O desafio é conhecido há muito:” Senhor dá-me a coragem e a força para mudar o que posso, paciência para suportar o que não consigo alterar e sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.
Não é, obviamente, uma proposta fácil, mas esta pequena oração resolve e solta muita da angústia, do peso e do fardo de quem, por estes dias, gere uma empresa e se apresenta como cristão.
E acrescento uma outra reflexão de um escritor célebre sobre o que mudaria na sua vida (tinha 80 anos): “só lamento as horas que perdi a pensar em cenários dramáticos que, afinal, nunca aconteceram”.
Servem estas ideias para concluir que a tranquilidade e a paz com que enfrentamos os problemas não são garantia da solução, mas são seguramente condição necessária.
Naturalmente que esta atitude não significa ligeireza, indiferença ou inconsciência quanto ao momento crítico que as empresas atravessam.
Pelo contrário. O que nestes dias, penosos e tensos, mais se precisa é lucidez, determinação e verdade. O que não compensa, porque é uma falsa solução, é não encarar o problema da empresa de frente, sem subterfúgios nem falsas projecções, acreditando em vendas que não chegarão, nem créditos que nunca serão concedidos.
Há um pragmatismo que nesta fase é exigido, que pressupõe escolhas, capacidade decisória e acção. Mas que arrasta consigo a consequência de ter de cortar com práticas antigas, que implica necessariamente dor e incompreensão.
Talvez valha a pena pensar que da mesma maneira que um Santo é um pecador que não desiste da santidade, qualquer gestor e empresário terá a sua quota- parte de erros, de má avaliação, de excesso de optimismo de imprudência. Assumir a culpa, aprender com o erro e não o repetir deve estar no DNA de qualquer cristão.
Uma segunda linha de reflexão é mais difícil de interiorizar: da mesma forma que nenhum homem é uma ilha, também a empresa está inserida numa comunidade, num círculo de fornecedores, numa rede de dependências mútuas. Cumprir com o combinado, respeitar as regras acertadas é o mínimo exigível. A rapidez com que sairemos da crise depende, em parte não desprezível, da consciência dos empresários e gestores que há um desígnio nacional e um bem maior a preservar que pede a contribuição de todos.
Como aliás é obrigatório ponderar no facto que situações excepcionais pedem soluções extraordinárias. A doutrina Social da Igreja há muito que reflecte sobre a distribuição justa do lucro da empresa. Mas no caso em concreto, com o país mergulhado em crise, este princípio orientador ganha maior força. A contenção na distribuição do lucro (a haver), e a sua distribuição deve seguir uma prática solidária e assumir uma discriminação que, eventualmente, em situação diferente poderia ser ignorada.
A mesma solidariedade, e bom senso, são exigíveis, mais do que nunca, na preservação de postos de trabalho. E aqui o critério não pode ser o habitual e que resulta dos compêndios de gestão. Nem todos os trabalhadores têm a mesma condição familiar, os encargos são desiguais e a capacidade de encontrar colocação substituta difere muito.
Finalmente uma ideia, que afinal não é mais do que uma proposta. Utilizando uma frase já célebre que “cada homem é o que é mais a sua circunstância”, esta fase da vida nacional é uma oportunidade de cada um, que se afirma cristão, de mostrar de que barro é feito.
Um exemplo valerá mais que mil palavras, e este é o tempo de liderar, de mostrar com obra feita, que ser cristão na empresa faz a diferença e que é partilhando a dor, o sofrimento e a angústia que cada um dá prova naquilo em que acredita.
O Padre Cruz dizia, com acerto: “coitados dos pobres se não fossem os pobres”. Resta a cada um, no pequeno ou grande universo que gere, que tente, por esta vez, não dar razão ao Padre Cruz.
Pedro Vassalo
Gestor