP