“Ser peregrino da esperança…sempre a andar…”

Catarina António, Fundação Fé e Cooperação

Escrevo esta partilha no fim de tarde de domingo, dia 5 de outubro, na Praça de S. Pedro em Roma, imersa no silêncio no meio da multidão, de olhos postos na escultura “Angels Unawares” (Anjos desprevenidos), que nos transporta para a realidade de tantos e tantas migrantes e refugiados(as) através dos ensinamentos do Papa Francisco. Uma obra fortíssima a que ninguém fica indiferente e que faz com que todas as palavras se calem, ficando apenas e só o silêncio e a oração.

No fim-de-semana de 4 e 5 de outubro celebrou-se o Jubileu do Mundo Missionário. Da FEC – Fundação Fé e Cooperação –, veio uma comitiva composta por membros das equipas dos quatro países onde trabalhamos (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Portugal), um membro do Conselho de Administração e o nosso Assistente Espiritual. Viemos como peregrinos, peregrinos da esperança, celebrando também os 35 anos da nossa fundação. Durante quatro dias, vivemos a experiência de peregrinar, de dentro para fora, enquanto pessoas singulares (cada um/a com o que trazia no seu coração) e enquanto equipa refletindo sobre aquilo que cada um/a significa na missão da organização que nos congrega.

Neste caminho, inquietou-me uma questão muito concreta: a pressa com que nos impeliam a peregrinar, os constantes apelos para andarmos sempre que queríamos parar para rezar, as palavras (por vezes menos simpáticas) daqueles que eram os símbolos do acolhimento. Inquietou-me bastante estes gestos que apressam a oração, num local que deveria ser de tempo, de nos dar tempo…. Principalmente nas passagens das portas Santas…E ficou a questão: estaremos nós, cristãos, a viver da forma mais indicada a resposta ao apelo de ser, de parar e de rezar? Ou estaremos já a ser engolidos pelos apelos do mundo, em viver tudo apressadamente? Fica a questão…

Dois dos momentos mais fortes desta peregrinação foram a proximidade com o nosso querido Papa Leão XIV e o “encontro” com o túmulo do nosso querido Papa Francisco. Em ambos os momentos, as vozes altas e efusivas foram substituídas pelo silêncio profundo e as gargalhadas foram transformadas em lágrimas de emoção. Encontrarmo-nos com o nosso novo Pastor, o Papa Leão, ver a ternura com que segura e abraça cada criança que lhe é colocada no colo, e ver o sorriso com que cumprimenta todos ao longo da sua caminhada, dá-nos a certeza de que somos todos uma grande família. E visitarmos o túmulo do nosso querido Papa Francisco, agradecer-lhe por tudo e por tanto o que nos ensinou, sabendo que ali repousa agora o seu corpo, mas que os seus ensinamentos viverão para sempre, é uma sensação indescritível em palavras, apenas as lágrimas conseguiram transpor o que nos ia no coração…E isso, isso diz muito mais do que mil frases eloquentes…

Regressamos ao dia-a-dia, ao trabalho, aos projetos, aos indicadores, às candidaturas e aos relatórios, com um sentimento renovado de promover a dignidade humana em todas as suas dimensões, com todas as suas inquietações e exigências. Regressamos mais unidos enquanto equipa, regressamos mais renovados enquanto organização. Regressamos, mas continuamos a querer ser cada dia mais “peregrinos da esperança”, a querer em cada dia conseguir ser mais com o outro, para o outro, pelo outro. Regressamos ainda mais com a certeza de que somos FEC, estejamos nós em que geografia estivermos.

Catarina António

FEC | Fundação Fé e Cooperação

 

Em Parceria com a Missão PRESS (mensalmente no dia 24) 

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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