Setor Social: «Portugal vive numa situação complicada», afirma presidente da União das Misericórdias

14º Congresso Nacional das Misericórdias terminou com intervenção António Costa que afirmou que querem «trabalhar de forma aberta, com confiança mútua»

Lisboa, 03 jul 2023 (Ecclesia) – O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) disse hoje à Agência ECCLESIA que quiseram sublinhar a “ideia importante” da “permanente disponibilidade para servir” e ao Estado Português para “olhar para as políticas sociais”, no 14º congresso nacional.

“Portugal vive numa situação social complicada, o Estado tem tentado fazer muita coisa, durante a pandemia foi evidente essa parceira, mas, agora, as Misericórdias sentiram necessidade, 25 anos depois do último congresso em Lisboa, vir à capital do país dizer contem com as Misericórdias mas assumam a vossa responsabilidade”, explicou Manuel Lemos.

A União das Misericórdias Portuguesas encerrou este sábado o 14º Congresso Nacional das Misericórdias, com o tema ‘Valorizar o passado, Viver o presente, Projetar o Futuro’, que decorreu na Ordem dos Contabilistas Certificados, em Lisboa.

O presidente da UMP disse que com este congresso quiseram dizer ao “Estado Português, não é ao Governo, que tem que olhar para as políticas sociais que ele próprio cria”, porque, “seria muito fácil mas é inaceitável”, pensar que se pode fazer uma política social e entregar “a outro responsabilidade de o fazer e não lhe pagamos para o fazer”.

“Se amanhã aparecer um político qualquer, um Estado qualquer a dizer como é que vai acontecer, a probabilidade de falhar é enorme porque nós Misericórdias, centros sociais, IPSS, fundações, cooperativas, mutualidades é que sabemos como é que se ajuda”, assinalou.

60% dos internamentos que não abandonam os hospitais são casos sociais, e para Manuel Lemos “está a falhar mais uma vez o planeamento dos portugueses” que pensam “a quatro anos, cinco anos” e não num período maior, como a 30 anos.

“Em nome da União das Misericórdias, e meu como investigador e estudioso desta matéria, ando há mais de 15 anos a dizer que estamos perante um tsunami social que é o envelhecimento em Portugal. Estamos aqui a assistir ao tsunami na praia, a onda a levar tudo, e também está a levar as pessoas que foram para os hospitais e não têm para onde ir e precisamos de nos sentarmos todos”, desenvolveu.

O primeiro-ministro português encerrou os trabalhos do congresso, na manhã deste sábado, que contou com a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que agradeceu o esforço das Misericórdias Portugueses durante a pandemia, na sessão de abertura, na quinta-feira, 1 de junho.

António Costa destacou o contributo das Misericórdias para a população em termos de respostas sociais, destacou a sua importância na pandemia Covid-19, realçando que pretendemos continuar a “trabalhar de forma aberta, com confiança mútua para conseguirmos encontrar e desenhar uma trajetória para conseguir um cofinanciamento equitativo”.

O primeiro-ministro de Portugal destacou, por exemplo, que as creches e os Cuidados Continuados Integrados são duas dimensões onde o Setor Social Solidário, designadamente as Misericórdias é “absolutamente fundamental”.

“O acordo que temos, e aquilo que resulta do pacto, é que estas são duas áreas onde o Estado confia ao setor social e solidário as respostas necessárias à sociedade e, por isso, se compromete a cofinanciar de uma forma equitativa esse esforço”, disse António Costa, na sessão transmitida online.

O bispo D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, salientou que as Santas Casas da Misericórdia têm “uma história grande, longa, de dedicação, de organização, de resposta social, e hoje é na sociedade uma resposta fundamental”.

“Nós acompanhamos com todo o interesse e desejamos muito que as Santas Casas tenham assegurado da parte do Estado o apoio para serem resposta nos mais diversos pontos do nosso país, porque está em todo o território e interessa-nos muito que essa resposta funcione e funcione bem; as Santas Casas que são uma resposta do melhor que a sociedade tem para responder aos problemas”, desenvolveu o bispo de Santarém à Agência ECCLESIA.

O responsável pelo setor da Pastoral Social, da Igreja Católica em Portugal, afirmou que há capacidade no país para responder aos problemas, “desde que tenham o apoio económico para o fazer”, e espera que as Misericórdias “tenham o futuro assegurado para bem da sociedade portuguesa”.

Neste último dia do 14º Congresso Nacional das Misericórdias debateram também os desafios para o futuro das Misericórdias, “na perspetiva dos jovens provedores”.

Segundo a provedora da Misericórdia de Machico, na Madeira, em declarações à Agência ECCLESIA, esse painel “quis mostrar um novo entusiasmo, uma vontade”, porque é preciso mostrar que estão “disponíveis e, às vezes, são os mais novos que são mais entusiastas”.

“As Misericórdias vão-se renovar automaticamente até porque temos cada vez mais pessoas licenciadas, mais participativas. A verdade é que fazer voluntariado ainda é difícil porque temos os nossos compromissos pessoais, e profissionais, e as Misericórdias têm uma complexidade em termos administrativos e financeiros muito grandes”, referiu Nélia Martins, indicando que se estas instituições alertam para as “dificuldades” é para as “resolver”.

O presidente da União das Misericórdias Portuguesas assinalou também que com este congresso nacional quiseram sublinhar a “ideia importante” da “permanente disponibilidade para servir” e que o fazem “em nome dos princípios, dos valores”.

“A atividade das Misericórdias tem muito a ver com o lema da Jornada Mundial da Juventude [ndr. JMJ Lisboa 2023] ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’ porque isso dá ideia de serviço”, explicou Manuel Lemos.

A União das Misericórdias Portuguesas foi criada em 1976 para orientar, coordenar, dinamizar e representar as Santas Casas de Misericórdia, defendendo os seus interesses e organizando serviços de interesse comum.

Em todo o território português existem atualmente 388 Misericórdias, algumas com mais de 500 anos de existência. Apoiando diariamente mais de 165 mil pessoas em todo o país em áreas sociais estratégicas, como a educação, saúde, inclusão socioprofissional, as Misericórdias detêm 23 hospitais e 117 unidades de cuidados continuados.

HM/CB

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